·Duas Palavras
·Divagações
·José Chevalier – o precursor do Escotismo no Amazonas
·A LEGIÃO AMAZONENE DE ESCOTEIROS e a divulgação do Escotismo
·Síntese biográfica dos patronos de Grupos Escoteiros
·Depoimento
“goza da mocidade; ela foge em rápida carreira”. Senca
o que realizarmos nunca é tão belo como o que sonhamos”.
Olabo Bilac.
DUAS PALAVRAS
Este trabalho, que não tem a pretensão de contar a História do Escotismo no Amazonas, mas sim de contribuir para este fim, foi realizado especialmente para a XXIX Reunião do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, em nossa terra, e objetiva dar a conhecer, a nossos escoteiros e à família escoteira de modo geral, os passos seguidos pelo Movimento a que se incorporaram homens de valor e jovens de futuro, sempre com alegria e entusiasmo.
O enfoque inicial sobre o surgimento do Escotismo na Inglaterra e a sua introdução no Brasil foi feito para situar a origem de toda a pesquisa que, na verdade, está naquele já histórico momento para a humanidade.
Desenvolvido com recursos bibliográficos locais, e fruto muito mais da vivência no Escotismo que de uma pesquisa histórica planificada e determinada, esta contribuição tem sentido didático, porque esta foi a nossa maior preocupação ao escrevê-la, e visa, sobretudo, familiarizar todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o Movimento Escoteiro no Amazonas com as origens, finalidades e patronos deste mesmo escotismo, numa fixação de épocas e fatos, numa revivescência da memória histórica e tradicional do Escotismo aqui promovido.
O enfoque final é a tradução das nossas experiências e aprendizado escoteiro, além da expressão sentimental de nossa vida no movimento que, já alcançando 15 anos, não poderia se contada no seu todo em algumas linhas ou páginas, mas que aqui tem rascunho inicial do que no futuro há de se constituir na história da nossa juventude, que será também a de muitos companheiros de geração.
Eis a gota transformada em duas palavras para trabalhos futuros de muitas palavras e profundo sentido histórico. Este deve apenas animar a quem se interesse pelo assunto.
Manaus, abril de 1978
O autor.
DIVAGAÇÕES
Para aproveitar a oportunidade deste trabalho interessante apresentar algumas informações sobre o Escotismo de modo geral, na tentativa de vulgarizar a altura de todos os bolsos, alguns dados sobre a história do Movimento de B. P. sua introdução e desenvolvimento no Brasil, haja visto que os informes mais completos, até agora divulgados, ou estão em obras com edição já esgotada ou se acham compelidas na Enciclopédia Mirador Internacional que está ausente da maioria dos lares da população brasileira e em especial da família escoteira, muito mais no norte e nordeste do país.
Etimologicamente há referências ao termo Escotismo, desde o ano de 1644, mas no sentido hoje usualmente empregado “exercício das praticas do escotismo”, surge em 1908 em texto do próprio fundador do movimento, Lord Baden Powell. De forma geral já vinha sendo usado como “andar à cata de informações”, desde o século XIV, com base no substantivo inglês “scout”. No Brasil a expressão inglesa passou a ser adotada em 1910 com o substantivo português escoteiro, do século XVI que na definição inicial, de autoria do grande Moraes Silva, desde 1813, “é o que viaja sem alforje e à ligeira, pelo que vai comer e agasalhar-se por seu escote sem estalagens, e a pasto”, reafirmado na 7ª edição de seu famoso Dicionário, página 702, abril de 1877 edição de seu Germano de Souza Neves, Lisboa, Tomo I.
A expressão Escotismo, entre nós, modelada à base de escoteiro, tornou-se usual a partir de 1918, sem envolvimento com a designação dada em terminologia filosófica.
Baden Powell, nascido inglês, fez-se cidadão do mundo com o movimento de formação e aprimoramento de caracteres que lançou para todos os povos em 1907, cujas bases tornaram-se públicas no ano seguinte através da publicação da obra “Escotismo para Rapazes”. O Movimento que se iniciava foi, como todos os eventos da época, altamente incentivado pela segunda Revolução Industrial e seus inúmeros problemas sociais, quando já aí os problemas de crescimento das cidades afugentavam os homens para os campos, o encontro direto com a natureza, com suas belezas naturais e seus fascínios fantásticos… surgido numa época de grandes definições para a humanidade, quando a ciência pedagógica começava a se definir como ciência propriamente dita e as crianças passavam a ser objeto de preocupação formal dos grandes mestres, o Escotismo, embora lançado ao conhecimento do mundo neste ano de 1908, já existia nas experiências educacionais e militares do seu fundador…
A origem do movimento escoteiro está, na realidade, como nos é ensinado desde o primeiro passo nesta escola de civismo, no famoso cerco de Mafeking, em 1899, quando em plena guerra colonial inglesa, Baden Powell no exercício de função militar necessita usar serviços complementares através de rapazes da própria cidade. É verdade que a divulgação de seu livro para militares, “Ajudas para a exploração” motivou em muito os jovens de sua época, causando um despertar de consciência para a nova prática de vida e novos métodos de ação.
Em 1907 para por em prática seus métodos de educação, inovadores e revolucionários até hoje, organizou um acampamento com 20 meninos, na ilha de Bronwsea ao sul da Inglaterra, sendo este o marco efetivamente inicial do Movimento em todo o mundo, ao fim do qual passou a publicar suas observações minuciosamente anotadas, explodindo com um movimento que avançaria não só fronteiras geográficas como políticas, de raça, credo e se firmaria por todos os tempos.
Cresceu a idéia, aplicaram-se as técnicas e surgiram os escoteiros do mar em 1909, os pioneiros em 1913 e os lobinhos em 1916, e já em 1909, como conseqüência da explosão do Movimento Baden Powell saiu das fileiras militares para se dedicar por inteiro ao Escotismo que já apaixonava meninos, jovens e adultos de todas as idades.
Introduzido no Brasil por suboficiais do encouraçado Minas Gerais, em 1910, o Escotismo alcançou de logo ampla ressonância com a fundação no Rio de Janeiro, do Centro de “Boyscouts”, quando por estes lado do mundo somente o Chile já havia sediado o Movimento. Em 1914 é criada em São Paulo a Associação Brasileira de Escoteiros que intensifica a propagação do Escotismo por todos os Estados conseguindo a seguir, que a Prefeitura do então Distrito Federal introduzisse o Escotismo nas escolas públicas. Neste movimento de propagação temos que referir Jerônimo Mesquita e Mário Cardim que, impulsionados pelos espírito cívico de Olavo Bilac, então empenhado em campanhas cívico-culturais pelo país, foram os principais responsáveis pela divulgação ampla do movimento de “boyscouts”.
Já em 1913 havia sido fundada a Associação Brasileira de Escoteiros do Mar, por iniciativa do Almirante Benjamin Sodré, Gabril Skinner e Gelmirez Mello, sendo depois lançada a modalidade de escotismo do ar atuação dinâmica do Brigadeiro Godofredo Vidal.
Em 1917, por Decreto de 11 de julho, o movimento foi declarado de utilidade pública, recebendo em 1918 a sua primeira grande missão social, a atuação na crise de gripe que se alastrou no Brasil, atuação que valeu condecoração para 25 Escoteiros, através da Liga da Defesa Nacional.
Em 1922, ano do Centenário da Independência do Brasil deu-se a consagração do Escotismo no Brasil, com a realização do I Ajuri Escoteiro Nacional e do 1º Congresso Nacional de Escoteiros, concentração promovida em São Paulo e que contou com a efetiva participação de mais de 10.000 escoteiros.
Em 1923 o Chile ofereceu ao Brasil um monumento escoteiro que foi colocado na Praia do Flamengo, na então capital da República, e em 1924 fundou-se a União dos Escoteiros do Brasil com a fusão das diversas Associações e Federações então existentes e que foi reconhecida como de utilidade pública quatro anos depois, para em 1946 ser reconhecida como instituição à educação extra-escolar, e já em 1929 uma delegação brasileira composta de 53 escoteiros e 7 chefes participou do Jamboree Mundial, na Inglaterra.
Sobre a propagação do Escotismo pelos Estados brasileiros, quando tratamos da vida de precursor do Escotismo em nosso Estado, Professor José Chevalier, fizemos uma revelação do não menos ilustre Professor Agnello Bittencourt, dando conta de ter sido organizado no Amazonas, o 2º Grupo Escoteiro do Brasil, e o 1º Grupo instalado em um Estado Federado, dando notícia de nosso pioneirismo. Estamos entre os Estados que se filiaram à Associação Brasileira de Escoteiros, com sede em São Paulo, que foram Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pará, Bahia, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina, todos atendendo a conclamação da Liga da Defesa Nacional, como se vê no Diário Oficial do Estado do Amazonas de 8 de julho de 1917.
José Chevalier
O precursor do Escotismo no Amazonas
JOSÉ CHEVALIER CARNEIRO DE ALMEIDA,
alagoano, introdutor do Escotismo no Amazonas.
(foto cedida por Raimundo dos Santos)
O precursor do Escotismo no Amazonas, Professor José Chevalier Carneiro de Almeida, que segundo declara o ilustre mestre Agnello Bittencourt, organizou o 2º Grupo de Escoteiros do Brasil, em nossa cidade, e o primeiro grupo estadual pois o grupo padrão foi instalado no antigo Distrito Federal, do qual era comandante o “Velho Lobo”, tem uma vasta biografia pelos inúmeros serviços prestados ao povo do Amazonas, especialmente na área da educação, vai receber neste trabalho uma síntese de sua vida o obra para que todos possam conhecer o dinamismo e o senso sócio-educacional do ilustre professor alagoano.
Natural da cidade de Penedo, das Alagoas, nasceu em 5 de setembro de 1882 e faleceu no Rio de Janeiro em 1938. Era filho de Manuel Carneiro de Almeida e Dona Amélia Chevalier, viúva de Pierre de Chevalier, emigrado francês talvez em razão das guerras napoleônicas, cabendo a esta família o privilégio da fundação do Teatro Estadual em Maceió.
Após concluir seu curso primário, por indicação de sua mãe, José Chevalier começou a se interessar pelo Amazonas e levado pela aspiração quase geral no país, de conhecer esta região, aqui chegou no raiar do século. Começou a lecionar à moda de Sócrates, só que em residências particulares, sendo mestre de Zulmira, Elisa e Judith, filhas do abastado comerciante Ulysses Ochôa dentre outros jovens. A primeira tornou-se mestra de várias gerações e primeira esposa do Professor Agnello Bittencourt.
Como resultado de seu ensino volante angariou vários alunos e resolveu adquirir o Instituto Universitário Amazonense, estabelecimento bem situado, no centro da cidade e completamente aparelhado. O prédio localizado na esquina das ruas Dr. Moreira e Quintino Bocaiúva, atual Pensão Garrido, que por 18 anos foi residência do Dr. João Barbosa Rodrigues, notável naturalista e onde nasceu o Professor Arthur Cezar Ferreira Reis, foi também o núcleo inicial do Escotismo entre nós, amazonenses.
A casa de ensino de José Chevalier iniciou seus préstimos com externato, mas, em alguns casos servia de internato, tendo alcançado cerca 150 alunos para os cursos primário e secundário, número elevado para a época.
Formado em Direito pela nossa Faculdade de Direito, à época Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, na turma de Simões Lopes e Evaristo de Morais, foi Diretor da Biblioteca Pública, Arquivo e Diário Oficial, que anteriormente havia colaborado com Benjamin Lima nos trabalhos de catalogação das obras da nossa Biblioteca, na administração do Cel. Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, sendo nomeado para este importante cargo na Administração seguinte, a do Dr. Jonathas Pedrosa.
Sobre sua atuação nesta função, Genesino Braga em importante obra sobre a vida da Biblioteca Pública (1), nos dá o seguinte relato:
“………………………………………………………………………..foi o primeiro bibliotecário que exerceu o cargo com exata noção de sua importância no seio da comunidade. Nele permaneceu durante mais de vinte anos, operoso e eficiente, revelando-se o mais dedicado e o mais erudito dos bibliotecários que por ali passaram. Dera ao desempenho da função a austereza de um sacerdócio, mantendo sempre acesa uma envolvente paixão pela bibliofilia…. José Chevalier representa uma verdadeira transição do bibliotecário antigo para o Bibliotecário moderno…
A seguir grande escritor que é Genesino Braga deixa correr a pena sobre a atuação de Chevalier na Biblioteca e na vida pública do Estado, declarando-o como “figura de grande expressividade de sua época, intelectual dos mais festejados, poeta, jornalista, educador e homem de sociedade…” designações que, na verdade, se enquadram muito bem no precursor no Escotismo no Amazonas.
(1) Genesino Braga, “Nascença e Vivência da Biblioteca do Amazonas”, Belém 1957. CNPq – INPA.
Alçado à condição de Diretor da Biblioteca Pública em 1914, José Chevalier teve por várias vezes interrompido a sua missão de chefia voltando ao cargo de bibliotecário, mas sempre atuando decisivamente para o progresso e valorização da nossa Biblioteca Pública, recebendo vários elogios dos governantes de sua época, até a sua aposentadoria em 1936. Sua brilhante atuação nesta repartição estadual, sobretudo pelo caráter renovador, dinâmico e alto sendo de organização, deu oportunidade a que Genesino, o Bibliotecário número um do Amazonas de hoje, o arrolasse entre as maiores expressões da Biblioteconomia brasileira como João Saldanha da Gama, Ramiz Galvão, Capistrano de Abreu, João Ribeiro, Manuel Cícero Peregrino e Constâncio Alves. (2)
Por diversos problemas fechou seu estabelecimento de ensino, o Instituto que havia já orientado tantos jovens, e ficou residindo no casarão hoje de rara importância histórica para nossa cidade pelas tradições de formação cívica e moral, pesquisa científica e berço do maior historiador da Amazônia nos dias de hoje, por isso mereceu da Fundação Cultural do Amazonas, neste evento importante para a vida regional do Escotismo a XXIX Reunião do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, placa especial que sirva de documento público da sua importância e do seu passado, iniciando importante Projeto de identificação histórica dos prédios e logradouros importante de Manaus, iniciativa que carrega nosso entusiasmo.
Membro fundador da nossa Academia de Letras, é incluído em outro trabalho de Genesino (3), entre os “três legionários da cruzada intelectual”, responsáveis pelo surgimento da AAL, juntamente com Benjamin Lima e Péricles de Morais que o definiu quando em importante trabalho sobre a Academia fala do triunvirato que batalhou por sua instalação, como:
“………………………………………………………………………..o outro, que se colocara ao nosso lado por forte imposição temperamental a levado pela mesma comunhão espiritual e afetiva, identificando-se por gestos de altruísmo e desprendimento, chamava-se José Chevalier. Era meu amigo diletíssimo. Nascêramos exatamente no mesmo ano, e eu o estremecia como a um irmão muito querido. Quando da sua morte no Rio, em 1938, tentei bosquejar-lhe o retrato nas molduras de “Paisagens de uma vida”, incerto em “Confidências Literárias”, uma das páginas humanas e dilacerantes que procuraram traduzir as angústias da minha emoção. Ainda agora, tanto tempo depois, relendo-a comovidamente, sinto o amargo dos avatares que o acabrunharam, em desafio à beleza moral do homem e às doçuras embevecedoras do seu coração”. (4)
Ocupou a Poltrona de nº 3, inicialmente denominada de Afonso Arinos, sendo sucedido pelo Padre Raimundo Nonato Pinheiro, cuja posse deu-se a 10 de janeiro de 1950 que, a seu respeito, vinte anos depois de empossado na Academia Amazonense, declarou:
…, José Chevalier sem embargo de escrever com aticismo e até cultivar a Musas, distinguiu-se precipuamente como professor e educador. Seu instituto obteve nomeada em nossa capital. Suas aulas eram bem ministradas, e devo confessar que me deu grande impulso no estudo do idioma, em 1934, quando iniciei meus estudos de Humanidades………..” (5)
Chevalier, revelado como Secretário Perpétuo de nossa Academia, recebeu de Mitridhates Correa, referência grata e interessante, quando diz que se lhe fosse dado falar sobre a Academia o faria “…com sua voz estentórica de velho didata, evocando a sua posição de dedicadíssimo preceptor de gerações à frente do tradicional “Instituto Universitário”, posição que ele talvez sempre desejasse igual á postura do “Pensador” de Rodin, que lhe servira de tema a um lindo soneto, impresso no primeiro número da “Revista da Academia”, junho de 1920, o Chevalier, com o seu monóculo e o seu abano irrequietos…” (6)
Do que se infere das declarações dos escritores citados, todos do mais alto gabarito, é a que a figura de José Chevalier, dinâmico em todos os sentidos, inovadora e renovadora das bases educacionais no Estado, foi amplo campo de estudos e conceituações das gerações que o sucederam. Assim será sempre porque até na Gramática, como assinala Agnello Bittencourt, Chevalier renovava embora não pretendesse feri-la, ofendê-la, procurava uma literatura mais flexível, mais acessível, mais didática com o aproveitamento das belezas naturais, inúmeras em nossa região, quando procurava mostrar em suas poesias os ruídos de uma cachoeira, os do encontro das águas, o sussurro dos ventos nas grandes florestas e outras ações magníficas da mãe-natureza.
Fundador do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, no 25 de março de 1917, Chevalier estava em todas as atividades culturais do Estado, participando ativamente de todos os novos movimentos sempre consciente das necessidades pedagógicas de sua época, revelando-se como exemplo de dedicação ao trabalho, às letras e à mocidade, quer na sua atuação no Movimento Escoteiro do Amazonas através da Legião Amazonense de Escoteiros, quer no seu Instituto, na imprensa e nas entidades culturais e educacionais.
Foi casado com D. Raimunda de Paula e Souza de Chevalier, professora de raros dotes, de cujo enlace nasceram dois filhos: o Dr. Walmiki Ramayana Paula e Souza de Chevalier, médico, jornalista, cultor de Letras, orador, romancista, prosador, membro da Academia Amazonense de Letras, uma das maiores expressões cultura do Amazonas moderno; e o Dr. Wladimir Carlayle Paula e Souza de Chevalier, advogado formado na Bahia que se revelou aos 18 anos ao escrever importante prefácio em obra filosófica.
A sua atuação no Escotismo amazonense, em seus primeiros passos e também em sua primeira fase foi sólida, altamente dedicada, inovadora em larga escala para a mesma campanha de civismo, de ordem e de amor ao próximo do Escotismo de nossos dias.
Ao lado do eminente Professor José Chevalier na organização do Escotismo em Manaus estava o ilustre e destemido jornalista e Professor PAULO ELEUTHERIO ALVARES DA SILVA, advogado, engenheiro agrônomo, membro fundador da nossa Academia de Letras na qual ocupou a Poltrona Patronada inicialmente por Joaquim Nabuco sendo substituído naquele Silogeu por Sadoc Pereira, Professor e Magistrado.
Nasceu a 4 de setembro de 1886, no município de Pau d’Alho, Estado de Pernambuco, formando-se em Direito em 1920 em nossa Faculdade e Engenheiro Agronômica na Universidade Livre de Manaus da qual foi Secretário tendo sido também Engenheiro Rural “Honoris Causa” pela Escola Livre de Engenharia do Rio de Janeiro.
Condecorado com a Ordem do Condor dos Andes, Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo, da República Portuguesa, foi mestre de várias gerações em todos os graus – primário, secundário e superior. Sua contribuição na Secretaria da Universidade Livre de Manaus, em auxílio a Astrolábio Passos foi decisiva para o crescimento da entidade, demonstrando alto senso de organização e secretariado, a exemplo de sua participação na Comissão Estadual encarregada dos Festejos do Centenário do Imperador D. Pedro II, e na Secretaria Perpetua do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, em substituição ao Professor Arthur Cezar Ferreira Reis, função que exerceu por mais de dois anos” com inteligência, máxima dedicação, provando que era um burocrata pontual e metódico como assinala Agnello Bittencourt. (9)
Como intelectual pertenceu também a várias instituições, como Institutos Históricos do Acre, Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, além de ter sido membro Correspondente da Academias de Letras de Pernambuco e do Pará, e da Associação Brasileira de Imprensa. Deixou várias publicações em jornais e revistas, ressaltando-se poesias e pesquisa histórica, dadas a lume nas Revistas do Instituto de suas importantes manifestações políticas na imprensa local.
Como jornalista foi dos mais contudentes e destemidos de nossa terra, fazendo aberta e acirrada campanha contra o despótico Governo de Rego Monteiro, 1920 a 1924, interrompido graças à benemérita Revolução de 1924 liderada por Barata e Ribeiro Júnior. Por nesta atuação fio atacado moral e fisicamente por afiocinados do Governo oligárquico de Rego Monteiro, chegando a ser ferido em praça pública. Recuperado desta última agressão, seguiu para Belém do Pará, ficando ao lado da família, especialmente dos filhos, cuja tempera estava bem em sintonia com a sua. Já em Belém, tomando conhecimento de que o Desembargador e então Governador Rego Monteiro rumaria par a Europa, mandou imprimir manifesto pessoal denominado “Regolândia”, e servindo-se da proteção especial de um de seus filhos, então Delegado de Polícia na capital do Pará, dirigiu-se ao navio que, transportando o governante amazonense, estava ancorado naquela cidade e distribuiu a todos os viajantes, diante da estupefação do chefe da oligarquia Monteiro, mais um voto de defesa pública dos oprimidos e profundamente sofridos cidadãos amazonenses.
De temperamento inquieto, excessivamente vibrante e destemido, Paulo Eleutherio foi educador, aliando-se a José de Chevalier na instituição do Escotismo em Manaus, sendo Vice-Presidente da Liga Amazonense de Escoteiros, reafirmação real de sua fé nos princípios morais e éticos que devem presidir a vida da coletividade, defendidos abertamente em seus manifestos políticos pela imprensa anos mais tarde. Faleceu em sua terra natal após passar em visita a nossa cidade, quando o peso da idade e das batalhas da vida lhe arqueavam os ombros.
NOTA DE RODA PÉ
(2) Genesino Barga, ob, cit.
(3) Genesino Braga, “Cinqüentenário da Academia Amazonense de Letras. In Revista da Academia, nº 12 – julho de 1968. pág. 11 e 13.
(4) Péricles de Morais, Revista da AAL nº 12 – julho de 1968.
(5) Pe. Raimundo Nonato Pinheiro, in “Sobre minha posse na AAL, o Jornal 18.01.1970.
(6) Mitridhates Correia “Se os retratos falassem”, in Revista da AAL, nº 5 de março de 1956 -pág. 46.
A LEGIÃO AMAZONENSE DE ESCOTEIROS
a divulgação do Escotismo
Com divulgação pela imprensa local, foi instalada a 12 de outubro de 1915, na sede do Instituto Universitária Amazonense, a Legião Amazonense de Escoteiros, no prédio onde hoje funciona a Hospedaria Carneiro de Almeida, em reunião realizada à 9 horas, à rua Dr. Moreira nº 36, e cujo convite formulado à imprensa, autoridades e professores, teve o seguinte teor:
“Manaus, 11 de outubro de 1915 – O que se tem feito no sul do Brasil, principalmente em São Paulo, em prol do Escotismo, no interesse de sua adaptação à nossa mocidade, levou-nos a realizar em Manaus uma reunião para tratar de tão momentoso problema de educação física, moral e cívica”.
“Sendo o escotismo a prática moderna e vencedora, em todos os países, do aproveitamento das energias são dos jovens de 11 a 20 anos e pertencendo a classe de patrícios, em sua maioria às escolas, temos a honra de convidar-vos a fim de que vossa presença e o vosso prestígio posse cooperar conosco na introdução do escotismo no Amazonas.
Certos de vossa aquiescência ao nosso convite, somos vossos patrícios – José Chevalier, Paulo Eleutherio”.
Nota: a reunião será amanhã às 9 horas, no Instituto Universitário, à rua Dr. Moreira nº 36”.
No jornal “O TEMPO”, desse mesmo dia, 11 de outubro, era publicado, pela primeira vez em nosso Estado, o DECÁLOGO DO ESCOTEIRO, com o intuito de iniciar uma divulgação do assunto, complemente novo em nossa comunidade e que estava sendo encarada com grande responsabilidade e profunda consciência pelos mestres do Instituto Universitário.
O Decálogo aqui publicado difere, na forma e em boa parte do texto, da atual Lei do Escoteiro, muito embora permaneça a mesma filosofia e no fundo, as mesmas orientações.
DECÁLOGO DO ESCOTEIRO
“A palavra de honra de um escoteiro é sagrada; se ele prometer pela sua honra fazer uma determinada cousa, não haverá sacrifício que o impeça de fazê-la, mas a descoberta de uma mentira redundará na sua expulsão do corpo”.
“O escoteiro ama a sua pátria e respeita as suas leis, está pronto á socorrer a quem que que se ache em perigo e a ser útil aos outros; é fraternal para com os escoteiros de todo mundo; é gentil e Cortez para com todos e especialmente para com os velhos, as senhoras, os fracos e as crianças, ama os animais e as plantas; é obediente para com os seus pais, mestres, chefes do grupo a que pertence e aos seus superiores do corpo; realiza com serenidade e bom humor qualquer missão que lhe seja confiada; é sóbrio e temperante; é amigo da economia; não deixa escapar uma palavra, nem pratica atos que possam ofender a sua dignidade pessoal e o decoro da Instituição a que pertence”.
A reunião de fundação transcorreu em meio a grande alegria dos presentes, para cuja sessão aceitaram o convite vários professores e pessoas gradas da sociedade, assinando a respectiva ata, mais de 50 convidados. Aberta a sessão pelo Professor José Chevalier, passou a presidência dos trabalhos ao Cel. José da Costa M. Tapajós, diretor da Escola Municipal de Comércio, que foi secretariado pelo Professor Paulo Eleutherio, então acadêmico e diretor do “Curso Propedeutico” e Presidente da “União Acadêmico”, que ao usar da palavra, inicialmente, deu a sua adesão movimento escoteiro que se ia instalar em nossa capital.
Por aclamação da assistência, foi composta a seguinte diretoria provisória: Presidente – Professor José Chevalier; Vice-Presidente – Paulo Eleutherio; Secretário-Geral – Acadêmico Pedro de Araújo Madeira; Tesoureiro – Professor João Luis de Alencar; Diretor Técnico – Dr. Raymundo Pinheiro.
Eis, na íntegra e respeitando a grafia da época, a ata da fundação da LEGIÃO AMZONENSE DE ESCOTEIROS:
A ata da fundação da “Legião Amazonense de Escoteiros – Aos 12 dias do mês de outubro do ano de 1915, nesta cidade de Manaus, capital do Estado Federado do Amazonas, no salão nobre do Instituto Universitário Amazonense, à rua Dr. Moreira, nº 36, presente o diretor desse estabelecimento, Professor doutor José Chevalier Carneiro de Almeida, dr. Raymundo Pinheiro, professor da Universidade de Manáos, professor João Luis de Alencar, diretor do colégio “Augusto Comte”, Paulo Eleutherio, presidente da “União Acadêmica” e diretor do Curso Propedêutico, professor José Casemiro Botelho representante da Escola Acadêmica, e mais professores e alunos do Instituto Universitário, do Ginásio Amazonense, da Escola de Comércio da Universidade e do Curso Propedêutico, foi aberta a sessão, pelo Sr. Dr. José Chevalier.
O sr. Presidente, usando da palavra, explicou que a reunião fora convocada para tratar-se da Fundação de uma sociedade de escoteiros no Amazonas, nos moldes das suas congêneres do sul do país.
Ouvida a sessão geral, ficou deliberado que se considerasse fundada nesta data, a Legião Amazonense de Escoteiros, sendo aclamada a seguinte diretoria provisória:
Presidente, dr. José Chevalier Carneiro de Almeida; Vice-Presidente, dr. Paulo Eleutherio Alavares da Silva, secretário-geral, professor Pedro Araújo Madeira; Tesoureiro, Professor João Luis de Alencar; Diretor técnico, dr. Raymundo Pinheiro.
Ficou também resolvido que as reuniões se efetuassem no Instituto Universitário, quando assim o entendesse a direção provisória.
E, para constar, eu Paulo Eleutherio Alavares da Silva, servindo de secretário, lavrei a presente que vai por todos os professores assinada. Paulo Eleutherio”.
Criada a instituição, sediada provisoriamente na residência de Chevalier, era necessário divulgá-la para que a comunidade conhecesse seus métodos, técnicas e afinidades educacionais. Objetivando também angariar adeptos, jovens de 11 a 20 anos. Desta forma é que vamos encontrar nos diversos órgãos da imprensa local ampla cobertura a todas as atividades escoteiras regionais e informações sobre o andamento das atividades no sul do país.
A 15 de novembro de 1915, uma quarta-feira, o nosso Diário Oficial publicou uma vasta divulgação do Escotismo, explicando como o jovem poderia ingressar no Movimento e como fazer as hoje conhecidas Provas de Classe, oportunidade em que já anunciava a existência de dois escalões na Administração do Escotismo: o Nacional e o Regional, o primeiro e ao qual estávamos vinculados, era a Associação Brasileira de Escoteiros, com sede em São Paulo, reconhecida de utilidade pública tempos depois, conforme divulgação no Diário Oficial de 22 de dezembro de 1915.
O movimento seguiu sua fase de estruturação e aproximação de aficionados, promovendo além das informações pela imprensa, excursões e festividades públicas que não só atraiam novos adeptos como demonstravam o andamento do aprendizado escoteiro.
Para exemplo do andamento da atuação da Legião, nesta fase, vejamos um programa de excursão, que além de demonstrar o tipo de atividade então desenvolvidas, serve de documento para a primeira atuação campestre da Patrulha do Tigres, do Ateneu Pedro II, uma ampliação do trabalho da Legião Amazonense de Escoteiros que ia se encaminhando para vários esclarecimentos de ensino numa tentativa de harmoniza a prática escoteira com o oferecimento de educação escolar, metodologia bastante simpática à época, e hoje altamente reclamada por autoridades das instituições escoteiras e educacionais.
“Ordem do acampamento para hoje – dia 2/7/1916
5 horas – Levantar
5:30 – Chá ou café com pão
5:45 – Reunião na sede provisória, na sede da Legião.
6 horas – Partida para o Bosque, pela avenida Constantino Nery
6:20 – Parada no alto da avenida e distribuição da patrulha dos Lobos e dos Castores, que farão jogo de encontro na floresta.
7 horas – Chegada ao bosque e descanso obrigatório
7:10 – Hasteamento da Bandeira Nacional e Hymo pelos escoteiros.
7:20 – Exercício de escoteiro e aplicação de diversos jogos japoneses pelo professor Satal.
9 horas – Aplicação do primeiro bivaque do Manuel do Escoteiro.
9:30 – Descanso obrigatório
9:40 – Banho facultativo
10:20 – Volta do Bosque.
Pela primeira vez toma parte nesta excursão a patrulha dos Tigres pertencentes ao Ateneu Pedro II.
Desta excursão participaram 60 jovens que saíram da sede provisória, na Dr. Moreira, em marcha natural pela avenida Constantino Nery, com participação de quatro patrulhas do Instituto Universitário, uma patrulha do Colégio Rayol e uma do Ateneu Pedro II. Nesta ocasião foi lido e explicado o 1º Bivaque do Manual do Escoteiro e dos jogos levados a efeito sob a coordenação do Professor Satake saíram vencedores os meninos Glicério de Albuquerque e Heider Rayol, das Patrulhas dos Lobos e Castores, respectivamente.
Em razão do mau tempo reinante neste dia 2 de julho de 1916 o regresso deu-se às 11 horas, de bonde, tendo participado da excursão, além de José Chevalier, o professor Paulo Eleutherio e vários familiares de escoteiros, para um perfeito acompanhamento que estava sendo ministrado.
Feita nova excursão na semana seguinte, no mesmo Bosque, tivemos o lançamento do jogo do Kim, famoso e altamente aplicado no Escotismo como técnica de memorização, para os vencedores foram entregues prêmios ofertados pelas lojas comerciais: do Jacintho, Velho Lino, Adrião Barroco, Casa 22, Livraria Acadêmica, Casa Panhola, Canto das Novidades e Livraria Palais Royal. Leões Hienas, Tigres e Águias, que realizaram também jogos de “Koy-San” e “Taynô”.
O deslocamento para esta excursão foi feita da nova sede provisória da Legião, à rua de José Clemente, Grupo Escolar Marechal Hermes, um dos salões do “Tiro Naval”, local onde hoje está situado o edifício da Rádio Rio Mar, estando naquela época com inscrições abertas todas as quartas e sábados, da 17 às 18 horas, para alistamento de novos escoteiros.
Continuava a divulgação do movimento e no sábado, dia 2 de setembro de 1916, o nosso Diário Oficial publicava extensa informação sobre os escoteiros, descrevendo todos os métodos e técnicas, provas exigidas, evidenciando mecanismo diversos dos que são utilizados no escotismo atual, muito embora a parte técnica ainda tenha grande semelhança.
A Promessa Escoteira, então denominada “Juramento” era do seguinte teor:
“Prometo pela minha honra proceder em todas as circunstâncias como um homem consciente dos seus deveres, leal e generoso; amar a minha Pátria, na paz e na guerra; obedecer ao Código do Escoteiro”.
Definido como uma instituição sem caráter partidário, religioso ou político, acolhendo em seu seio os representantes de todas as classes de todas as qualidades que fazem do homem digno do nome escoteiro: honestidade, vontade, iniciativa e patriotismo.
O vestuário era simples e assim descrito: “compondo-se especialmente de borzeguins fortes de excursão, meias compridas, calções curtos, camisa folgada e com bolsos, paletó feito “golf”, chapéu de abas largas e um grande lenço para o pescoço…”
Esta descrição não corresponde ao uniforme usado pelos escoteiros do Amazonas desta época até 1924, que atendendo ás fotos de então e informações colhidas junto a escoteiros do Instituto Universitário, se apresenta de maneira diversa, com calças compridas, sapatos, e polainas, camisas de mangas compridas, lenço com nós e cinturão com várias argolas.
Enquanto a vida escoteira amazonense dava seus primeiros passos, o Rio Grande do Sul promovia uma grande marcha, partindo de sua sede para Santa Catarina, cuja informação nos vem através.de notícia publicada no Diário Oficial do Estado de 30 de setembro de 1916. Os Escoteiros saíram de Porto Alegre a Taquara, de trem e deste local até São Francisco de Paula e Costa da Serra, a pé, passando pela serra do Faxinal e demandando até Torres, sempre beirando o mar até chagarem a Laguna. Percorreram 65 léguas em doze dias de marcham, e eram 12 meninos de idade de 13 a 16 anos, pertencentes a duas escolas alemães de Porto Alegre e que compunham um grupo escoteiro com mais de 90 meninos. A sede era na Sociedade Ginástica “Tourner Bund”. Cada escoteiro caminhou com cerca de 12 quilos e foram comandados pelo Sr. Jorge Clack, professor de Ginástica da Escola de Engenharia da capital. Foi um importante feito, especialmente para a população de Santa Catarina que até então não possuía escotismo.
A nossa Legião crescia e ampliava seu programa de divulgação do escotismo, noticiando amplamente seu método de ensino, a exemplo do que foi publicado em 2 de fevereiro de 1917:
“LEGIÃO AMAZONENSE DE ESCOTEIROS – Programa de ensino prático para o mês de fevereiro – de acordo com a Associação Brasileira de Escoteiros, de São Paulo:
Dia 6 – ginástica educativa, medição de área do quartel para exercícios de apreciação de distancias, escolas de esgrima;
Dia 8 – ensino de noções preliminares sobre o método de se conduzir em vários acidentes (incêndio, cavalo, desenfreado, escapamento de gases, descarga elétrica, socorros a feridos afogados).
Dia 10 – ensino de cozinha ligeira (preparado de pratos fáceis).
Dia 11 – excursão a praça Floriano Peixoto, armamento de barracas, recapitulação do ensino dos dias anteriores.
Dia 13 – continuação do ensino do dia 8. Ensino prático de apreciação de alturas.
Dia 15 – aplicação do alfabeto brachial e surdo-mudo.
Neste ano a sede da Legião dos Escoteiros do Amazonas era no quartel do 48º Batalhão de Caçadores, e no dia 22 de fevereiro, domingo, às 8 horas, foi realizado o juramento de 10 escoteiros. Os exercícios eram levados a efeito às terças, quintas e sábados, com instrução de corneteiros, tamboreiros e sinaleiros.
Interessante é mencionar, respeitando o texto original: “a licença do boy scout JOÃO DO REGO terminará no fim do corrente mês. No dia 21 haverá uma grande formatura para todos. Domingos, 25, uma excursão. Brevemente jurarão a bandeira, novos legionários”.
Utilizando ainda a expressão inglesa, a nota distribuída para imprensa demonstra a existência de inscrição com prazo determinado e fornecimento de cartão de identificação (licença), como também a introdução de algumas técnicas militares e a influência da Liga de Defesa Nacional, em amplo desenvolvimento em nosso Estado, da qual Chevalier também fazia parte.
Importante festa escoteira foi realizada no dia 12 de agosto de 1917 com a inauguração do retrato de Olavo Bilac e da Biblioteca da Legião. O retrato foi um trabalho a cryon do pinto Roque Falcone, tendo discursado na oportunidade, o professor Odilon Lima, após o que foi realizado o compromisso de vários meninos, como escoteiros.
Visando ampliar as fronteiras do movimento, a Liga faz distribuir uma circular explicando a organização escoteira, e o comentário da imprensa, dando apoio à iniciativa, está demonstrada em O TEMPO, de 9 de setembro de 1917:
“Dos diretores da legião Amazonense de Escoteiros, recebemos com os prospectos da mesma Legião um apelo em prol do desenvolvimento do Escotismo no Amazonas. Aplaudindo de há muito, a idéia por eles gratular com os esforçados moços que tanto interesse ligam à futurosa Legião, pelo interesse que manifestam, continuando ao seu dispor para quanto se referir ao desenvolvimento do Escotismo no Estado”.
Repercutia bem o trabalho desenvolvido por Chevalier e todos os seus companheiros, já no caminho do segundo ano de instalação do movimento que participavam ativamente de todas as programações sociais, cívicas, educacionais e filantrópicas da cidade, a exemplo dos festejos de 7 de setembro, da adesão à República, contando com o apoio do comércio, especialmente das lojas Colombo, Bazar Alemão, Palais Royal, Livraria Acadêmica, Levry Freres, Adrião Barroco e em combinação com as jovens do Instituto Benjamin Constant e membros da Cruz Vermelha e Dispensário Maçônico.
JUAREZ CORDEIRO, em julho de 1917 dava a lume importante trabalho sobre o Escotismo, fazendo uma retrospectiva do Movimento em seu aparecimento no Mundo e sua divulgação, analisando a atuação de Baden Powell, quando mostra que o movimento invadiu todas as fronteiras políticas, constituindo-se nos “boys scouts” da Inglaterra, os “eclaireurs de France”, “pfadfindez” alemães, os “potcchnié” Russos, os “giovinni esploratore” italianos e os escoteiros brasileiros.
Faz um análise de confiança que os chefes militares durante a Guerra, depositavam naqueles que haviam sido escoteiros, narrando feitos importantes, como o do escoteiro Lyssen, de 17 anos, belga de nascimento, que aprisionou 11 espiões, forneceu informações básicas para a armada e atravessou por dez vezes a linha de tiro alemã, sendo ao final condecorado pelo rei Alberto, com a Cruz de Guerra. Foi antes de tudo uma demonstração de preparo e da iniciativa fornecida pelo Escotismo, já então considerado imprescindível ao mundo moderno.
O movimento escoteiro, segundo depoimento deste autor, nesta época ainda não havia se instalado no Rio de Janeiro, mas estava caminhando do sul para o norte brasileiro, fazendo ao final de seu trabalho, uma profissão de fé no movimento, sobretudo na preparação cívica dos jovens.
Tal aconteceu, em verdade, e hoje o movimento é vitorioso em todos os quadrantes da terra brasileira, envolvendo jovens e adultos, homens de todas as raças, credos, realizando uma tarefa importante para o desenvolvimento nacional, que a segurança de que este desenvolvimento terá seguidores e batalhadores no futuro, porque os jovens de hoje estão alcançando a importância deste crescimento, e sendo preparados para acompanhá-lo e auxiliar a promovê-lo, seguidamente.
Uma demonstração de reconhecimento internacional do Escotismo e do desenvolvimento do Amazonas, como todas as fronteiras políticas que envolvessem o Movimento, está na publicação, em primeira página, de foto do Príncipe do PIEMONTE – S.A.R. Umberto de Sabóia, comandante da Legião Italiana dos Escoteiros, devidamente uniformizado, num jornal da época de nossa cidade, servindo de incentivo a todos que por aqui estavam implantado o movimento de BP.
O ano de 1917 foi de grandes iniciativas em nosso Estado, ressaltando-se o crescimento do Escotismo, da Liga de Defesa Nacional e a fundação do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Era o segundo ano de atividades da Legião Escoteira.
Eis a programação de aniversário dos escoteiros do mestre Chevalier:
“Acampamento no Bosque Municipal, obedecendo o seguinte programa:
6 horas – Partida da sede dos três Partidos, devidamente equipados;
7 horas – Chegada ao Bosque e armamento de 12 barracas;
8 horas – Hasteamento do Pavilhão Nacional, ao som do hino a Bandeira;
8:20 – Preparação do almoço pela turma de rancho. Organização de uma ponte pela turma dos pontoneiros;
9:30 – Diversos jogos de escoteiros: explicação do jogo do Kim;
10 horas – Banho facultativo;
10:30 – Toque de rancho corneteiro, não dos escoteiros;
11 horas – Almoço feito, pelos Escoteiros;
12 horas – Descanso obrigatório em todo o acampamento;
13 horas – Exercício de nós. Explicação do Código dos noviços;
14 horas – Preparativos de marcha. Desarmamento de barracas;
15 horas – Partida do Bosque, pelo Giráu.
A Diretoria pede o comparecimento dos escoteiros, todos devidamente equipados, isto é, com seus lenços, cordas, etc.
Os noviços ficam pertencendo ao terceiro partido (lenço azul marinho).
Esta comemoração, levada a efeito no dia 12 de outubro de 1917, mereceu um comentário da imprensa:
“Faz hoje 2 anos que por iniciativa patriótica do Sr. Dr. José Chevalier ficou instituída entre nós a Legião Amazonense de Escoteiros. Foi uma idéia que, felizmente, venceu o Amazonas, pois é de justiça declarar que a nossa legião é uma pura verdade. E tudo isso devemos ao trabalho profícuo e sistemático do Sr. Dr. Chevalier a quem enviamos as nossas vivas congratulações”.
A programação do adestramento da Legião, em 1917, já apresentava uma evolução em relação aquela do primeiro ano de fundação, embora ainda houvesse a utilização da expressão inglesa e algum envolvimento militar. Em dezembro deste mesmo ano a Legião estava instalada num dos vastos alojamentos da nossa Força Policial onde continuava todo o treinamento, ministrado com o seguinte calendário – programa, a título de exemplo:
Dia 6 – às 16:30 horas – A Bandeira Nacional, sua interpretação, explicação e significação do 2º artigo do Código do Escoteiro – O Escoteiro sabe obedecer. Compreende que a disciplina é uma necessidade de interesse geral.
Dia 8 – Noções sobre as marchas, o nó da gravata e do lenço; saudação e divisas do escoteiro.
Participando dos festejos de Adesão do Amazonas à República, levadas a efeito a 21 de novembro de 1917, na Praça da Saudade, os escoteiros participaram do desfile, cantando a sua marcha ao som da Banda da Força Policial do Amazonas e do cântico do Hino Nacional, ao lado dos membros da Cruz Vermelha e das senhorinhas do Benjamin Constant. Vários concursos foram realizados e os vencedores foram Tymbira Barbosa, Castro Alves, Antonio Craveiro, João Moraes, Barreto Filho, Manoel Medina, Clinio Caldas e Ruy Vaz, Atílio Matos, Arago Ribeiro, Sandoval da Costa e André Araújo, diante da presença de várias autoridades governamentais e mais expressivos membros da nossa sociedade, inclusive do Dispensário Maçônico.
Importante documento que está vinculado à história do Escotismo em todo Brasil, é a carta divulgada em 12 de julho de 1917 no nosso Diário Oficial, assinada por Lord Baden Powell, endereçada à Associação Brasileira de Escoteiros, no Rio de Janeiro, aqui transcrita:
“Aproveito-me do ensejo da comemoração de São Jorge, que é o padroeiro dos escoteiros, para enviar as saudações dos escoteiros da Gran Bretanha aos seus irmãos do Brasil. Esperamos que a despeito das dificuldades ocasionadas pela guerra, o escotismo tenha se desenvolvido e florescido entre eles e nos conduza a todos, a um mútuo e maior conhecimento e simpatia. Com um tal comércio de relações estabelecidas entre gerações que despontam para a vida, podemos alimentar a esperança de que as desinteligência e guerras entre as nações se tornem cada vez menos prováveis e que o nosso sentimento de fraternidade concorra para o encaminhamento de uma paz permanente. Com os nossos melhores augúrios e saudações, sou, sinceramente. Ass. Robert Baden Powell”.
O sucesso do empreendimento e a ampliação da divulgação do Escotismo em meio a nossa sociedade valorizaram a organização – Legião Amazonense de Escoteiros que já vinham alcançando êxito em suas atividades internas na formação de “boys couts” e na informação geral sobre o Movimento com a publicação, em capítulos, das obras “MANUAL DO ESCOTEIRO”, por Baden Powell traduzida pelo Professor Harmano Neves, apresentado seguidamente no Diário Oficial do Estado, em 1917.
Com esta divulgação o que se procurava fazer era sempre uma conclamação valorosa à sociedade, uma definição de objetivos e idéias filosóficos do Escotismo ao lado dos ideais cívicos de todos os outros movimentos que á época eram também iniciadas – Liga da Defesa Nacional Cruz Vermelha, etc.
Neste ano de 1917 já havia alteração na Diretoria da Legião Amazonense de Escoteiros, composta com José Chevalier – Presidente; Paulo Eleutherio – Vice-Presidente; Professor Abílio Alencar – Diretor Técnico; M. F. Cunha Júnior – Instrutor e Francisco das Chagas Araújo – Secretário, o que comprova a dinâmica da sociedade e a movimentação de novos adeptos não só para o corpo de escoteiros, suas patrulhas e pelotões, como também para a direção regional da Legião.
O trabalho cívico-cultural de Olavo Bilac na defesa e na pregação da instituição do Serviço Militar Obrigatório, da Liga da Defesa Nacional e do Escotismo, como meios de formação da nossa mocidade, está evidenciando em todos os seus pronunciamentos públicos a respeito e, especialmente na Marcha do Escoteiro desta época, que apresenta música de A. Sobreira Lima em uma poesia de Bilac, aqui apresentada para vulgarização e análise dos aspectos cívico-militares como era olhado o Movimento Escoteiro.
MARCHA DO ESCOTEIRO
Letra de Olavo Bilac
Música de A. Sobreira Lima
Sereis para vencer
Melhores cada dia
e com doce alegria
cumpri vosso dever
Do sol aos beijos, nos áureos frisos,
entre os sorrisos do alvorecer
rutila aurora, nobre altaneira,
nossa Bandeira sempre há de ser.
Brasil formoso, pátria querida,
Mais que a vida hemos de amar-te,
teu santo nome vemos em sonhos
e assim risonhos vamos honrar-te
Sempre à vanguarda, de olhar luzente,
cumprindo alegre vosso dever
sempre avançando, nada há na frente
pois é humilhante retroceder
uni as almas, junta as vidas
ao fogo santo de um mesmo lar,
as gotas d’água se vão unidas,
formando rios, chegando ao mar.
Esta marcha era utilizado para os desfiles e solenidades cívicas em Manaus, para as caminhadas em excursão e acampamentos, hoje substituída pelo famoso “Rataplan”, tradução musical do sentimento escoteiro, e da filosofia de ação do Movimento. Fomos encontrá-la publicada em O TEMPO de 11 de julho de 1917, em nossa cidade.
A 10 de novembro de 1917, tecendo comentários sobre a participação do escoteiros na vida do país, considerando os tormentosos momentos da guerra, o próprio Baden Powell, a respeito do Brasil, declarava:
“No Brasil, o país formoso do mundo, há montanhas e selvas, rios e lagos, nos quais os jovens podem encontrar aventuras que excedem às que a Europa, pelo excesso de população, oferece aos seus pequenos soldados”.
Neste trabalho “A disciplina dos boy scouts”, publicado em nosso Diário Oficial, o criado dos movimentos declara seu entusiasmo pelo progresso do Escotismo, e apresenta dados da participação escoteira no movimento de guerra, dizendo que “nos Estados Unidos, da declaração de guerra até esta data, 250.000 mil “exploradores” ofereceram os seus serviços, que foram aceitos pelo Governo”. A idéia – continua B.P. – estendeu-se já a todos os países europeus. O rei de Espanha, vestindo o uniforme do “boy scouts”, honrou os “exploradores” do seu país”.
Era a demonstração pública de uma satisfação que, no correr dos anos, seria cada vez maior – a ampliação das fronteiras escoteiras e o desenvolvimento do movimento, sempre capaz de servir à coletividade, qualquer momento.
Assim também seguiu o Escotismo no Amazonas comandado por Chevalier e Paulo Eleutherio, formando gerações e apoiando jovens, a princípio somente no Instituto Universitário, depois no Ateneu Pedro II e em outros colégios da capital. Muitos passaram pelas mãos do “mestre” e escotista, porém não nos foi possível levantar maiores informações sobre estes adeptos do movimento, a não ser os já mencionados e os colhidos junto a Raimundo Nonato dos Santos, menino criado desde os 8 anos no Instituto Universitário, afilhado de Chevalier e Atlas Galvão, e que foi escoteiro a partir de 1922, juntamente com Mário Ypiranga Monteiro, os irmãos Sabóia, os Carpinteiro Peres, Jurandir Osório Cavalcante, Simão, o Charuto, que hoje é ourives em Roraima, os irmãos Amora, Élson Lopes, Isaac Amorim, Armando de Barros, juntamente com o instrutor Moysés.
Os acampamentos deste tempo eram feitos quase sempre na Chapada, na Chácara de Armindo de Barros, amigo íntimo do Professor Chevalier e duravam 3 dias, aproveitando os feridos. As instruções eram feitas três vezes por semana no porão da casa que serviu de sede, a partir de 1918, também para o primeiro Jardim da Infância no Amazonas.
Outros que também fizeram parte do Instituto e da Legião segundo informam Raimundo Nonato e Mário Ypiranga Monteiro, foram Antóvila Mourão Vieira, Ramayna de Chevalier, Thales de Paula e Sousa, Tupinambá de Paula e Sousa, Francisco Galvão, Herculano Castro e Costa, Medina, Araújo Lima, Amazonas Palhano e Jovino Lemos.
A Legião encerrou suas atividades antes da morte de Chevalier, começando a enfraquecer com a viagem de Ramayana e Carlyle para estudar no sul do país, e quando José Chevalier passou a residir na Joaquim Nabuco com a Lima Bacury, a Legião havia encerrado as suas atividade.
foto cedida por Mário Ypiranga Monteiro apresentando o ilustre historiador, uniformizado escoteiro – 1923/1924 ao lado de seu irmão Agilulfo Itajaí Monteiro, soldado de 27º BC.
SÍNTESE BIOGRÁFICA DOS PATRONOS DE GRUPOS ESCOTEIROS
·Murilo Braga
·Luther King
·Olavo Bilac
·Benjamin Constant
·Álvaro Maia
·Marquês de Santa Cruz
·João XXIII
·Waldemar Pedrosa
·Dom Pedro Massa
·Ribeiro Júnior e Oliveira Viana
grupos a que pertenci.
MURILO BRAGA DE CARVALHO
Nasceu Piauí – 08.12.1912
Morreu -1950
Advogado, Professor, Técnico em Educação, foi dirigente máximo do Serviço Social do Comércio, era filho de José Raimundo Braga de Carvalho e D. Carmosina Pires Braga.
Realizou seus primeiros estudos em Parnaíba e Terezinha, passando-se depois para o Distrito Federal, formando-se no Colégio Pedro II e saindo advogado em 1937, pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Professor de Português e Matemática, diretor do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, e Professor Assistente da Cadeira de Psicologia Educacional da Escola dos Professores daquele Instituto.
Exerceu várias funções públicas, entre as quais chefe do Serviço de Seleção e Orientação Profissional do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Diretor da Divisão de Seleção e Aperfeiçoamento do Departamento Administrativo do DASP, Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Membro da Comissão Nacional de Assistência Técnica do Ministério das Relações Exteriores, delegado e representante brasileiro em várias reuniões e congressos internacionais.
Como Instrutor foi responsável por grande parte dos exames brasileiros promovidos pelo DASP, a cerca de 280.000 candidatos e pela renovação de métodos e técnicas para as escolas normais, e o aperfeiçoamento de professores, principalmente com a instituição de bolsas para cursos em centros mais adiantados.
MARTIN LUTHER KING
Nasceu Geórgia – 15.01.1929
Morreu Tenesses – 04.04.1968
Religioso norte-americano, de família Batista, estudou em Boston e foi o principal líder negro dos EUA desde 1955.
Fundou e presidiu a Conferência de Liderança Cristã Sulista, organizou movimentos pacifista em favor da igualdade racial naquele país e conquistou o Prêmio Nobel da Paz em 1964.
Foi o organizador do boicote aos transportes coletivos em Montgomery, no Alabama, em 1950 marco inicial dos movimentos anti-segracionistas americanos.
Morreu assassinado na cidade de Menphis, no Tenesses o que significou um abalo geral à causa que defendia e comprometeu a continuidade do movimento de igual das raças americanas dos Estados Unidos da América do Norte, merecendo ser olhado coerentemente, como um líder naquela Nação e um espírito voltado para o progresso humano e a paz entre todos os cidadãos, partindo do equilíbrio real de seus direitos, atuação em que se destacou na sua pátria.
OLAVO BRÁS MARTINS DOS GUIMARÃES BILAC
Nasceu Rio de Janeiro – 16.12.1865
Morreu Rio de Janeiro – 28.12.1918
Poeta brasileiro, estudou Medicina até o 5º ano e Direito, foi jornalista, destacando-se com ardor na defesa do Serviço Militar, sendo homenageado com a data de seu nascimento servindo como “Dia do Reservista”.
Era filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac, (médico) e D. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac e ainda menino já lia os grandes autores mundiais, aprendendo francês com rara facilidade. Foi Professor e Inspetor Escolar do Distrito Federal mas seu maior destaque nacional se fez na poesia ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Aliou-se aos defensores da libertação dos escravos e sofreu várias pressões do Governo chegando a se refugiar em Minas Gerais, tendo sido preso na Fortaleza da Lage.
Como jornalista escreveu em diversos órgãos da imprensa como: “A Cidade do Rio de Janeiro”, com José do Patrocínio e “Gazeta de Notícias” sob o pseudônimo de Vitor Legal. Dedicou-se à campanha contra o analfabetismo, afirmando que o Serviço Militar de forma obrigatória, em muito colaboraria com a solução deste grave problema, tendo neste movimento a sua mais significativa atuação jornalística.
Foi fundador da Academia Brasileira de Letras ocupando a Poltrona nº 15 e deixou, entre outras, as seguintes obras: Poesia; Crônicas e Novelas; Crítica e Fantasia; Conferências Literárias; Ironia e Piedade; Tarde; Últimas Conferências e Discursos; Poesias Infantis; Dicionário de Rimas; Através do Brasil; algumas em colaboração com Coelho Neto, Guimarães Passos e Manuel Bonfim.
Pela beleza de sua poesia após a morte de Alberto de Oliveira foi eleito o “príncipe dos poetas brasileiros” e pertenceu ao movimento literário conhecido como “Parnasianismo”.
BENJAMIN CONSTANT BOTELHO DE MAGALHÃES
Nasceu Niterói – 18.10.1836
Morreu Rio de Janeiro – 22.01.1891
Militar, Professor e distinguido membro político do Brasil, ficou órfão aos 13 anos de idade e sentou praça aos 15 anos na Escola Militar concluindo seus estudos como Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas na Escola Central.
Como Tenente de Estado Maior de 1ª Classe fez concurso para repetidor de Matemática do famoso Colégio Dom Pedro II alcançando o primeiro lugar. Casou-se em 1863 com D. Maria Joaquina da Costa e em 1866 já era promovido a Capitão, posto no qual participou da Guerra do Paraguai distinguindo-se de maneira especial na formação da Linha Negra e trincheiras e baterias avançadas em Tuiuti.
Por volta de 1869 substituiu seu sogro na direção do Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant no Rio de Janeiro. Foi Professor de Matemática na Escola de Engenharia Militar, Escola da Marinha, Escola Normal da Corte, Escola Normal da Província do Rio de Janeiro, Escola Superior de Guerra e Instituto Comercial.
Em 1886 começa a tomar parte na vida pública do Brasil e já em 1887 fazia destacada proposição no Clube Militar para que o Exército adotasse a Abolição dos Escravos, e teve papel de destaque na direção dos alunos da Escola Superior de Guerra em favor da abolição e da República, sendo de destacar ainda sua atuação pessoal junto ao Marechal Deodoro da Fonseca para que aquele militar derrubasse o Ministério e fizesse a República.
No regime republicano conseguiu a criação do Ministério da Instrução Pública tendo sido seu primeiro titular, sendo depois membro do Governo Provisório da República, nesta condição dirigiu gestões para a adoação da atual Bandeira Nacional, da leio de separação da Iei de separação da Igreja do Estado e as reformas do Ensino Superior e Secundário. Em 1890 foi promovido a General deixando o já então Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos.
Foi dos mais destacados homens públicos de sua época.
ÁLVARO BOTELHO MAIA
Nasceu Humaitá – 19.02.1893
Morreu Manaus – 04.05.1969
Advogado, Professor, Político, Jornalista, Poeta, Ensaísta, Romancista, membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, era filho de Fausto Ferreira Maia e D. Josefina Botelho Maia, e tornou-se um símbolo nas letras e uma bandeira na política amazonense.
Filho do interior, sobre o qual escreveu muitos títulos, fez-se Bacharel na Faculdade do Rio de Janeiro, depois de iniciar este Curso no Ceará e ter passado pelos bancos do Ginásio Amazonense para onde retornaria como Professor anos depois. Jornalista de méritos, iniciou-se em “AURA, publicação levada a efeito pela classe estudantil de 1907 a 1912, e no Jornal do Comércio, escrevendo para “Vaticano” e “Radical”, do Ceará. Em 1917, de volta a Manaus, após seus estudos no sul do país, fundou o jornal “A Imprensa” com outros companheiros, tendo trabalhado na “Gazeta de Notícias”, do Rio.
Iniciou-se na vida pública como diretor da Imprensa Oficial, no Governo de Efigênio Sales, recebendo depois convite de Chateaubriand para publicar seus artigos na rede de jornais associados.
Nas letras lançou-se primeiro como poeta através do soneto “Cabelos Negros”, em “O Curumi”, em 1904, jornal estudantil e daí em diante floresceu no cenário da intelectualidade cabocla como um dos seus mais legítimos membros. Foi eleito, em 1925, em concurso da Revista “Redenção”, o príncipe dos poetas amazonenses”, mas seu primeiro livro só viria a público em 1943 “Na vanguarda da Retaguarda”, prefaciado por Chateaubriand.
Consagrou-se como escritor, por todos os anos de sua vida, partindo de um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, a seu Presidente e apresentando trabalhos em quase todos os gêneros literários. Daria o seu último vôo em “NAS TENDAS DE EMAUS”, divagações espiritualistas, em 1968. Consagrou-se como professor e educador profundo, voltado principalmente para a educação moral e cívica e português, ensinando até 1930.
Como político representa uma fase bem prolongada da nossa vida estadual, tendo sido Interventor Federal, Governador Constitucional, Deputado Constituinte, Senador da República e membro da Delegação Brasileira na ONU em 1948, quando apresentou importante trabalho sobre o genocídio.
Morreu em Manaus, quando Senador da República, e foi um político altamente atacado, de todos se defendendo com elegância e altivez, redigindo importantes peças de história e política como “Nas Barras do Petrório”. Foi um pensador, um ser humano completo, antes de tudo, e um orador brilhante, além de amigo dedicado e fiel, apesar dos inúmeros revezes que a vida lhe reservou.
ROMUALDO ANTONIO DE SEIXAS (DOM) – MARQUÊS DE SANTA CRUZ –
Nasceu Cametá/Pará – 07.02.1787
Morreu – 29.12.1860
Fez as primeiras letras do Seminário de Belém sob a orientação de seu tio, o Padre Romualdo de Souza Coelho, depois Bispo do Pará e foi Político, Arcebispo da Bahia e altamente condecorado pelo Imperador, além de ter legado discursos primorosos e vários Sermões e Cartas Pastorais de profundo valor social.
Concluiu seus estudos em Lisboa e ao regressar ao Pará foi lecionar no Seminário. Participou de diversas sociedades culturais e literárias nacionais e estrangeiras.
Foi homenageado com o título de Marquês de Santa Cruz e Grã-Cruz da Ordem de Cristo, Grão Dignatário da Ordem da Rosa.
Como político destacou-se, apesar de paraense, na defesa dos interesses do Amazonas, principalmente na dura luta pela Elevação do Amazonas à Categoria de Província contra toda a reação do Governo do Pará que, até então – 1850 – , dirigia a Comarca do Alto Amazonas.
Em Manaus deu nome a um logradouro público, no centro da cidade, homenagem que apesar de honrosa, ainda se nos parece reduzida para a elevada participação política e social de Dom Romualdo Seixas nestas paragens, no que concordamos com Agnello Bittencourt.
Representou uma das figuras mais importantes de sua época, mantendo-se com altivez quando atacado e ferido na sua honra, chegando a deixar escrito um testamento oficial em que perdoava a todos que o haviam atingido, reafirmando-se como justo e sóbrio como antes se havia firmado na cultura e nas letras em todo o Brasil e na Europa através de seus escritos de raro fulgor.
JOÃO XXIII (Papa) – Ângelo Roncalli –
Nasceu Bergamo – 25.11.1881
Morreu Roma – 03.06.1963
Foi ordenado sacerdote em 1904, tendo sido secretário particular do Bispo Giacomo Radini-Tedeschi, da cidade de Bergamo, famoso por suas idéias liberais.
Em 1921 foi convocado para os serviços diplomáticos da Igreja, indo para Roma e sendo, desde de 1925, representante do Papa na Bulgária e no período de 1934 a 1944 legado apostólico na Turquia e em 1944 ainda, Núncio Apostólico em Paris. Em 1953 foi nomeado Patriarca de Veneza e Cardeal sendo eleito em 25 de outubro de 1958 para substituir o Papa Pio XII, rompendo, a partir daí, com toda a política religiosa então vigente e iniciando nova época na história da Igreja.
Depois de 1870 foi o primeiro Papa a se deslocar de Roma, sendo fiel adepto ao movimento ecumênico, fazendo efetivo relacionamento com os chefes de outras seitas, a exemplo dos seus contatos com o arcebispo de Canterbury, com o moderador da Igreja da Escócia e com os países, seus embaixadores e membros do Governo, mesmo de países com os quais o Vaticano não mantinha relações diplomáticas.
Promoveu a modernização da Igreja e suas Encíclicas demonstram seus especial interesse em efetivar o envolvimento pacífico da Igreja na vida Política, econômica e especialmente social dos povos. “Mater et Magistra”, em 1961 e “Pacim in Terris” em 1963 são os documentos mais significativos dessa decisão, e que tiveram imensa ressonância em todos os círculos sociais de sua época.
Convocou o Concílio Vaticano II, ecumênico e que se reuniu em 11 de outubro de 1962, firmando-se como uma das mais célebres personalidades históricas deste século.
WALDEMAR PEDROSA
Nasceu Manaus – 29.03.1888
Morreu Manaus – 14.06.1967
Professor, Jurista, Político e intelectual, filho de Jonathas de Freitas Pedrosa e D. Ermelinda Maria Pedrosa, fez-se líder na escola, como aluno e como mestre, impondo-se depois como político e jurista fora de nossas fronteiras nacionais, consagrou-se, também, como homem simples, humano e amigo, sempre afeito ao bem e ao espiritualismo como filosofia.
Percorreu todos os caminhos da política chegando ao Senado Federal e sendo representante do Brasil na ONU em 1951, após um caminhar estudantil iniciado no Colégio Pedrosa, de seu genitor, até formar-se em Direito no Rio de Janeiro, passando pelo Colégio Carneiro Ribeiro.
Foi brilhante em todo o seu caminhar e fez-se líder político muito pela amizade às pessoas, pois em todos fazia explodir uma alta sensação de segurança e paternidade. Ocupou os mais relevantes cargos na vida pública, a partir de Procurador Fiscal da Municipalidade de Manaus, Deputado Estadual, Secretário Geral do Estado, Interventor, Presidente da OAB/AM, Procurador Regional da República, Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros no Amazonas e Professor Universitário.
Como Orador, foi equilibrado, sereno até suave, como prefere Agnello Bittencourt, tendo deixado várias contribuições em revistas da Universidade de Manaus e da Academia Amazonense de Letras, artigos em jornal, discursos e pareceres no Senado Federal, ale’m de “A Sociabilização do Direito, A Anterioridade da Lei, A Extinção dos Mandatos Legislativos em face da Constituição, o Brasil da Comissão de Tutela da ONU”, todos importantes peças jurídicas e sociais para a nossa história.
A seu respeito Aderson de Menezes escreveu um trabalho que demonstra a sua amplitude de intelectual e mostra-o como mestre de gerações, jurista e estudioso de línguas, amante do bom e do belo, altamente sensível como só um artista da palavra pode ser.
Estou com grande parte de um trabalho sobre esta personalidade de nossa terra, já escrito, e pretendo lançá-lo em breve, até com algumas informações de família, pois unime a sua descendência, realizando talvez o mais completo trabalho biobliográfico até hoje escrito no Amazonas, o que ainda será pouco para divulgar o valor e a amplitude moral deste homem.
DOM PEDRO MASSA
Nasceu Itália – 29.06.1880
Morreu Rio de Janeiro – 15.09.1968
Religioso dedicado especialmente ao nosso Estado, ingressou na Ordem dos Salesianos a 15 de Janeiro de 1905, exerceu vários cargos e funções na Igreja, por todo o Brasil, até chegar a nossa região como Administrador Apostólico no Rio Negro, em julho de 1921. Foi sagrado Bispo em 1º de maio de 1941 e a seguir nomeado prelado do Rio Negro.
Dedicou-se, com seus companheiros, às missões no Alto Rio Negro, lados de São Gabriel da Cachoeira, juntando os Salesianos às Filhas de Maria Auxiliadora, realizando excelente trabalho com os indígenas da região, até hoje em vivo no sentimento de nossa gente e cujos resultados se multiplicaram no correr dos anos.
Um dos baluartes do Patronato Santa Terezinha, criado para a educação de jovens de sexo feminino, escreveu obras de profundo valor para a região como, “Pelo Rio Negro, Perfis Missionários, Carta Pastoral, De Tupan a Cristo”, seu melhor trabalho.
De seu trabalho inigualável em todo o Brasil, disse “Juscelino, em 1959 – “duas obras gigantescas se realizam neste país: a construção de Brasília no Planalto Central e o erguimento do Alto Rio Negro, ambas de incomparável alcance nacional, político e internacional”, quando visitou aquela região, em outubro daquele ano.
Seu trabalho reconhecido por todos deu-lhe o título de Cidadão Benemérito do Amazonas, pela Lei nº 24, de 18 de agosto de 1960, além da Comenda da Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro.
Com uma vida inteiramente dedicada ao nosso índio, ao homem interiorano, D. Pedro Massa fez-se símbolo inigualável nesta labuta, forjando caracteres e dirigindo instituições de benemerecência sem nenhum envolvimento político, fazendo educação e levando orientação cristã e educacional a todo o grande e expoente alto Rio Negro.
ALFREDO AUGUSTO RIBEIRO JÚNIOR
Nasceu Rio de Janeiro – 14.05.1877
Morreu – 29.06.1938
Militar brasileiro, era filho de Alfredo Augusto Ribeiro, e sentou praça em setembro de 1906, sendo declarado Tenente no dia 3 de novembro de 1915, 1º Tenente em 28 de abril de 1920, Capitão em 15 de novembro de 1930 e Major em 17 de outubro de 1935.
Aqui chegou como 1º Tenente, para o 27º Batalhão de Caçadores, a 28 de março de 1924, e foi responsável pela maior transformação política já havia no Estado, à época, altamente necessária. Foi através de seu entusiasmo que o Amazonas aderiu às idéias revolucionárias em propagação pelo sul do país, especialmente São Paulo, e fez com conhecimento do Movimento de 1924, uma verdadeira Revolução, com o levante das tropas da Guarnição Federal às 19 hs do dia 23 de julho, que teve ampla aceitação popular, daí surgindo o herói, depois incompreendido como tal, e ao final liberto para a glória da história.
A crise administrativa interna no Governo do Estado não ficou superada com a viagem de seu Chefe para a França e posse de Turiano Meira na governança estadual, e o gênio impetuoso de Ribeiro Júnior e seus camaradas foi que deu asas aos desejos do povo – liberdade e honestidade na política estadual.
Depois das lutas, e da vitória da Revolução, a seguir sufocada por outras patentes militares, foi preso e transportado para Belém e depois de julgamentos sucessivos e decretação de prisão por 3 anos, 9 meses e 15 dias, em 1926 seguiu para a prisão Militar da Ilha Grande sendo solto em fevereiro de 1927, apresentando-se em Manaus, no 27 BC, a 7 de julho deste mesmo ano, para em 1930 ser contemplado com a anistia geral do Decreto de nº 19.395, de 8 de outubro.
O povo soube reconhecer seus méritos e o fez Deputado Federal nas eleições de 1934 ao lado de Carvalho Leal e do líder dos trabalhadores Luiz Tirelli. Dissolvida a Câmara, em 1937, foi mandado reverter ao serviço ativo do Exército indo para o 6º BC.
Se cometeu crimes militares por liderar em Manaus o levante que se tornou na Revolução de 1924, capítulo especial de nossa história ainda a ser estudado convenientemente, foi endeusado por muitos e sacrificado por outros, eliminou a mais horrenda oligarquia de que se tem notícia em nossa terra.
A ele o povo dedicou uma praça pública, hoje extinta pelas necessidades de progresso, e seu busto esta localizado na Praça da Saudade em panteon cívico, ao lado de Agnello Bittencourt.
FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA VIANA
Nasceu Rio de Janeiro – 20.06.1883
Morreu Rio de Janeiro – 28.03.1951
Sociólogo, historiador e jurista brasileiro, nascido na Fazenda Rio Seco, em Saquarema, estudou em Niterói e na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, tendo sido Professor de vários colégios e de Direito Criminal na Faculdade de Direito do Estado do Rio de Janeiro, iniciou-se na vida pública como diretor do Instituto de Fomento Agrícola do Rio, em 1926.
Ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras na Poltrona de Cláudio Manoel da Costa, tem alta importância como sociólogo para os estudos de nossos problemas sociais. Destacou-se como altamente sensível para as necessidades das classes trabalhistas, e como Consultor Jurídico do Ministério do Trabalho, de 1932 a 1940, pode expor suas idéias e depois vencê-las em várias obras.
Escreveu, dentre outros trabalhos: “Populações meridionais” do Brasil; o idealismo na Constituição; Pequenos estudos de Psicologia Social Evolução do Povo brasileiro; O Caso do império; Problemas de política objetiva; Problemas de Direito Corporativo; Problemas de Direito Sindical; Direito do Trabalho e Democracia Social; Problemas de organização e problemas de direção (sua obra póstuma).
Membro da Comissão encarregada do anteprojeto de Constituição Federal em 1934, da Comissão Revisora da Lei, no Estado Novo, chegou a Ministro do Tribunal de Contas da União, cargo em que se aposentou, e ao falecer, sua residência, em Niterói, na Alameda São Boaventura 41, foi adquirida pelo Governo, através de autorização da Lei 1208 de 14 de junho de 1951, para ser instalada perpetuamente, a Casa Oliveira Viana, com toda a sua biblioteca.
Seu trabalho sociológico pode ser questionado, como vem sendo, mas tem que ser considerado em seus mínimos detalhes como reflexo de uma época mais precisamente, de um momento político-social brasileiro, quando da elevada influência das classes trabalhadoras na vida do país, acontecida através do próprio Chefe da Nação, cujas orientações governamentais eram sempre dirigidas para a valorização do trabalhador e seu arregimentamento em sindicatos de classe e representação eleita para as Câmaras legislativas.
Deste ângulo, seus questionamentos jurídicos-sociais são válidos, necessários e fixadores de uma fase da vida da nação.
DEPOIMENTO
Recordo-me, vagamente, de ter participado de uma ou duas reuniões de Lobinhos, no Grupo “Murilo Braga”, e no então SESC-SENAC, à rua nos Grupos Martins, mas de bem vivo na lembrança trago a minha participação nos Grupos de Escoteiros “Ribeiro Júnior”, do Sindicato dos Empregados no Comércio de Manaus, à rua de Luis Antony, e no Grupo Escoteiro “Oliveira Viana”, do Sindicato dos Estivadores de Manaus, à rua de Visconde de Mauá.
No primeiro iniciei-me como Noviço, fiz 2ª classe e 1ª classe, fui Escoteiro, Submonitor, Monitor das Patrulhas CASTOR e LEÃO, Guia de Tropa Escoteira, Chefe de Tropa e Chefe de Grupo. Segui, assim, todos os escalões do “Ribeiro Júnior” até o fechamento de suas portas por desinteresse do Sindicato mantedor do movimento, quando grande era nosso acervo material escoteiro, biblioteca, museu e administrativo.
Não sei mesmo como terminou, ao certo. Afastei-me para uma pequena viagem de férias em Fortaleza/Ceará e ao retornar encontrei-o de portas cerradas. A nova Diretoria do Sindicato dos Comerciários não tinha conseguido entrosar-se com os Chefes da época, foi a posição que recebi dos próprios escoteiros. A verdade é que o Grupo, que no seu início e tempos de farto desenvolvimento era totalmente mentido pelo órgão classista dos comerciários, já nesta época não recebia nenhum apoio financeiro ou material, mantendo-se sabe Deus como, apenas usando metade do porão da sede social do Sindicato.
Parti para uma nova etapa de minha vida escoteira que foi a organização de um Grupo, encontrando repercussão na idéia, junto à Diretoria do Sindicato dos Estivadores de Manaus, através de seu Presidente Edgard Anselmo Franco e um de seus Diretores, conhecido como Neco, antigo escoteiro de um grupo que esteve em formação lá pelos lados do Bairro da Glória, há decênios passados.
Ao fazê-lo procurei dar uma estrutura dinâmica, voltada para todas as necessidades da juventude, estabelecendo programas de apoio geral aos meninos. O Sindicato foi todo incentivo para a iniciativa, lembro-me bem da reunião de instalação do Grupo e da alegria dos pais em poder possuir, em seu meio de trabalho, tão desgastado por problemas políticos anteriores, uma convivência sadia voltada para uma melhor formação cívica. O Capitão dos Portos ofereceu integral apoio e se fez presente à reunião preliminar para instalação oficial do Grupo Escoteiro “Oliveira Viana”. Foi uma brilhante sessão e já neste dia, estavam alguns futuros escoteiros do novo Grupo, empolgados com a idéia que foi avante de maneira quase relâmpago e, no meu entender, da mesma forma se diluiu no tempo e no espaço, anos depois.
Recordo-me bem, do primeiro contato para iniciar-me no Escotismo. Estávamos, eu e minha amada mãe assistindo o Festival Folclórico do Amazonas, na Praça de General Osório e Dona Elita, uma antiga conhecida da família ao conversar, apresentou-nos Francisco, seu filho que estava “dando serviço” como escoteiro na manutenção da ordem durante o Festival. A idéia já me fascinava há tempos e deste encontro em diante fiquei instigando a todos até dar entrada no “Ribeiro Júnior”, em uma tarde de sábado, levado pela mão da mestra e mãe.
Senti a completa realização interior. Encontrei chefes como Trindade, Alfredo, Roberto Kahané, e vários meninos bem alegres a aprenderem “sinais de pista” no chão de cimento de pátio externo do Sindicato, gravados com pedra vermelha. Dei-me inteiro no movimento e cresci dentro dele, fazendo amigos e irmãos em escotismo, criando e inovando, dinamizando os festejos gerais, procurando compreender os meninos e auxiliá-lo, sendo incompreendido. Fiz-me escoteiro por adesão, chefe por trabalho profundo e dedicação a meus companheiros e guardo de todos os momentos, imensas recordações.
Desde os estudos para o “canto e grito de patrulha” até a elaboração de um planejamento mais completo para o ano escoteiro com campanhas de divulgação, capazes de fazer surgir novos filiados ao movimento, chamadas de expansão do escotismo, de tudo fiz no “corpo de tropa” e em tudo, por todos os anos, está o meu suor quase infantil, o meu vigor inicial da juventude, a minha saúde e a minha própria vida. O Escotismo no “corpo da tropa para mim foi um verdadeiro desenrolar de sucessos interiores pela alegria que senti em todos os companheiros, pela minha própria realização como “homem em formação”, pelos elevados sentimentos cívicos que brotavam e dos quais eu me apercebia com gravidade.
Na sede, na marcha, no campo, nas elevadas reuniões com chefias de outros Grupos, nos Conselhos, sentia sempre a mesma chama de amor e dedicação à causa de B.P. que se tornou de toda a humanidade, por sábia e sadia.
Pus-me então em contato com os outros chefes, com as Direções Regionais do Escotismo e finalmente com os grupos dirigente em todo o Brasil. Foi um caminhar completo, para o qual nunca me faltou pernas nem sentimento, embora reconheça que em alguns momentos me tenha fugido a calma ou me tenha ressentido da experiência que só o tempo e o peso da vivência pelos anos afora pode dar ao ser humano. Mas mesmo assim não me comprometi no movimento, porque mantive sempre acesa a chama do ideal de que falei várias vezes aos “meus meninos” e que me tem mantido de pé, para a luta incessante do caminhar pela vida na batalha diária.
Na realidade meus contatos com a direção do Escotismo, com os alto escalões regionais aumentaram, tornaram-se amiúdes, já quando estava no Grupo “Oliveira Viana”, foi quando participei da organização do CONSELHO REGIONAL DE CHEFES, de uma Revista Escoteira Regional, responsabilizei-me pela divulgação geral da Região através da imprensa criando uma coluna escoteira. Foi quando explodiu o novo Grupo, com gestões que na sua amplitude não foram compreendidas por alguns membros da direção regional. O Grupo formou-se implantou-se, ganhou conceito e respeito pela organização e seguiu passos de elevada formação para os seus filiados, familiares e até, expandiu-se para a Comunidade, trabalho que hoje vem sendo recomendado amplamente em todo o mundo.
As experiências adquiridas no “Ribeiro Júnior”, os modelos forjados no contato com chefes e escoteiros, deram-me uma imagem ampliada do Movimento, renovadora. Fui utilizar estes recursos no novo Grupo, o do Sindicato dos Estivadores, em cujo meio o movimento conseguiu sucesso absoluto. Da primeira solenidade de Promessa Escoteira tomaram parte vários meninos e o Chefe de Grupo, Edgard Anselmo Franco, Presidente do Sindicato, à época, numa solenidade simples e marcante para todos, com a reunião dos pais e amigos dos noviços, com uma exposição de um pequeno Museu escoteiro, com a abertura de um Concurso de Fotografias sobre Escotismo.
Em muitos momentos, nas campanhas de educação do trânsito, nas exposições em público (Eduardo Ribeiro ou Chapéu de Palha) nas reuniões do Conselho de Paisnas festividades da Semana Escoteira, na Rádio Baré levando ao ar nosso programa de todos os sábados editando nossa Revista “orgulhosamente chamada de “Alerta”, se não fui renovador, fui dinamizador, por as renovações são perigosas de dizer-se.
Na verdade, farto arquivo de comprovação do trabalho desenvolvido pelo Escotismo destes anos, do qual participei mais ativamente está em poder do escotista Marivaldo R. Silva, colecionador de um acervo excelente de fotografias e notícias dadas pela imprensa. Não tinha ainda a preocupação de fazer história, embora tenha tido, no Escotismo o primeiro lampejo de escrevinhador.
Afastei-me da Tropa, desgostoso pela incompreensão de um dirigente advindo das Minas Gerais, que me feriu profundamente, e também isolei-me em novas atividades para fugir ao desejo ardente de continuar mesmo assim e de agredir também. Afastei-me do Movimento e creio que coincidentemente as atividades públicas do escotismo-revista, coluna na imprensa, programa de radio, acampamentos de demonstração, campanhas do transito e de expansão, conselho regional de chefes, também perderam seu vigor.
Anos depois retornei à liça. Já não encontrava os viçosos para o futuro, esperançosos com a Pátria e fiéis a Deus, em Praça 14 de janeiro, quando a eles me dirigi a convite da Região do Amazonas, como um “antigo escoteiro” que na verdade ainda não cheguei a ser. Era apenas um irmão mais velho, afastado do movimento há alguns anos, que com entusiasmo dos primeiros anos de escotismo a eles se dirigiu numa saudação simples e que intimamente calou-se profundamente. Estava eu, de novo, envolto no trabalho escoteiro. Novos homens dirigiam a Região e buscavam soluções novas para problemas antigos, muito embora todos, em todas as épocas e em qualquer campo de atividades, tentem soluções para os problemas de seus órgãos.
Aproximei-me eufórico para as novas lutas e, talvez por estar mais experimentado, os abatimentos que desta reaproximação me advieram, soube superá-los na hora precisa, e continuar na caminhada, com uma promessa interior que me estarrecer diante de mim mesmo, continuarei, porque a incompreensão passará, já que surgiu de todos nós, numa quase completa confusão, numa defesa de ideais individuais da cuja renúncia se não nos aproximamos todos, eu o fiz, em benefícios da comunidade regional escoteira, e da ação do Escotismo no Brasil.
Eis porque estou e permanecerei no Escotismo – por ideal, o mais sublime e dignificante que possa ser traduzido em gestos de compreensão e amizade, de trabalho e progresso, de elevação e despreendimento espiritual, de uma constante boa são para com os outros e conosco mesmos, que é a prática do Escotismo.
Este depoimento não buscou ser um relato para os meus 15 anos de Escotismo, que a serem feitos, durariam páginas e páginas, mas tão somente uma justificativa para que o leitor saiba que não de ontem no Movimento, que tenho vivas as experiências de todas as fases que atravessei até alcançar Comissariado Nacional que me foi emprestado numa deferência muito mais ao nosso Estado, ao movimento aqui desenvolvido, que a mim mesmo, pois foi ao meu nascer para os Conselhos Nacionais.
Portanto o que aqui se acha, neste ensaio para a História do Escotismo no Amazonas com alguns enfoques nacionais e sentidos conceituais, é o resultado de uma experiência palmilhada a largos anos, com todas as alegrias e dissabores que aos humanos está reservado passar na terra. Por tudo, diria vim e continuo a caminhar, até vencer, na vitória que será da minha terra e do escotismo brasileiro.
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