A ETFA foi o aperfeiçoamento da Casa dos Educandos de 1856 quando em plena Província do Amazonas nos seus primeiros anos de vida política, era estabelecia e necessidade pública da organização de uma casa que reunisse crianças pobres e índios, para aplicar-lhes o ensino profissionalizante e musical. A nova Escola significou um marco de maior progresso educacional do Estado, tendo sido uma das molas mestras do aperfeiçoamento dos sistemas de ensino, condição altamente necessária para a adequação da escola aos interesses e necessidade da comunidade estudantil.
Depois da árduas lutas políticas, instalada a Província, o sistema de instrução pública se apresentava em condições de pobreza e deficiência geral, por demais enfraquecido para enfrentar as necessidades impostas pelo novo sistema político tão esperado. Começou a ser demonstrada, pelos dirigentes, a necessidade da implantação de uma casa de educação que atendesse aos pobres que eram a maioria dos provincianos porque não sendo, até então, a educação feita de forma obrigatória para a família, os pais preferiam que os meninos os ajudassem nas pescarias e em outros serviços necessários à sobrevivência e eram muito poucos os meninos que procuravam as escolas mantidas através de cadeiras de ensino, o Seminário ou os professores particulares.
Era necessário, dizia o Presidente da Província, que se preparasse pessoal habilitado a contribuir nos serviços das oficinas da sede e foi o Dr. João Pedro Dias Vieira, em sua Mensagem à Assembléia Provincial do Amazonas de 8 de julho de 1856, no capítulo destinado à Olaria Provincial quem fez as primeiras referências sobre a “Casa dos Educandos” quando dizi ter mandado construir no prédio da Olaria, duas oficinas, uma de ferreiro e outra de carpinteiro, demonstrando a intenção de criar ali com a ampliação de oficinas, uma Casa de educandos artífices, comprometendo-se a manter o estabelecimento e vestir educandos em nº 30 e 40, fazendo com que aprendessem as primeiras letras. Precisaria, entretanto, receber da Assembléia, o auxílio de seis contos de réis para contribuir na instalação de tão importante Casa.
Na interinidade da Presidência da Província, o Dr. Manoel Gomes Correa Miranda, 1º Vice-Presidente, em seu Relatório de 26 de fevereiro de 1867 concedeu capítulo especial à Casa dos Educandos que já estava concluída e mobiliada de acordo com a autorização contida em Lei Provincial, mas que por motivos políticos concederia a honra de instalação do estabelecimento, ao titular da Província, o idealizador da Casa, Dr. João Pedro Dias Vieira.
Em maio de 1867 a construção estava tendo continuidade, já estando com os altos colocados e alguns alicerces, sendo concluída em setembro deste ano com uma série de ordem estética, sem prejudicar a segurança do prédio, sendo estas relativas ao telheiro que consumiu até 1870 elevadas somas dos cofres provinciais.
Foi a Lei de nº 60 de 21 de agosto de 1856 que autorizou a Presidência da Província a criar um internato destinado a educandos artífices que, entretanto, não formasse somente operários, tão necessário na vida da Província, mas também efetuasse uma política global de ação filantrópica de educação profissional aos órfãos e desvalidos, porque se não tivesse este objetivo teria sido mais econômico para os cofres provinciais mandar vários meninos estudarem os ofícios em outra Província ou de lá mandar vir profissionais já habilitados para a realização das obras na sede do Amazonas.
Era reconhecida a necessidade de termos elevada bases econômica na agricultura, mas também se fazia necessário que atuássemos na industria de manufaturas, daí uma das grandes razões para ser dinamizada a Casa dos Educandos que pudesse também, como a seguir demonstraremos, servir de escola agrícola, a exemplo de instituições existentes na Suíça.
Com sua sede no prédio da Olaria Provincial, foi criado o exemplo do estabelecimento já existente no Maranhão, mas destinado a se amoldar nas idéias básicas de educação profissionalizante rural. O prédio deste modelar estabelecimento tinha um só pavimento com 82 pés de frente e 47 pés de fundos, para 15 pés e meio de altura e estava totalmente mobiliado em 21 de setembro de 1857 com seis carteiras, uma mesa pequena, onze bancos, uma cabine e um armário pequeno, além das oficinas de carpintaria e ferreiro.
Este prédio havia sido construído para ser a sede da arrecadação e moradia dos empregados e enfermaria da Olaria Provincial e embora já concluído, apresentava defeitos diversos como a alagação das paredes internas em conseqüência dos problemas de madeiramento superior desde a sua colocação original.
Embora criado em 1856 este estabelecimento só foi instalado em 25 de março de 1858, às 10 hs com as pompas possíveis, e já abrigava 16 meninos desvalidos, número este logo a seguir acrescido para 17, destacando-se 3 índios. Instalado com a quantia de seis contos de réis, bastante reduzidos para tal empreendimento, o estabelecimento de formação de artífices precisava atender os restos das tribos indígenas, dando educação aos filhos nativos, porque era esta a filosofia da administração provincial.
No ato de instalação da Casa dos Educandos era Presidente da Província o cidadão Francisco José Furtado e foi nomeado como primeiro Diretor, em caráter interino, o então Capitão Aristides Justo Mavignier, que era também Chefe da Secção da Tesouraria da Fazenda e foi designado para acumular as funções de Professores das primeiras letras, sendo substituído nas funções de Diretor, pelo Escrivão interino, da escola.
As primeiras aulas forma de música e primeiras letras e nas oficinas de marceneiro, carpinteiro e torneiro, estas inauguradas em 27 de março, e a aula de música em 18.05 pelo Professor Francisco da Silva Galvão contratado em 18.08.1856, para ministrar aulas nas segundas, quartas e sextas-feiras, à tarde, com a duração de duas horas.
Para conseguir o crescimento da escola o Presidente Francisco José Furtado recorreu ao ex-Presidente e idealizador do estabelecimento, João Pedro Dias Vieira, para que este contratasse no Maranhão, dois educandos mestres e recomendava à Assembléia Provincial que era necessário, além de conceder-se ensino profissionalizante nas oficinas já existentes, também incentivar uma industria agrícola, a exemplo do ensino de primeiro grau de França, de forma mais prática que teórica para a preparação de administradores rurais para a Província, porque era necessário que o povo se dedicasse ao ensino agrícola e ao ensino industrial.
Com o afastamento do Diretor interino, Justo Mavignier, que dirigiu a Casa de março a 14 de abril de 1858, assumiu a Diretoria o Escrivão interino Sebastião José de Figueredo Tavares que dirigiu o estabelecimento até 1º de abril de 1859, quando foi empossado o novo Diretor Álvaro Botelho da Cunha que foi muitos anos Secretário da Câmara de Manaus.
As primeiras oficinas começaram a funcionar com a participação de seis educandos, servindo de mestra o cidadão José de Mattos e exercendo as funções de médico o Capitão, Cirurgião-Mor da Guarda Nacional José Miguel de Lemos que tinha a grande vantagem de residir perto da escola. Os registros gerais da escola eram feitos em seis livros, sendo um para matrículas de alunos, um para registro de freqüência de alunos, professores e funcionários, outro para registro da correspondência, um livro próprio para movimento de objetos e outro de inventário, tudo sob a fiscalização e orientação do Inspetor do Tesouro.
Nesta época haviam 4 africanos, dois homens e uma mulher para os serviços de cozinha, atividades internas e externas e para a lavagem de roupa e a Carpintaria construiu as primeiras peças para uso do estabelecimento. A louça era deficitária e o transporte era atendido por uma canoa velha que tinha sido transferida da Diretoria de Obras Públicas juntamente com os toroa e algumas ferramentas para a Carpintaria.
Várias obras nos quartos, cozinha, enfermaria, refeitório, arrecadação de comestíveis, xadrez e latrina se faziam necessárias com muita urgência, além do reparo no telheiro que serviria para as novas oficinas, e tudo poderia ser providenciado porque havia um corpo de guardas destacado para tomar conta dos educandos, evitando a fuga, e do estabelecimento.
Era necessário, para segurança e facilidade de atuação do corpo de praças, a limpeza do mato nos arredores do prédio e a derrubada dos casebres dos africanos, além de criação das oficinas de ferreiro e sapateiro. De acordo com o primeiro Relatório do Diretor da escola, datado de 14 de agosto de 1858, estava estabelecido no orçamento da Província, para o ano seguinte, no item 32, uma previsão de despesa de 8:675$000 réis.
Em abril de 1859, inicio de nova administração na Diretoria do colégio, existiam 19 educandos e 9 faziam serviços nas oficinas de carpinteiro e marceneiro e os demais exercitavam apenas atividades agrícolas por não existirem, em funcionamento as demais oficinas do estabelecimento. Se não fossem instaladas, neste ano, as oficinas de sapateiro, alfaiate e ferreiro, o estabelecimento não poderia se manter com os seis contos de réis dados pelo Governo, visto que as despesas montavam em 8:240$000 rs.
Em abril de 1859, início de nova administração na Diretoria do colégio, existiam 19 educandos e 9 faziam serviços nas oficinas de carpinteiro e marceneiro e os demais exercitavam apenas atividades agrícolas por não existirem, em funcionamento as demais oficinas do estabelecimento. Se não fossem instaladas, neste ano, as oficinas de sapateiro, alfaiates e ferreiro, o estabelecimento não poderia se manter com os seis contos de réis dados pelo Governo, visto que as despesas montavam em 8:240$000 rs. Ficava demonstrada também a necessidade de colocar outra pessoa para a distribuição de gêneros e peças de carga, visto que este serviço, por necessidade administrativa, não poderia continuar sendo feito pelo próprio almoxarife, como também se fazia necessário a contratação de dois serventes.
Implantado o Regulamento de 26 de março de 1858, aprovado pela Lei 104 de 9 de julho de 1859, vamos encontrar, em dados estatísticos, em 1860, o estabelecimento com as seguintes condições: 29 educandos, todos nas aulas de primeiras letras e música instrumental; alguns nas oficinas profissionais; seis alunos externos para música e oficinas; sete alunos externos para as primeiras letras. O comportamento e aproveitamento dos educandos era elogiável e a situação sanitária, apesar dos problemas de cheia e vazante dos rios, era satisfatória, apesar da dormida em tarimbas, o que era responsável por alguns problemas nos educandos.
A conduta dos funcionários era boa, com especial destaque para o almoxarife, à exceção do professor de música por cometer sempre, falta de delicadeza com os alunos e contrariar as normas ditadas pela diretoria. O Diretor era, cumulativamente, o Tesoureiro do estabelecimento, e ele mesmo reclamava desta situação porque não recebia “diferença de caixa” e o seu reduzido salário não compensava o exercício das duas funções. O professor de primeiras letras ganhava em igualdade de condições com o Escrivão e Almoxarife.
Estavam em pleno funcionamento 5 oficinas; alfaiate, marceneiro, sapateiro, livreiro e ferreiro que já podiam oferecer saldo financeiro para a escola. Era recomendada a substituição das oficinas de charuteiro e chapeleiro, porque não pareciam viáveis economicamente, pelas oficinas de loteiro, armeiro ou tanoeiro. As oficinas de livreiro e ferreiro que não estavam autorizadas no Regulamento do colégio foram implantadas em razão de dois presos que foram enviados pelo Presidente da Província, para cumprir pena no estabelecimento e que se puseram a ensinar estes ofícios aos educandos, mas foram homologadas por Ofício do Governo Provincial, datado de 14 de fevereiro de 1860.
As reformas nas instalações do prédio, tão reclamadas pelo Diretor, ainda não haviam sido feitas, apesar do preparo da planta das obras. Em razão desta demora da repartição das Obras Públicas e porque a cozinha desabou, o Diretor mandou reconstruí-la, coberta de palha e que acabou servindo para cozinha, quarto do cozinheiro, sala para as oficinas de livreiro, alfaiate, serralheiro e sapateiro e 5 quartos para moradia dos mestres.
Era de todo necessária uma reformulação de vários artigos do Regulamento porque era preciso incentivar as vocações dos educandos que, pelo Regulamento, estavam obrigados, a primeiro, cumprir o aprendizado de alfaiate; e o horário deveria ser determinado pelo Diretor, como também a entrada e saída de alunos e uma nova tabela de gestos alimentares deveria ser estabelecida.
Os serviços de reformas e obras diversas, deste período, foram orçados em 1:196$000 rs e iniciados em 27 de agosto. Com o aumento das oficinas cresceram as despesas e o rendimento da escola estava previsto para 4:209$000 rs, nos três primeiros meses do exercício de 1861 já havia alcançado 1:788$140 rs, mas, mesmo assim, era recomendada a diminuição de diárias dos professores, contenção de despesas de compras diversas. O Presidente, entretanto, mandou comprar, em Paris, os instrumentos da Banca de Música considerada de elevado interesse provincial.
Haviam 26 estudantes no estabelecimento e todos cursavam as primeiras letras, cabendo a 18 deles, o exercício das aulas de música, enquanto que nas oficinas eles estavam distribuídos em: 10 na mercenária, 3 na oficina de ferreiro, 3 na sapataria, 2 na oficina de livreiro e 7 na alfaiataria.
Dando continuidade à retenção de despesas, era recomendado pelo Diretor da escola, que se fizesse a importação de gêneros alimentícios da Província do Pará que aqui chegavam muito mais baratos.
Em 1862 tinhamos 31 educandos e os instrumentos haviam chegado da Europa, sendo concedido pelo Governo, um auxilio especial de 2:400$000 rs, através da verba de auxilio à catequese dos índios. Coube à Casa particular da Exposição Nacional da Industria com diversos objetos enviados a Corte e manufaturados pelos próprios educandos nas oficinas-escola.
Devemos consignar aqui, referência especial ao Pêmio Ramos Ferreira, instituído pelo admirável homem público, que consistia em que, em cada uma das oito escolas do ensino primário, distribuídas nos lugares em que estivesse funcionando Câmaras Municipais, fosse concedido um prêmio especial aos alunos de curso primário e secundário de hospedagem no estabelecimento dos educandos com roupa e livros pelos cofres da Província, no período de 5 anos, a fim de que pudessem freqüentar o Liceu. Era necessário, para o recebimento deste Prêmio, a aprovação plena nas matérias, para o mérito, comportamento moral e literário que evidenciasse um real destaque dos demais estudantes.
Estavam excluídos desta premiação, apenas os estudantes da Casa dos Educandos, porque já gozavam destes privilégios.
Para o ensino secundário, o Prêmio consistia em pagamento de Cr$ 100 mensais para cada dois anos escolhidos no Liceu, de cinco em cinco anos, a fim de que pudessem freqüentar ensino superior, no Império ou no estrangeiro.
Sem dúvida que a idealização destes prêmios significou incentivo a todos os estudantes provincianos e coube a Gustavo Adolfo Ramos Ferreira quando na direção dos negócios da Instrução Pública, em 1870, e que depois foi demitido a bem do serviço público, por motivos políticos e teve que pagar de seus reduzidos recursos financeiros, diversos equipamentos que mandou vir da Europa para o ensino da Província porque o Presidente de então se recusou, temporariamente a sanar os compromissos assumidos quando Ramos Ferreira exercia as funções de Diretor da Instrução.
Mas, em 1872 as matriculas da Casa dos Educandos Artífices estavam em 113 alunos e 7 mestres haviam sido contratados da Alemanha e já se encontravam em Manaus, apesar do contrato determinar que 10 fossem os mestres de oficinas. Um deles, ao aqui chegar, morreu atacado por febre amarela. Criou-se, para facilidade administrativa o cargo de Ajudante do Diretor e o de Capelão, que ainda permaneceram vagos, por algum tempo, por falta de pessoa qualificada na sede da Província.
Em 1879, quando era Diretor da Instrução Pública o Dr. Aprígio Martins de Menezes, na qualidade de Delegado da Instrução Geral da Corte, o Capitão Felinto Elísio Fernandes de Morais era o Diretor do Estabelecimentos dos Educandos e médico o Dr. João Pedro Maduro da Fonseca.
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