Discurso de Paraninfo
Aqui não estou para semear. Nem vim para colher. Vim para a conversa última da hora da consagração. É o que esperam os paraninfados daquele que escolheram para conferir-lhes a toga.
Discurso de Recepção
A Justiça e o saber são únicos. A simplicidade pura, a fé e a consciência, o progredir dos homens por todos os séculos.
Senhor Presidente,
Autoridades,
Homens deste Sodalício,
juventude estudiosa,
Gentis damas,
Culto Recipiendário.
Ao aqui chegar em 1973 em noite de homenagens a fulgurantes membros da sociedade amazonense, não poderia imaginar que, pouco depois, ainda nos meus primeiros 20 anos, tivesse que, desta tribuna de esplendia grandeza, sob a iluminação vibrante das inteligências de Vivaldo Lima, Nonato Pinheiro e Rodolpho Valle, tivesse eu, o mais pobre dos pobres de cultura, trazido para cá pela mínima generosidade dos homens do Instituto, que falar como Orador Oficial. Eu conhecia muito bem que para cá não viera para os ócios olímpios dos eleitos e sim para os esforços de novas semeaduras em um campo em que se renovam e se multiplicam os frutos do saber eterno, da História e da memória da vida humana.
A poesia do passado que sinto desde aquele dia, a aproximação dos gestos do ontem, a aspiração que venho fazendo, do perfume, das virtudes, pelos tempos e com o passar dos homens, da glória e história da Pátria, me entusiasmam para esta primeira fala como Orador Oficial deste Silogeu, mas não poderão esconder meus pequeninos dotes para tal.
Hoje, neste grave momento da minha vida, cumpre-me invocar as lutas gloriosas da Marinha do Brasil por todas as suas ações e principalmente na Batalha do Riachuelo. Cabe-me referir-me ao encerramento do III CICLO DE ESTUDOS – Semana de Álvaro Maia, e, também, tomando da palavra proferida por mim, junto à Bandeira do Amazonas, na noite de 25 de março, da minha posse, dizer que a história, sua cultura, é como uma destas conversações de ao pé do lar em que a família, quando se acha só, recorda as memórias de antepassados e parentes que mal conheceu, no âmbito dos afetos, na povoação da casa com entes que mais amamos. Assim, aumentado esta família, família da história e geografia do Amazonas, devo receber mais puramente em família sanguínea, o novo sócio da poltrona de nº 40, nomeada pelo Ministro Waldemar Pedrosa, o Sr. João dos Santos Pereira Braga, o irmão e o Doutor, o pesquisador e o homem, o estudiosos e seus estudos.
O 11 de junho de que me incumbe falar, nesta noite de fulgor, meus senhores, não é o mesmo que transfigurou as faces da nação, no passamento do ilustre e bravo cidadão Eurico Gaspar Dutra, o organizador da FEB, o Ministro e o Presidente do Brasil. O 11 de junho de que me incumbe falar é o de glórias e não de saudade, de vitórias para a Armada Nacional, o da Batalha do Riachuelo, numa fala de patriotismo no culto aos grandes militares que em Riachuelo se mostraram dignos de passar à História; patriotismo que nos conduz a imitá-los, se preciso for que faz das suas memórias, nossa veneração. Naquele ano, nesta data, abriam-se as portas que deviam conduzir as armas imperiais pela senda de imperecíveis triunfos, pelo forte valor e ação de Barroso, Pedro Afonso, Marcílio Dias, Osório Porto Alegre, os Fonsecas e tantos outros.
Fazemo-lo porque manter as tradições gloriosas, venerar nomes daqueles que serviram com o seu valor e o seu sangue, é indicar às gerações futuras o caminho do dever e da honra, este é local apropriado para esta reavivação, porque nele se guarda a Memória do ontem e se registra o que será a memória e a recordação histórica do hoje.
A Marinha de Guerra sob o comando de Francisco Manoel Barroso da Silva, com seus marujos, subiu o rio Paraná e bloqueou no Paraguai, as tropas comandadas por Meza, no canal situado entre a ilha Palomera e a Foz do Riachuelo. Perdemos a Corveta “Jequitinhonha”, sofremos 247 baixas, o marinheiro Marcílio Dias, o primeiro tenente Oliveira Pimentel e o Capitão Pedro Afonso Ferreira, entre outros, foram seus heróis, mas vencemos a Batalha que determinou o “Waterloo” de Solano Lopez e a Nação Brasileira, pela eternidade de sua existência, ficou a dever à Marinha, mas um gesto glorioso. O Exército não estavam reunidos nas províncias meridionais do país. Invadidos, isoladamente agredidos, foi graças à Armada que reunimos no Rio Grande do Sul as forças capazes de conter os invasores e daí por diante, desde o Passo da Pátria até eficiente Marinha, que contamos para assegurar a marcha vitoriosa do Exército, no reforço com reservas sucessivas e em apoio geral de movimentos e provisões.
Erguem-se aqui, nesta Casa de conservação e transmissão da Memória Histórica Nacional, as vozes da gratidão aos heróis quedados em favor do Brasil, à Marinha Nacional e por entre a corredeira dos rios desta Amazônia ainda se faz soar os traços a Deus palmilhar contínuo dos nossos Patrulheiros de águas, destacados defensores do território pátrio, asseguradores da integridade área nacional. Não descansem, Marujos do meu Brasil, convoquem-nos, a todos, para o cumprimento do legendário sinal de Barroso – “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever” cumpramos unidos.
Homenagem a ÁLVARO MAIA
Vem o Instituto Histórico desde 1973 realizando Ciclos de Estudos, exposições e conferências sobre a História do Amazonas, mas, nenhum como este que hoje se encerra solenemente, foi de tão grave importância. Prestou-se uma homenagem ao grande amazonida ÁLVARO BOTELHO MAIA, político, professor, advogado, intelectual, amante do belo da vida e do espírito, sincero nas amizades, honesto nas atitudes, íntegro, sob todos os aspectos.
Vários foram os oradores, vários os conceitos emitidos, diversos os relatos sobre a sua vida e obra, toda dedicada ao Amazonas. Hoje, nesta hora, se faz necessário, entretanto, que o Instituto, oficialmente, faça público o seu conceito sobre o grande filho de Humaitá. O TUCHAUA da liderança política de tantos anos, o poeta de enlevos especiais, o professor de gerações seguidas, o intelectual apaixonado pelas concepções de grandeza moral, que foi, antes de tudo, um justo, um sábio, um puro, senão um SANTO.
O que aqui se disse de Álvaro o estilista, o humanista, o administrador, o espiritualista, bem espelhou a grandeza da sua vida, e mais evidenciou, sem dúvida, a imensa dívida que o povo do Amazonas, tem para com a sua memória. Álvaro precisa ser distribuído por mãos cheias e caridosas, em doses de cultura, de amor à terra, de elevação espiritual, por todos os amazonenses que, após o conhecerem na profundidade das suas belezas morais e intelectuais, deverão distribuí-lo da mesma forma, com todos os brasileiros, sem vaidade, para puro exemplo e estímulo aos mais jovens, aos impulsionadores do progresso nacional.
O Ciclo de Estudos que agora se encerra foi o passo inicial desta pregação cívica que se deve promover, porque Álvaro se deve amar e imitar, bendizer e agradecer, estudar e ensinar e, sobretudo, abençoar. Aí então, dizer aos ventos sadios do mundo, “Levanta-te Álvaro, porque está vivendo”, revivendo suas próprias palavras.
Receber este ilustre advogado, creiam, enche-me de alegria e contentamento, mas me inibe o pensamento, força me à emoção, restringe-me os já reduzidos recursos de oratória e saber. Dizer dele como homem será fácil pela convivência íntima; como orador, também o será, pelas tribunas que o vi erguer na sua vida toda, deste quando para a sua companhia de irmão fui encaminhado pela providencia divina; como professor, da Ciência, da Matemática ou de Teoria Geral do Estado, no Instituto de Educação ou na Faculdade de Direito, também não será difícil, pois dele e com ele, recebi lições naquelas duas casas de ensino; falar do jurista, do tribuno do júri, do defensor dos humildes, para mim será tarefa realizável porque o assisti na grande sala do alto do Palácio da Justiça; falar do homem do Ministério Público será tarefa agilmente executável, porque ao seu lado, por algum tempo, o auxiliei como servidor à sua disposição, porém, muito mais o tenho acompanhado, em todos os seus passos desde que à terra fui chegado e consegui ordenar idéias e vontades. Tenho, em minha curta vida, feito o acompanhamento íntimo de metade da sua grande obra cultural e de paciência, e, sobretudo, da sua força espiritualista.
Difícil, senhores todos, creiam, muito difícil fazer toda esta análise, separar o sentimento familiar das verdades de sua vida, seria assim difícil se para tal não estivesse preparado.
Sintam, na análise e no transcorrer dos minutos que ainda vos ocuparei a atenção, o sentido de que está dispersa em mim a irmandade, para uma grandeza desta hora.
Não há que confundir, envolver, mistificar os sentimentos deste solene instante. Falará o homem do Instituto Histórico para o intelectual que é premiado, embora, ao fim, ao meio e em tudo, possa estar a adoração do companheiro, do discípulo, do servidor e do amigo mais amigo.
Muitas tem sido, atentai, as coincidências conosco, os acasos, como se eles existissem. Ingressas na poltrona que me é familiar, pelo número e pelo patrono. Pelo número porque era a que me cabia antes da reforma dos Estatutos do IGHA, pelo patrono, porque o traço da força magnética do espírito uniu-me, material e transcendentalmente, à família de Waldemar Pedrosa, mestre que, muito antes, já era adorado por nossa mãe, nos seus tempos de escola. Como se ainda não bastassem os encontros no Instituto de Educação, no ginásio, na Faculdade de Direito, no meu curso de bacharelado, no envolvimento provocado pelas defesas que fazias sublimes, dos humildes no Júri Popular; como se não bastassem os nossos encontros, há muito e nas alturas programadas, na vida da administração, quando te servi na Procuradoria Geral da Justiça e no viver diário, de aplauso e de apoio que nunca me deixaste faltar. Como se ainda assim, tudo fosse passado esquecido, hoje, diante deste seleto auditório, nos encontramos para nova festa, festa que se ilumina com o teu saber e que apenas me cabe, pela oportunidade anterior que tive, de abrir as portas e te convidar para a ceia da cultura, para o trabalho da história.
Não faltam, bem sabemos todos, em nosso país, homens com os predicados necessários, de engenho e caráter, para elevar a sociedade, o que se precisa fazer é descobri-los na humildade característica, e colocá-los a serviço público do saber.
O caráter inato, ponto de partida da evolução do indivíduo, complementa-se com o ter caráter que só se realiza quando a inteligência e a vontade, reagindo sobre o caráter ingênito, lhe imprime direção moral, e aí se dá o caráter como a fidelidade aos próprios princípios, a perseverança na linha de conduta, chegando-se assim à elite. E a ela se seguem atos de capacidade, habilidade, tato que exortam o fiel servidor, predispondo-o às belas situações e às honras, facilitando-lhe o avanço na vida, sem que ele o busque, o provoque.
Para o momento, melhor definirmos o caráter com Spinoza – é um teorema de cujo ambiente externo faz derivar a conseqüência com a necessidade matemática. O equilíbrio, a inteligência e a sinceridade, ordenam-se em tripé saudável para o homem bem formado.
Eis aqui, diante de nós, em solenidade nesta Mansão da Cultura, o seu exemplo perfeito, a conservação do segredo da mais serena personalidade, porque nele se reserva uma grande força espiritual capaz de irradiar ímpeto e paz, ao mesmo tempo, numa síntese de inteligência e caráter que, em definitivo, formam o espírito do homem voltado para o bem moral, social e das supremas elevações do amor.
Senhores sintam que a moral, sem a concepção religiosa é personalidade, não passando da exteriorização de um intuito e tal não se dá com nosso recipiendário.
Cidadão completo: sadio, porte donairoso, competência profissional, cultura polimorfa, educação apurada, senso de brasilidade, altíssimo nível moral, espírito artístico e sentimentalmente cauteloso, eis os princípios predicados que, ao encerrarem um complexo de atributos e virtudes põem em evidência marcante as linhas marciais de seu ilibado caráter. Na sua vida não há vestígios de aspirações subalternas, avidez, interesses injustificáveis, prescrição de rancor; em resumo, abnegação à prosperidade da família e da nação, é o que existe.
Coração magnânimo vive do fruto de uma bela consciência, da sã moral e dos princípios espirituais que professa, desprezando os conceitos maliciosos daqueles, que aturdidos na paixão de imoderadas pretensões pessoais relegam para segundo plano os deveres fundamentais para com os humildes, a comunidade e a Pátria.
Sabemos senhores, que a regra de nossas ações é que se chama lei e esta está gravada em nossos corações, como atestam a razão e a consciência com voz poderosa que clama pelo amor ao Criador. Isto gera a Ordem e cabe ao filosofo moral conhecer a ordem ou as diferentes ordens parciais de que se compõe a origem geral. O homem moral, portanto, será sempre aquele que quer atender esta ordem e obrar a respeito de cada ente. Este o retrato do homem como homem, que hoje é recebido nesta Casa, com o coração do simples, do espírito do justo, com disposição para a luta.
Mas, a mim, como Orador, cabe analisar a personalidade e a obras de quem aqui ingresse para os sabores de novos conhecimentos, desejo reviver as palavras de Vitor Hugo de que “a alma da terra passa para o homem” e esta alma do Amazonas, que embalou e entusiasmou o grande Álvaro Maia; que limitou em suas paredes ainda provincianas o destino glorioso de Leopoldo Peres escritor e orador de privilegiada organização; que recebeu já, tantos filhos de outras plagas e os fez seus adoráveis amantes, é a mesma alma, alma da mesma terra que recebeu por nascença João Braga, que vem fazendo eco aos seus estudos, transmitindo-lhe, da bondade de André Araújo à fusão das culturas dos nossos maiores homens públicos, uma vida de dedicação aos clássicos.
Como escritor e orador, o nosso recipiendário não é artista para um público faminto de banalidades, não é para a superficialidade das mentalidades apressadas é, antes sim, um escritor para as inteligências mais vividas, para as sensibilidades mais civilizadas para copiar Mário de Andrade.
Nele há uma regularidade ascensional quase absoluta, praticamente uma só fase, uma grande fase. Não lhe cabe o direito de se arrepender de ter escrito qualquer de seus trabalhos. A qualidade supera esmagadoramente a quantidade que, mesmo assim, não se faz reduzida.
Tomo de seus trabalhos e quase todos os estudos se fazem históricos e jurídicos, e até mesmo aqueles produzidos sob a pena estudantil da Faculdade, são a tradução de uma imagem firme, serena e sincera dos estudos do Direito. A sua peça de orador da Turma da Faculdade de Astrolábio Passos, de Aderson de Menezes e tantos mestres, é rara em transmissão de conceitos e votos de esperança, confiança na profissão, mensagem de crédito a todos os colegas, poucos por sinal, concitando-os a cerrarem fileira em defesa dos humildes, das leis, da verdade dos deuses da justiça.
O título de Bacharel, ganho em primeira colocação por todos os cinco anos escolares, foi colocado naquele dia memorável, no Salão Nobre da Faculdade da Praça dos Remédios, com a mais pura e santa e responsabilidade.
Em O JUDICIÁRIO COMO PODER DO ESTADO, pronunciado para os estudantes do Colégio Ajuricaba, donde foi Professor e Diretor, é a imposição solene da importância do Poder Judiciário na órbita dos poderes constitucionais, na obrigação de estar presente na observação do cumprimento das leis, da ordem e da conduta social. Ali nascia, publicamente, o homem voltado para as leis.
Os mestres o impressionaram muito. Dentre todos, entretanto, Aderson de Menezes deixou mais profundas marcas, e, no trabalho que cuida do Mestre Aderson como jurista e Professor, discurso na ordem dos Advogados, no Amazonas, em 1970, expõe a pureza do espírito, a dedicação a e cultura daquele que em nossos tempos, carreou a simpatia geral e o respeito das culturas nacionais.
A Ordem dos Advogados da qual foi Presidente, na secção do Amazonas, de onde saiu para ocupar a Procuradoria Geral da Justiça, no governo do Cel. João Walter de Andrade, ao completar 40 anos, deu-lhe a oportunidade de ofertar à sociedade e as letras caboclas, uma análise do que vinha sendo toda a atividade daquela instituição que filiou Ruy e grandes mestres das letras jurídicas brasileiras e regionais. A secional do Amazonas, faria surgir do íntimo sentimental e consciente do nosso novo consócio, meus ilustrados pares, brilhante discurso sobre a “responsabilidade de um mandato”, quando de sua posse na Presidência da Ordem dos Advogados, em fevereiro de 1971, e, ainda mais, lhe daria oportunidade de falar da função atual do advogado e sua participação no governo, numa amostragem de exemplos para as atitudes dos colegas de profissão, numa conscientização daqueles que buscaram na vetusta casa de ensino do Amazonas, os conhecimentos técnicos de suas vidas.
A Escola do saudoso André Araújo o receberia para magnífica aula sobre a “Democracia e seu conteúdo filosófico”, profissão de fé nos destinos do mundo democrático e cristão, exposição brilhante das bases filosóficas da grande aspiração dos homens – a democracia – realização maior do governo brasileiro.
O exame dos ângulos importantes para a regularização e conscientização da advocacia preocupavam-no muito, e, em 1972, na Semana do Advogado, falaria aos estudantes de direito sobre o Estágio profissional da advocacia e exame da ordem, dando-lhes uma orientação exata, segura, para o desenvolvimento daquela atividade quase escolar, encaminhada para o profissionalismo, necessário para o melhor índice de conceito dos irmãos de Teixeira de Freitas.
O Poder Judiciário do nosso Estado, sede e resumo de bandeiras de lutas de muitos magistrados insignes, e o sesquicentenário da independência, fariam com que fosse proferido discurso caloroso e aplaudido sobre o “Ministério Público e os 150 anos do brado do Ipiranga”.
Na Procuradoria da Justiça, passada em solenidade na Ordem dos Advogados, ao ilustrado consócio Moacyr Alves, fez realizar João Braga, o I Congresso do Ministério Público do Amazonas e, durante esta realização apoiada pelo governo, aplaudida pelo povo e que teve a participação dos Promotores, Procuradores e juristas, narrou, em detalhes históricos, a vida do Ministério Público e dos seus congressos, relembrando o I encontro realizado em São Paulo sob o secretariado de César Salgado aqui presente naquelas festas de luz e saber, e que teve a presença do Dr. Leôncio Salinac e Souza, representante do Amazonas. Ao apresentar, no mesmo conclave, o insigne Procurador Geral da República, hoje Ministro, Dr. José Carlos Moreira Alves, em dezembro de 1973, foi traçando com leves sentidos de artista, o perfil de um jurista, do dedicado e culto Procurador que proferiu brilhante aula a todos nós.
Os novos dirigentes do Tribunal de Justiça, para 1974, foram recebidos por entusiásticas palavras de confiança do então Procurador Geral da Justiça, e as profecias daquela manhã se fizeram verdadeiras, e a união marcou aquela administração, e o progresso do judiciário, se fez sentir.
A sua simplicidade, sem exageros mais verdadeiros, estava há impedir, há muito, que fosse cumprido um ritual do órgão dos advogados do Amazonas. A inauguração do seu retrato como ex-presidente na Galeria daqueles que a dirigiram, ao lado de fulgurantes personalidades.
A insistência dos amigos, a interferência dos mais chegados, em março de 1974 deu origem a uma sessão tocante de sensibilidade, de gratidão e simples. O então vice-governador, Dr. Deoclides de Carvalho Leal parte do governo ao qual servia com lealdade e denodo, fez pública a imagem fotográfica de “UM HOMEM FELIZ”, título do trabalho que o homem que aqui está, em homenagem, pronunciou naquela oportunidade. Na verdade, todos, parentes e amigos, estavam felizes ao lado do ex-presidente e conselheiro nato da secional do Amazonas.
O trabalho desenvolvido no I Congresso do Ministério Público do Amazonas lhe traria dois frutos – a certeza do dever cumprido no conjunto de suas ações naquele órgão público e o convite do Senhor Procurador, Lauro Guimarães, do Rio Grande do Sul, para abrir, em nome dos visitantes, o II Congresso Nacional do Ministério Público, em Porto Alegre, em 1974. A peça transcendeu de amor à Pátria, de convocação para a pátria dos interesses da classe, de realismo do quadro jurídico nacional e, na terra dos Pampas, recebeu a ovação das satisfações públicas e intelectuais.
Suas preocupações com a classe que com honra e dignidade dirigida, o Ministério Público, levaram o entusiasmo do eterno estudante, a realizar o Estágio de observação junto ao Ministério Público, pelos estudantes de Direito, para descobrir novos valores, para orientar os acadêmicos, para incentivá-los a seguir a profissão de defensor do exercido e da pratica das leis. Em maio de 1974, ao instalar o Estágio aqui referido, o Procurador João Braga mostrava sua importância, animava os seus participantes, tornava mais eufóricos seus ideais, em novo discurso.
“A Dinamização do Ministério Público” foi tese defendida quando da realização do I Ciclo de Estudos e debates sobre o novo Código Penal, em maio de 1974, em conjunto com vários órgãos de classe, voltado para as necessidades de que todos, novos e antigos cultores do direito, se entrosassem e discutissem os novos rumos recomendados pela codificação penal que se apresentava, aliás, com muita necessidade, já algum tempo.
Neste mesmo ciclo de estudos proferiu palestra sobre os “Crimes contra o patrimônio e as inovações do Código de 1969, onde expôs, com clareza, em linguagem capaz de ser entendida por estudantes e estudiosos mais profundos, o que de novo, de válido, se apresentava no conjunto de normas penais do novo Código”.
Os seus Pareceres como chefe do Ministério Público, todos vasados em harmonia de ideais na defesa da integridade do cumprimento das leis, são peças dignas de pesquisa e análise, e em todos, há a transparecer a imagem do homem sincero, justo, bom e equilibrado, capaz da defesa do bem jurídico, mas, ao seu lado, incapaz da ofensa, do vilipêndio ao bem humano.
Hoje, parte para a publicação na imprensa domingueiramente, de trabalhos novos, enfocando, como primeiro deles, os “aspectos do procedimento sumaríssimo”, é o homem divulgando, vulgarizando ensinamentos, o professor que rompeu as paredes das salas e busca a filosofia escolar de Sócrates, faz distribuir a todos, nas páginas de jornais que atingem grande massa, o que o seu raciocino e o sentido de pesquisa fizeram produzir.
Agora, a peça de hoje, composta entre o movimento do dia a dia do homem do foro, do Procurador Jurídico da Câmara, do chefe de família, do pesquisador, do leitor freqüente, deverá ser objeto de análise imediata de todos aqui presentes, e, sem dúvida, será o maior premio, a confiança que nele, todos nós do Instituto, a memória dos nossos ex-consócios, fundadores e presidentes, em nosso voto, na sua eleição, depositamos.
Vai ficar exposta à eternidade dos homens e destas paredes e nossos arquivos, a imagem que o Orador recipiendário trará, em pena de ouro e cores efervescentes de harmonia e ritmo e belezas espirituais, sobre o seu Patrono, e vai resplandecer os eu esquecimento de si mesmo, porque haverá a transfiguração do homem para o sublime, da carne e dos sentimentos, para o espírito, do coração para o saber e a consciência.
Depois de mim, como a comprovar que a história não pode a toda hora produzir gênios e caracteres eminentes, sobre-humanos, também ela tem intervalos de tensão, pausas de arte e de saber, e eu sou esta pausa, esta falta de caracteres de gênio, será ouvida, depois de mim, e agora, a força moral e a cultura, de quem ela é a própria encarnação dos momentos sublimes do saber, na forma dos cristais imaculados, na rigidez dos episódios mais marcantes da vida nacional, na força espiritual dos homens mais brilhantes, insuperáveis ante as, mas belas obras de arte, a poesia de todos os poetas, a força de todos os iluminados espíritos da órbita terreal e suprema.
Ouçamo-lo. Que venha a luz, a paz, o saber a moral humana, o equilíbrio, a fé e a razão. Que venha a paz e a justiça, a conservação da família, o amor ao próximo, que venham as luzes do mais radiante sol amazônico, que venha a tua fala, irmão e mestre, novo imortal do nosso Instituto Histórico, que venha a tua voz e o teu enlevo do coração feito para sentir e amar, da inteligência produzindo vibrações, do raciocínio só de ponderações. Que exaltes Waldemar Pedrosa, na sua grandeza terrena e espiritual, que te faças eterno na tua sabedoria e do saber daquele Ministro e Mestre. Assim será.
Discurso como orador oficial do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, na recepção do sócio João dos Santos Pereira Braga, em Manaus.
Falando aos Marinheiros
A soberania das Nações e a integridade dos territórios pátrios estão asseguradas pela honra e pela coragem dos bravos cidadãos que, no desenrolar da História, sobranceiros, impuseram e impõem a magnanimidade diante do adversário vencido, mas também reagem pela defesa do solo e pela ação destemida nas horas mais cruéis das guerras e das batalhas.
Autoridades
Senhoras, Senhores
Marinheiros – herdeiros de Tamandaré, Barroso e Marcílio Dias,
Curvo-me diante de vós e aos pés da História para rememorar o feito ardoroso de brasilidade hoje comemorado – a vitória das liberdades nesta parte do Mundo: a Batalha Naval de Riachuelo.
11 de junho de 1865 – 08h30min da manhã. O Vapor MEARIM, movido a hélice e de 8 canhões, componente da frota brasileira, colocado como prontidão avançado, iça o sinal de “Inimigo à vista”, porque divisou ao longe toda a esquadra paraguaia que descia o rio Paraná a toda força, rumo à posição de nossa esquadra que estava situada em linha, do lado do Chaco, a quase igual distancia da cidade de Corrientes e das barrancas de Riachuelo.
A esquadra inimiga passa ao longe e toma posição em frente às bocas de Riachuelo, onde López, ardilosamente, havia mandado construir baterias de terra que só então foram descobertas. Em resposta ao aviso primeiro e assombroso, o AMAZONAS, nave capitânea dos brasileiros, disparou imediatamente o sinal de “Preparar para combate”, o que movimentou a esquadra o quanto pôde, apesar do inesperado do fato. Não houve tempo para que impedíssemos a movimentação quase livre dos paraguaios, mas ao depois, não esperamos por nada – descemos ao encontro do inimigo. Preparados, receberam a esquadra imperial com fogo de fuzis e de canhões, que eram 22 de campanha e sem parapeitos, de calibre variando de 4 a 18 libras, contra 9 barcos que carregavam 59 canhões ao todo, belos vapores de guerra, com infantaria a bordo além de suas tripulações.
Já na passagem dos barcos de López, à jusante da divisão brasileira, perdeu o inimigo o barco “Jejuy”, com dois canhões de roda, que teve a sua caldeira atravessada por uma certeira bala das forças nacionais.
Os 500 homens escolhidos diretamente por Lopez, junto ao 6º Batalhão, e que dele ouviram preleções especiais no dia anterior, tinham uma orientação segura: feita a abordagem, avançarem para, na luta corpo a corpo, venceram pela força hercúlea, aos nacionais. A esta tentativa, foram vencidos também, ora pela audácia dos brasileiros em enfrentá-los, ora pela astúcia em conduzir os barcos.
Avançamos, entretanto, para o ponto escolhido, sem que dele soubéssemos, pelo Capitão Mesa por ordens de Lopez, e não será possível a qualquer historiador, por mais apurado que possa ser oferecer uma descrição exata do assombroso combate. Ao virar águas abaixo, em ponto mais estreito do canal, o nosso barco “Jequitinhonha”, avançou muito e sendo alvo de projetistas inimigos, encalhou num banco de areia da margem oposta, diante da artilharia de Bruguez – os 22 canhões de campanha estrategicamente instalados naquele ponto. Lutamos o dia todo, e só ao chegar da noite nossa tripulação abandonou o barco, depois de ingentes tentativas de desencalhá-lo para reboque. O fogo inimigo já havia silenciado.
Três navios paraguaios – Tacuaí, Tequari e Salto, atacam o barco nacional PARNAIBA, sendo o primeiro rechaçado por fogo de metralhas. O Comandante Aurélio Garcindo lidera então a defesa contra os tripulantes que invadem seu convés, na maioria índios que, armados de machadinhas, sabres e revólveres, vorazmente atacam nossa gente. Pela popa do PARNAÍBA o Marquês de Olinda da frota paraguaia derrama novos invasores, e ao cabo de uma hora de luta desigual o inimigo desce a bandeira auriverde, mas a tripulação continua a defesa, desta feita imprensada na popa quase no desespero, quando o navio capitânea – O AMAZONAS, acompanhado do MEARIM e BELMONTE, totalizando força de 22 canhões, socorrem ao PARNAÍBA com farta artilharia que diziam três – quartas partes dos paraguaios a bordo e reanima a tripulação brasileira que expulsa e mata o restante, vencendo-os. Eram duas companhias do 9º Batalhão brasileiro que estavam neste barco, comandadas pelo Capitão Ferreira, morto em combate.
A luta continua. Nada se podia prever. Não havia ainda vencidos nem vitoriosos, todos eram guerreiros ferozes em defesa da vida e dos ideais que defendiam a honraram com seu sangue.
O gênio e a bravura de Barroso, diante do espetáculo e movido pela vontade profunda de vencer e dignificar mais uma vez a Pátria, certificando-se da força do capitânea e da profundidade do canal o arremeteu contra os navios inimigos, pondo a pique o “Jejuy”, encontrado fundeado quando subimos o rio, promovendo o mesmo com o “Marques de Olinda”, e depois o “Salto”, com pleno êxito na operação.
O “Paraguai”, já abalroado, golpeado ao meio, ficou quase desativado para ação militar.
O canhoneiro pesado durou quase o dia inteiro e a fuzilaria um pouco mais, mas a ação corajosa do grande comandante impôs derrota fragrante aos paraguaios em cerca de 10 horas de lutas, do que resultou que o nosso “Belmonte” com vários furos abaixo da linha de flutuação tivesse que ser levado para a margem a fim de que não afundasse, mas lhes valeu – aos paraguaios, o afundamento do “Jejuy”, o arrastamento correnteza abaixo do “Marquês de Olinda” que teve suas caldeiras atravessadas a bala de canhão, o “Tacuari” que escapou, destroçou-se em parte com uma granada de 68 que he arrancou a cobertura da caldeira, o “Igurey” atingindo também em uma das caldeiras, conseguiu, muito mentalmente, afastar-se do cenário de luta, o “salto”, com a caldeira feita em pedaços, encontrou-se no “Marquês de Olinda” rio abaixo com quase toda a tripulação morta ou ferida.
A inesperada ação de Barroso – corajosa iniciativa, própria de um bravo lutador e um preparado homem dos mares, pôs em fuga o restante da esquerda paraguaia, que embora lentamente, como pôde, afastou-se do teatro de operações, seguida, ao longo de algumas milhas, pelo AMAZONAS, da frota brasileira, que não os quis perseguir.
Na verdade a esta história, não cabe controvérsias. Porém, os falsos historiadores intentaram contra ela, sendo desencorajados e contrariados pelos próprios fatos, em sua época. Duvidou-se da autora das ordens Argentina e que estava ao lado de Barros. Este lamentável incidente histórico ficou já de há muito esclarecido, pois o próprio Barroso, em 1877 requereu inquérito no porto de Montividéu quanto tudo se esclareceu pela próprio depoimento do Gustavino. Não compreenderam alguns pretensos estudiosos, o gesto digno de Barroso em não perseguir os destroços da esquadra de López, quando poderia tê-la levado completamente a pique, executando matança ao invés de luta heróica brava a que nunca fugiu o Almirante. Também assim se vence uma batalha e nestas horas, exige-se do comandante, não a coragem e bravuras cívicas em enfrentar os perigos das lutas, mas a consciência e o espírito humano dos vitoriosos que respeitam os vencidos. Também assim, ele foi comandante e herói e, sobretudo, valioso para nossos corações e espíritos nacionais.
Não foi só vencer em Riachuelo, a honra e a glória da Marinha Imperial do Brasil. Ao vencer a sangrenta e ardilosamente preparada batalha aos paraguaios, nossa esquadra decidiu a sorte da Guerra, pondo por termo a toda estratégia de López para dominar esta América, que se pôs então em defensiva, até o fim da guerra, o que só se daria com sua morte.
Nesta página da História, aqui relembrada com a crueza com que se desenhou no teatro da guerra, perdemos 104 militares, entre os quais 7 Oficiais, e mais 20 outros que ficaram desaparecidos, além de 123 feridos, dos quais 15 eram Oficiais, principalmente aqueles que, a bordo do PARNAÍBA, defenderam a Bandeira Brasileira – o Capitão Pedro Afonso Ferreira, e o Tenente Andrade Maia, das forças do Exercito, e o Guarda-Marinha João Guilherme, que quedaram em tão cruento ataque.
11 de junho de 1981 – 10 horas da manhã. As forças navais sediadas em Manaus, sob a força telúrica desta Amazônia fantástica e de tantos mistérios, e diante de uma beleza colossal das matas ainda verdes de nossa terra, reúnem-se mais uma vez, junto às demais autoridades e à comunidade cabocla, assim como o fazem em todo o Brasil, para rememorar este feito grandioso, e a mim, que vejo amanhecer os 30 anos desde o primeiro sol que me foi dado vislumbrar, competiu a incumbência de proferir esta Fala que, do mais fundo do meu espírito e do mais íntimo do meu coração, confiro, com a permissão de todos, ao velho e combativo marinheiro, o meu monagen pai que, nascido na Bahia, fez dos rios amazônicos sua estrada permanente por mais de 50 anos e deu de si a força, o ânimo, o coração – a vida por inteiro, com dedicação e respeito a esta Arma e aos seus companheiros da Marinha Mercante, força reserva da Armada de seu tempo. Estes mesmos rios – senhores marinheiros, que na missão atual de vossas corvetes, recebem o serviço grandioso de lhes prestai: o da defesa e o da proteção de seu povo, pela ação social, dignificante e marcante, em que se empenha a Marinha Brasileira nesta, como em outras plagas nacionais.
Senhores – a todos vós reverencio com a glória desta vida honrada – a de meu velho e amantíssimo Pai, e com as sábias palavras do Almirante Jaceguai sobre a Batalha, que sintetizam toda a sua importância no contexto da vitória das forças Imperiais e da Tríplice Aliança, naquele episódio: “Foi uma vitória completa, a do Riachuelo, porque da esquerda paraguaia, composta de 14 vasos, só quatro vapores conseguiram escapar por fuga, e estes quase totalmente desmantelados, e ainda porque o vencedor ficou dominando o campo de ação que os paraguaios haviam escolhido. Foi tecnicamente uma vitória decisiva porque todo o poder naval do Paraguai ficou aniquilado naquela jornada”.
Depois do feito, da História e da beleza desta festa, em dia em que a própria natureza amazônica chorou orvalhando com as lágrimas de seu céu resplandecente toda a mata, como que a sentimentar-se pela saudade dos que se foram naquela como em todas as cruentas batalhas de guerra, só cabe ouvir o soar afinado do apito do Marinheiro distante, o entoar mais forte do sinal do barco, o remover das nossas águas pretas que correm em direção à paz, ao progresso e ao completo desenvolvimento nacional e, encantados todos, volvermos às nossas casas com o espírito de brasilidade fortalecido, remoçado mesmo, porque esta terra que é nossa, ainda outras vezes para dar-lhe o sangue de nosso corpo como damos o do trabalho – a vida por inteiro, na defesa de sua integridade porque esta Pátria é Brasil.
Discurso pronunciado nas solenidades comemorativas do 11 de junho de 1981, na se da Marinha, em Manaus, a convite do Comandante Paulo de Paula Messiano.
Falando aos novos soldados
“A grande força da moralidade humana é a dedicação à Pátria, a Deus e à Família”.
Senhor Cel. Miranda Júnior
Ilustre Vereador
Senhores Presentes
Meu bravo homem, forte e puro de sentimento cívicos, artista Feliciano,
A hora que vivemos, neste Gabinete de Chefe do Executivo Municipal, unidos pelo dever comum, pelo sentimento de brasilidade que, a cada momento, e em cada um de nós, vai sendo solidificado quando vemos os rumos luminosos que o nosso Brasil vem tomando com o Movimento de Março de 1964.
Este ato, solene, soleníssima até, é o cumprimento de uma tarefa do Chefe do Governo do Município, mas é, também, a concretização de um ideal social para Feliciano. A regularização do Serviço Militar, obrigatório por Lei, é, sem nenhuma dúvida, antes de tudo, um direito, já que, somente os brasileiros podem e devem cumpri-lo.
Orgulhosamente, como homem de Artilharia do nosso Exército, como Vereador, agora no exercício da Prefeitura de Manaus, no cumprimento de dever cívico e cristão, e como cidadão brasileiro, presido esta sessão, diante do símbolo auriverde de nossa Pátria.
Orgulhosamente, repito, me curvo diante da figura atlética, de bravo homem das selvas, já que nascido na distante e bela São Gabriel da Cachoeira, de origem direta de famílias indígenas, curvo-me com respeito e em atenção também aos que, por estas terras, antes dos portugueses de Cabral, e de outros navegadores, dominavam, viviam e já amavam este imenso território, que foi Vera Cruz e é o Brasil de hoje.
Agradecido ao Cristo pela felicidade de presidir este ato, deposito em memória de Olavo Bilac, as flores espirituais, a pureza e o simbolismo desta festa.
Vá, cidadão Feliciano, e comandante trabalhador BEC em sua cidade, a de São Gabriel, e o faça com amor e patriotismo, com respeito a Deus e à Família.
Falando da Abolição
A pureza da raça,
a grandeza do amor,
a beleza da alma
estão na paz de Cristo
e não na cor
Autoridades,
Senhoras e Senhores
Cultos consócios
O redobrar de sinos, o aplaudir com flores o festejar das datas históricas, que hoje se promove em nome da conservação da memória nacional, é a marca com que o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, na simplicidade de seus atos, faz gravar no já avolumado número de notas soltas da História do Amazonas que um dia há de se contar com maestria por Arthur ou outros mestres, festejando o solene e corajoso gesto de Theodoreto Souto ao abolir a escravatura no Amazonas e o primeiro centenário do Corpo de Bombeiros.
Dois grandes acontecimentos, duas justificáveis razões histórias reúnem os sócios do Instituto mais interessados, os intelectuais mais festejados, os homens públicos que mais apreciam a cultura e a ciência histórica. Neste maravilhoso templo que rompe o silêncio dos nossos, constitui defesa do passado, preserva e transmite a tradição do Amazonas e da cultura brasileira, sempre se tem feito, por todos nós, conjunta ou isoladamente, a retransmissão de fatos válidos e dignos de serem apreendidos pelos mais jovens ou pelos menos voltados para a pesquisa da vida da nação. Hoje, por mais uma vez desde 1917, tal solenidade se repete e com o brilho das retumbantes entre as mais popularizadas festas estaduais.
Festejamos o dia da raça liberta, única, solidária, amiga e irmanada no princípio da igualdade de todos perante a Lei, basilar sustentáculo da democracia, da liberdade individual, do progresso social, do bem coletivo. Festejamos em gratidão, a figura do Senhor Theodoreto Carlos de Faria Souto, cearense, Presidente das Províncias do Amazonas e Santa Catarina deputado geral, presidente do Banco do Brasil e Senador e que, em rápido período administrativo nesta então Província do Amazonas completou os sonhos da Maçonaria, de José Paranaguá, das damas da sociedade amazonense, naquilo que se transformaria na sua queda do Governo, a abolição, em praça pública, dos escravos no Amazonas, em 10 de julho de 1884, marco incontestável de evolução do povo desta terra.
Deixemos que o Hino da Cruzada libertadora, de autoria de Enéas Afonso, simbolize o sentimento e a razão da festa.
Águia altiva do século que passas!
Doce filha dos grandes heróis
Solta o verbo de fogo nas praças
Sê bem-vinda do mundo dos soes.
Mocidade arroja-te ao futuro, olha o disco de crença e de amor; não soçobres no mar, palinuro, Vai da glória subir ao Thabor.
Eia, o dia do bem é mais belo.
Não se enturva na noite do crime
É mais santo é mais nobre querê-lo
Tem mais luz, é mais puro e sublime.
Sim, desloca as colunas terríveis.
Deste Templo onde o mal se fez
Otelo,
Sê Sansão destruindo impossíveis
Sob as fúrias do hirsuto cabelo
Eia, a hora do Livre ressoa
Do porvir amanhece a vitória
Toda a selva de luz se povoa
Já se inaura teu nome de glória
Mocidade, te arroja ao futuro
Olha o disco de crença e de amor,
Não soçobres no mar – palinuro
Vai da glória subir ao Thabor.
Escravos e senhores depois daquele dia em vante, sumiam-se na voragem do passado deste prodigioso e abençoado solo, restabelecendo-se a igualdade entre nós.
Liberdade, é o que se festeja hoje, Liberdade, doce emanação divinal que por si só exprime o que há de misterioso de sublime, de eterno. Liberdade, atributo de todos os seres criados e que Deus legou à humanidade para gozá-la, em toda a sua plenitude, mas que esta mesma humanidade usurpou a um punhado de seus semelhantes. Liberdade, ave mil vezes como criação divina. Liberdade, ave, ave, como gesto de Theodoreto Souto, praticado sob as luzes do Grande Arquiteto do Universo, para o bem e a felicidade do povo, para exemplo às gerações seguintes. Amemo-nos, e unamo-nos, para garantir na democracia do Brasil, a paz coletiva, a igualdade dos homens e das nações.
Se foi importante, solene e memorável o gesto de abolir a raça negra na Província do Amazonas, secundando à do Ceará, devemos nós, os pesquisadores da História, lembrar que toda uma campanha cívica se vinha fazendo há longos anos, por toda a sede territorial da Província.
Deixemos que a névoa do tempo seja descortinada de nossa mente, voltemos aos anos de 1889. Poderemos sentir em nós a vibração de amor ao próximo, de liberdade e desejo de exemplo que a sociedade amazonense deseja impor a coletividade nacional.
Na verdade, a situação econômica da Província, o seu envolvimento na estrutura social do Brasil extra Amazônia, permitiam que reduzindo fosse o número de escravos, entre nós. A economia de coleta, necessitava do braço índio, exímio conhecedor das matas e das espécies comercializadas o que oferecia resistência à vinda de grande número de escravos negros. Tem os nossos mais eméritos mestres da História como Agnello, Arthur e Mendonça de Souza, produzido, páginas especiais sobre este evento magnífico e, em todos, se antevê sobre tudo, o especial interesse coletivo, o grande sentimento de liberdade interior que presidia a cada um dos membros da nossa sociedade provincial. Éramos puros nos sentimentos, intocáveis na respeitabilidade pela grandeza moral das raças, irmanadas pela bênção da primeira missão no Brasil e unidos pelo sentimento de valor individual de cada ser.
Ás razões econômicas, assim, unem-se as razões íntimas da família amazonense e promovem, por gestões das damas do Amazonas sob a orientação de Elisa Souto, pela vontade dos homens íntegros, sob o comando de Theodureto Souto, agrupados em diversas sociedades libertadoras, em órgãos da imprensa local, alguns especialmente criados para este fim, por entre festas e flores, a queda da escravatura, abolindo na praça Vinte e oito de Setembro, hoje praça Roosevelt, seguida à da Polícia Militar, todos os escravos no Amazonas.
Muitas foram as vezes que se diminuiu, em campanhas diretas e gestões pessoais, o número de escravos da Província. Aos poucos, graças à sensibilização social que as sociedades emancipadoras iam promovendo, às visitas domiciliares de Dona Elisa Souto, às gestões da benemérita Maçonaria Amazonense, ao entusiasmo dos mais jovens muitos escravos foram libertados de forma isolada. O grande feito ,entretanto, das 12 horas do 10 de julho, fez romper definitivamente e globalizadamente o brado de liberdade pela florestas amazônica e correr pelos nossos potentes rios a marca da escravidão negra, que deve ter desaguado na pobreza dos espíritos mais fracos, dos outros povos, ainda sofridos pelas diferenças sociais e de raça.
Em 13 de maio de 1869, o ilustre Agostinho Rodrigues de Souza apresentou um aditivo ao orçamento, mandando despender quantia especial para a libertação de escravos e sujeitando cada escravo para cá trazido, só ou por seus senhores, ao pagamento de imposto.
Em 6 de janeiro de 1870 ,é fundada, em data de festas da criação do Ateneu de Artes, a Sociedade Emancipadora Amazonense, à frente, Augusto Elísio de Castro Fonseca. As gestões prosseguiriam lentas, mas em verdade, em apenas 77 dias a revolução em defesa da abolição, se realizou, pacificamente, e sob aplausos gerais.
O movimento de abolição foi iniciado em 1866, com a orçamentação de dez contos de réis para que se pudesse fazer a emancipação de escravos, preferencialmente menores. Em 1870 fundou-se a Sociedade Emancipadora Amazonense a quem competiu iniciar a campanha de forma mais intensa. Anualmente eram votados pela Assembléia Provincial recursos com os quais se libertavam escravos. Em 1871 a mesma Assembléia determinaria recursos para a libertação “do ventre daquelas mães que, por seu estado de saúde, estivessem em estado de procriarem”.
Uma taxa de Cr$ 500,00 foi votada que pudesse ser introduzido escravo na Província. Outras sociedades, com o mesmo fim, eram fundadas, “Libertadora Cearense”, “Primeiro de Janeiro”, “Libertadora Vinte e Cinco de Março”, “Cruzada Libertadora”, “Clube Abolicionista Manacapurense” e “Libertadora Codajaense”. Os jornais diários abriam colunas especiais em defesa da abolição e órgãos especiais foram criados, para expandir a idéia como o “Abolicionista Amazonense”, mantido pela Loja Maçônica “Amazonense” e pela “Libertadora Vinte e Cinco de Março”. As senhoras de Manaus formavam grupos como a “Amazonense Libertadora” e promoviam festas em 1870, com a “Emancipação Amazonense”, no Paço da Câmara Municipal, por entre palmas e flores, para conseguir recursos e libertar escravos. Seis meses antes da emancipação dos escravos, pelo Ventre Livre, nós já havíamos adotado tal medida. Em 1881, no Rio, sob a Presidência de JOAQUIM NABUCO, foi fundada a “Sociedade Brasileira contra a Escravidão” e a Presidência honorária coube a SALDANHA MARINHO Deputado Geral pelo Amazonas, como reconhecimento ao grande trabalho de desenvolvimento nesta região, em defesa da abolição.
Declarada a abolição, na praça Vinte e Oito de Setembro, THEODORETO CARLOS DE FARIA SOUTO – o abolicionista no Amazonas – pronunciou as seguintes palavras, ao transmitir o cargo de Presidente: “A Província do Amazonas está redimida, no dia 10 do corrente foi esse conhecimento o maior de sua história, solenemente declarado, lavrando auto no livro de instalação da Província que, remeti, por cópia, a S. Exmo. Sr. Ministro da Agricultura. Tudo se fez em nome da Lei, em observância das suas prescrições, em perfeita calma e tranqüilidade, com o concurso eficaz dos sentimentos do povo amazonense”.
Para completar os festejos do acontecimento, foi fundado em Manaus, nessa ocasião, o Asilo Orfanológico ELISA SOUTO, precursor do atual Instituto Benjamin Constant e, em verdade, a Província estava livre, todos os cidadãos iguais na sociedade.
Discurso na solenidade oficial do IGHA – comemorativa dos Festejos do dia 10 de julho de 1976, Manaus, comemorativo d abolição da escravatura negra no Amazonas.
Homenagem a André Araújo
As datas históricas e mestres devem ser festejadas e os heróis sempre lembrados para que o exemplo de honra e amor passe às gerações, dispondo todos ao trabalho pela cultura e pela Pátria.
AUTORIDADES
Esta é uma data histórica para a vida cultural do Amazonas, data de rememorarmos as figuras criadoras do ideal deste Templo, garantidoras do seu engrandecimento, representantes do mais puro e profundo valor intelectual e social de nossa terra.
Não faz muito e, em uma noite como esta, nos meus 21 anos, assumia a Poltrona de nº 40, do General JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES em festa que me tocou sensivelmente, quando ouvi a palavra de recepção, confiança, e fé do então Orador Oficial, Mestre RODOLPHO VALLE, hoje convocado para missão mais administrativa neste Silogeu. Foi no 25 de março de 73, noite em que o Instituto, pela primeira vez prestava de público, homenagem “in memoriam”, a vultos do mundo cultural de Manaus. Todos estávamos sob a veneranda Presidência do Des. JOÃO REBELO CORRÊA, luz dirigente desta Casa.
Não faz muito e tivemos que, por forças dos fatos materiais, prestar homenagem póstuma ao incansável JOÃO CORRÊA, figura ímpar em bondade e dedicação ao Instituto, já então sob a luminar Presidência do Desembargador ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO em cujo dinamismo confiávamos para a maior contribuição do IGHA à juventude amazonense, na sua formação cultural mais plena e pura, pela perfeição da pesquisa histórica.
Não faz muito e, também, como o peito ardendo de saudade, prestávamos, em sessão sóbria, merecida homenagem de 30º dia de desprendimento material, ao incansável Mestre ANDRÉ ARAÚJO que, em sua 2ª gestão, na Presidência desta Casa de Memória, imprimiu novo ritmo, nova mentalidade e, entre os muitos resultados positivos de sua liderança, alcançou a abertura do diálogo com os estudantes através de Cursos e conferências, complementando a ação inovadora do Desembargador-Bondade, que foi JOÃO CORREA.
Não faz muito, com o encaminhamento de Agnello para os paramos celestiais, nos vimos em nova contingência semelhante – Sessão de Saudade para o fundador deste Instituto, o último que em meio de nós até então permanência, contribuindo diuturnamente para a nossa História.
E há coincidências – O Orador Oficial das homenagens a JOÃO CORREA, ANDRÉ e desta noite, fio NEWTON SABBÁ GUIMARÃES, juiz e amigo dos dois Desembargadores. A beleza de Oração pela forma e pelo sentimento nelas expressos, entretanto, não é coincidência, é saber, cultura, muito saber.
Hoje, nesta festa de luzes espirituais as mais fortes, o Instituto outorga o 2º título de Sócio Grande Benemérito e o faz ao Mestre ANDRÉ, “in memoriam” pela matéria, mas o distribui em preces conjuntas, dos nossos mais elevados desejos de fé e progresso espirituais, aquele que, no IGHA, na Academia, na mais Alta Corte de Justiça se impôs pelo saber e bondade e marcou época na vida cabocla.
Outra coincidência é a nossa palavra nesta festa, provocada por aquilo que se poderia chamar de destino. Estamos de pé e nos parece ver frente a nós, elevados em saber, luzes e magnanimidade, os Mestres que daqui se foram, mas que mantêm viva a chama-sustentáculo do Instituto. Todos nos olham e reclamam paciência, trabalho, estudo, confiança, amizade e compreensão. Todos merecem nossos esforços, e principalmente JOÃO CORREA, ANDRÉ e AGNELLO que mesmo não tendo sido os primeiros a se encaminharem para o superior estágio, os primeiros a partirem desta Casa, deixaram em nós, o vácuo da saudade profunda.
Desculpem. Não nos cabia deitar estas palavras, mas a emoção da hora, a grandeza da festa, a beleza daquelas almas puras que nos acompanham, impediram o silêncio que se fazia devido, pois que a oração de aniversário e homenagem aos sócios falecidos foi a do Orador Oficial.
A missão de receber como paraninfo o Professor Doutor JAYME PEREIRA, na inauguração da Poltrona de nº 6, nomeada pelo Desembargador ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO, é a que nos foi confiada pela Presidência de Ildefonso Pinheiro, comandante sábio e atual da nossa instituição.
“Dirão alguns ser fácil falar de um homem de inteligência, outros dirão, que é difícil. No meu entender é muitas vezes perigoso”. (J.A.C.S.)
Entre, sente-se em meio de nós, conviva conosco, reparta o pão da boa fé, da cultura, da beleza espiritual. Renegue as maldades do mundo. Faça-se poeta, historiador, cientista, – esqueça as maldades porque esta é a Casa da Luz, do Amor, da Verdade, do Saber e da Benquerença. Todos aqui já ingressados representam uma faísca de toda a verdade da cultura amazônica e a sua, aumentará a claridade que se há de fazer pelos caminhos dos estudiosos da Geografia e História. O aqui chegar é, antes de tudo, uma vitória sem batalhas, um hastear de bandeiras sem resquícios de luta, sem manchas a recordar. O aqui chegar, ilustre recipiendário, é o florescer de nova idade, é o ressurgir do entusiasmo da mais terna mocidade, é o resplandecer mais completo dos seus estudos de todas as épocas. É o crescer para si, para nós, para a sociedade amazonense. É o estar preparado para distribuir, e distribuir bem, os frutos colhidos no folhear constante das obras rara e no assimilar dos conceitos mais complexos. O aqui chegar, não é, entretanto, o final de tudo, a culminância para o acomodamento. É, em verdade, o iniciar de uma longa jornada de novos estudos, de novos encontros e desencontros, a grande hora de ceder valores par mais valorizar a instituição e seus pares.
Não és Mestre, não somos nós, mas seremos como organismo, a maior força educadora e aprimoradora de intelectos de nosso Estado, porque a rota tomada em 1917 vem sendo perseguida sem grandes distorções. E é para esta caminhada que foste convocado, pelo saber, pela experiência, pelo dinamismo, com que tens atuado na vida pública.
Erguer-te para o meio de nós foi agigantar-nos.
A formação de filosofia clássica, teologia, psicologia, jornalismo, letras jurídicas que carregas, te credencia a ocupar a Poltrona de ANDRÉ ARAÚJO e a peça que hoje inaugurastes neste Instituto rememorado a vida do Desembargador-Patrono, em análise serena e severa, pura e científica, representa a prova provada da Justiça da eleição que te iniciou neste sodalício.
ANDRÉ, misto de homem-santo, puro nos princípios, dedicado nas ações, caridoso na vida toda, bem merecia um estudo desta natureza. Faltava-nos, é bem verdade, um raciocínio mais estudado, uma análise mais pensada da vida e da obra do padrinho das crianças de São Sebastião, do amigo e humilde servo de Deus, um tratamento diferente na forma, dos comumente dedicados aos patronos de poltronas acadêmicas. Não se ouviu uma repetição biográfica, um comentar de obras literárias publicadas, um deitar elogios sem fim, mas, um pronunciamento elevado, uma pesquisa científica encarnada na figura mística do grande ANDRÉ.
Como é costume do paraninfo oferecer palavras de conselho, eu o faço lembrando-te que a cultura humana é uma estrutura maciça que descansa firmemente sobre a base cuja largura lhe dá a variedade do meio ambiente oferecido pelo mundo e cuja longitude é a súmula de toda a difusão através da história da humanidade. A altura a que se eleva é variável e é medida por essa imponderável de inteligência, temperamento e gênio que possui em grau diferente, cada tribo, raça ou nação e cada homem, em si. O Bem e o Belo ilustrado Doutor devem ser suas metas, assim porque, suas tarefas terão sempre base cristã e seus ensinamentos serão eternas poesias, do berço ao túmulo das civilizações.
Lancemos as nossas vistas, agora, ao longo do passado, sobre as vastas regiões do mundo intelectual. Lá veremos os monumentos construídos durante a seqüência dos tempos, pelos trabalhos intelectuais e sucessivas da humanidade; monumento solene no qual cada século, cada idade, cada povo e cada homem colocou uma coluna, desbastou uma pedra; monumento que dá a imaginação pela idéia dos trabalhos realizados a idéia dos trabalhos a vir; monumento fantástico, sempre grandioso, no qual tudo deve ficar na sua essência e forma como nascimento da verdade inalterável e imortal que o homem aspirou, abraçou e realizou, tornando-a acessível a toda a humanidade. Lá veremos a Catedral de Milão, o zimbório de São Pedro, as pirâmides do Egito, perenes e prodigiosos monumentos cujas proteções indicam a surpreendente magnificência, refletindo-a num plano iluminado, todos, erguidos pela fé de seus batalhadores, a mesma que nos guia neste Sodalício, e à qual vens te incorporar, JAYME PEREIRA.
Digo que, como todos aqui, não foste convocado para os ócios olímpios dos eleitos, mas para o esforço de novas semeaduras. Não ingressas hoje em uma sociedade de brilhos sociais e historinhas frívolas com certos ares sentimentais, aqui o culto que professamos é o da virtude fortificada pela inteligência e pelos deveres ditados segundo as experiências dos tempos passados. Podes ter a certeza de que aqui encontrarás trabalho, bravura, persistência, honradez e hospitalidade.
Mas, no banquete cultural desta noite, o grande homenageado é ANDRÉ ARAÚJO e, para ele, repito Coelho Neto – aquele que acendesse uma vela para andar ao sol daria cópia de estulto, senão louco. Não terei sido que o primeiro a incorrer em tal ridículo, inflamando elogios pálidos diante da virtude esplêndida, porque ANDRÉ não foi um homem foi uma idade, uma antecipação do futuro.
Discurso como orador oficial do IGHA, em solenidade de homenagem ao desembargador André Vidal de Araújo.
Homenagem ao Mestre
A inteligência do homem a serviço do Bem e da verdade histórica, se constitui, sem dúvida, na maior força propulsora do desenvolvimento da Humanidade na busca incessante pela perfeição do intelecto e do espírito.
Senhor Governador do Estado, em exercício, Professor Doutor PAULO PINTO NERY
Senhor Presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Deputado Homero de Miranda Leão.
Autoridades
Minhas Senhoras
Meus Senhores
Ilustrados consócios
Senhor Professor Doutor Arthur Cezar Ferreira Reis, Presidente Perpétuo do Instituto.
Curvo-me resoluto perante Vossa Excelência – Professor Arthur Reis, para manifestar em nome do seu Instituto Histórico, da minha geração amazônica, e de todos que acompanham nosso trabalho nesta Casa de Bernardo Ramos, os agradecimentos sinceros pela sua presença em meio de nós, e mais que isso, pela força majestática de sua autorizada palavra e o enlevo incandescente de seus conhecimentos, mais uma vez aqui transmitidos.
Guardam nossa Casa, como guardam os mais antigos, ainda na lembrança os passos apressados – sempre, porém seguros e dedicados, de Vossa Excelência, no dia-a-dia do Instituto, quer como seu Sócio, quer na Secretária, e ainda depois, quando na administração maior do Estado, deu-nos efetiva participação do Governo, para nossas instalações. O ar que aqui se respira, senhor Presidente Perpétuo, é ainda, como o de antanho, o de profunda dedicação aos estudos e a integridade amazônica, porque em nós, como nos que antecederam, está viva a força magnética que fez criarem este Sodalício, em 1917: o culto à história, à geografia e à verdadeira pesquisa.
Quando em 1974 apresentei a proposta de tornar Vossa Excelência, pelo Estatuto que se implantava, ao lado do Professor Agnello Bittencourt, Vice-Presidente Perpétuo, fui apenas o agente dinamizador da vontade de todos os membros do Instituto, em reconhecimento ao saber que possui, à confiança que inspira pelos trabalhos todos que faz, à serenidade com que enfrentou a administração pública, mas, sobretudo, à grande dedicação que sempre teve para com esta Casa – Casa de tantas tradições e de memória, e que guarda nas passagens que se há de contar um dia, a presença marcante do jovem Arthur Cezar Ferreira Reis que, como eu, se iniciou nela ao romper dos primeiros anos da vida adulta e fez – como espero poder fazê-lo, uma dedicação permanente. Vossa Excelência alcançou por méritos que não se preciso ressaltar, pois são da maior notoriedade, as culminâncias do poder cultural, público, político, social, educacional, e os exerceu sempre, como aqui, com serenidade, sinceridade, honestidade, abnegação e resistência.
Os aspectos de sua formação cultural e aprimoramento moral foram ressaltados quando da sua apresentação a este público, pelo amigo e dedicado amazonense, Ulysses Bittencourt, que também respira o ar mais puro das mais caras tradições do Instituto. Cumpro com estas palavras e com vênia de Vossa Excelência, o grato dever de encerrar a Semana de Estudos Afro-Brasileiros que fizemos desenvolver neste Salão, reunindo as mais gratas inteligências que pudemos agregar em tão curto espaço de tempo – Gilberto Freyre – sociólogo de Apipucos e do Brasil: Mário Ypiranga Salles, o antropólogo, e principalmente musicólogo, amigo de outras tertúlias e Vossa Excelência, a quem tributamos todas as honras do Sodalício e destes amigos seus aqui reunidos, e dos professores, e universitários.
O esforço despendido para o êxito desta Semana de Estudos – Meus senhores, alcança muitos setores da administração pública, da Universidade do Amazonas, da ADESG/AM, da Fundação Joaquim Nabuco – Coordenadoria da Amazônia, da SUFRAMA, mas especialmente, a pessoa do Governo em exercício, aqui presente, Doutor Paulo Pinto Nery, que, na qualidade de Presidente da Comissão do Patrimônio Histórico, tornou possível a participação de tão brilhantes conferencistas, e com seu ânimo pessoal, renova a coragem em nossos empreendimentos.
Com esta Semana de Estudos damos – Professor Arthur Reis, Autoridades, Senhores Meus – o primeiro e mais largo passo da nossa administração na Presidência do Instituto, apenas iniciada em janeiro passado. Cremos poder, pela graça daquele que a tudo preside, com o entusiasmo da juventude de nossos dias, e com a contribuição participativa de toda a sociedade amazonense e principalmente da classe de professores e universitários, impor, pela ação, ao Instituto, o ritmo que se exige em nossos dias da Casa de saber e dos homens de inteligência. Somos um grupo que se reanima – internamente no Instituto e aqueles que daqui se afastaram pelo desencanto de outras lides, pela desesperança, pelo descrédito, aqui se encontram e poucos ainda se mantêm afastados, porém aqui reingressaram, e quando o fizerem estarão no Instituto Histórico fundado em 1917, porém voltado para os anos 80, mas sem ter perdido a sua identidade, as suas tradições mais sinceras e originais e a sua conformação cultural e social.
Senhor Presidente Perpetuo Arthur Cezar Ferreira Reis, é este o ânimo com que presidimos o Instituto, porque cremos ter sido este mesmo que o fez nascer e o determinou até nossos dias. Dei-lhe com estas palavras, como a todos que aqui se encontram, a conformação de um perfil que nos dedicamos a emprestar ao nosso Instituto.
Agradeço-lhe a digna honraria de, na presidência deste jovem que ainda vê os primeiros calões dos 30 anos, ter retornado a esta Casa após longos anos – embora indesejados por Vossa Excelência e retorno a palavra a Vossa Excelência, para, na qualidade de Presidente perpétuo, encerre a sessão, declarando-me, em nome de todos os demais sócios, rejubilado pelo acontecimento.
Discurso como presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, na solenidade de homenagem ao presidente perpetuo, Dr. Arthur César Ferreira Reis.
Jóias em Botão
A hora e a festa, as luzes e o amor, a confiança e a esperança sobre um mundo a descobrir, marcam este dia.
Jóias em botão, que sois vós, Debutantes rionegrinas de 77.
Sim, associados, diretores e convidados, a hora e a festa, as luzes e o amor maior dos pais, a confiança no futuro e a esperança sobre um mundo a descobrir, que se descortina agora no horizonte infanto-juvenil destes novos botões em flor da nossa sociedade, marcam este dia de festejos dos 64 anos de fundação do Atlético Rio Negro Clube.
A hora emociona. A festa, preparada com os aparatos de praxe e o capricho da Diretoria rionegrina, o apoio dos pais e padrinhos, o carinho do casal paraninfo, a festa se transforma em luzes refulgentes e representa materialmente o profundo sentimento de amor que todos nutrimos por quantas se iniciam na sociedade e o fazem pelas mãos de quantos aqui reunidos vieram comungar das alegrias deste Baile, nos salões sóbrios e requintados do Clube de Lauro Cavalcante e Aristophano Antony.
Se a hora emociona; a festa é feita de amor e com luzes especialíssimas de carinho de toda a sociedade amazonense, há sentimento mais soberano que a materialidade deste encontro, que envolve, tenho certeza, os corações brotantes de prazer e meiguice, destas meninas-debutantes.
Fala-vos ao coração, jóias em botão, que sois vós, Debutantes rionegrinas de 77 e agora, digo-vos com a certeza jovial de quem conhece a esperança e viva em confiança espiritual, que se dentro de vós, emana este sentimento, esta elevada virtude, confiança e esperança – pelos que vos espera pela vida toda, que agora se inicia no seio social, muito mais esperamos de vóis.
Sois, para nós, sociedade rionegrina, comunidade amazonense, a certeza da continuidade deste clube, a crença de que o farão mais imponente e significativo, mantendo-o vivo e atuante, como acessa a chama do amor filial, da busca aos livros, do preparo para a vida em comum, da compreensão com os amores materiais, do cuidado com as cousas do espírito.
Se nesta hora vos descortina um novo horizonte, uma nova etapa, ultrapassados os primeiros momentos dos sonhos – os sonhos de infância – para o Rio Negro rompe-se uma barreira, abre-se um passeio em que desfilam as vossas figuras singulares, que sois as debutantes deste ano, e que recebem neste ano, toda a confiança e a alegria da sociedade amazonense.
Os horizontes, desta forma, se encontram, e, neste mistificar de sentimentos e desejos, misturam-se e deverão formar a caudalosa corrente de sinceridade, boa-vontade, desejo de servir, união e paciência, que vos vai aprimorando no caráter, já desta agora.
Sois vós, o símbolo da beleza, da pureza, da singeleza, do carinho e da afeição da família rionegrina, e acima de tudo, é para vós a gala desta festa, ornada com a presença dos que vos querem bem, dos que confiam em vóis, dos que esperam de vóis, a colheita sadia do bom fruto, resultado do bom plantio e do cuidado permanente havido na preservação de vossos valores.
Sois vós, nesta hora, de raro esplendor, de magnífica florescência, uma só rosa, uma só verdade santa. Sois vós a marca de um tempo, de um ciclo de beleza, contempladas pelos sábios, pelos artistas, pelos poetas das formas e das cores.
Vós deveis, jóias em botão que se credenciam neste momento inesquecível para todos nós, com humildade, saber que nada mais importante há, no mundo dos humanos, que o amor e este inspira sacrifício, heroísmo e renuncia e que vós, que saís agora do mundo exclusivo da graça para este mundo ,alcançam aqueles que como vós foram preparados para buscar, apaixonadamente o princípio das coisas, a verdade da via, amando-se numa compreensão profunda.
Neste momento, que é de agradecimento que vos faz a Diretoria do Rio Negro por terdes escolhido nosso Clube para o primeiro Baile, tão esperado desde o despertar dos primeiros sonhos juvenis, é também de satisfação para todos nós diretorianos e sócios, porque podemos agradecer a compreensão de vossos pais, amigos e padrinhos, que se unem em um buquê só, estendido ao casal paraninfo – rionegrino de longa data e que nos honra a todos em apresentá-las socialmente neste novembro.
Mas, este momento é também e, sobretudo, para vós, o momento de começar a obra da vossa renovação, e tomamos a liberdade de sugerir que esta seja simples, sem programa que possa asfixiar a realidade da vida, numa armadura rígida, o que impediria de jorrar do imprevisível coração nascente de todos vós, o futuro que vos está reservado e para o qual deveis estar preparadas, muito especialmente no espírito, pois este conforta e sustenta a matéria e a vida.
Vós estais erguidas e soberbamente elevadas ao seio da sociedade amazonense, sois já, parte de sua vida, agora, sigam a caminhar e sede felizes com as flores das nossas bênçãos.
Discurso para homenagear as debutantes rionegrinas, no Atlético Rio Negro Coube, Manaus 1977.
Na festa de fundação
A trajetória do homem na terra é muito mais significante quando por obras próprias, nele permanece mesmo após a perda da matéria.
A trajetória das Instituições se faz com marcha dos homens no correr da história.
Senhor Presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas,
Autoridades,
Minhas Senhoras,
Meus Senhores,
Ilustrados Consórcios
Creio que a afirmação com que me anunciei nesta festa, na qualidade de Orador Oficial deste Sodalício, representa mais que uma assertiva – uma contemplação histórica que a tradição da vida impõe a qualquer que faça uma reflexão mais sentida.
A reflexão que os 63 anos de existência do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas me levaram a fazer, pelos seus tempos todos, pelos seus caminhos já percorridos, pelo seu futuro, senão pelo seu presente especialmente, dão-me a certeza de que esta Fala deve ser de confiança no exercício de livre consciência histórica e social de um povo do nosso povo.
Sim, porque em março de 1917 um grupo de intelectuais reunidos sob a inspiração organizacional que a Maçonaria lhes propiciava, no desejo ardente de condensar, debater, publicar trabalhos de fundo literário, artístico, geográfico e histórico do nosso Estado, e deixar permanente uma obra deste porte para as gerações futuras, reuniram-se e, reunidos em nome das tradições mais caras do ser humano, da espiritualidade mais elevada, constituíram este Instituto, cuja trajetória luminar está por ser escrita em livre, mas cuja presença sexagenária na sociedade amazonense de na face cultural brasileira, é significativa, inolvidável, marcante e incontestável.
Não há negar que as honras e as glórias destes 63 anos de vida do Instituto se iniciaram logo nos primeiros momentos. A instalação a 13 de maio do mesmo ano de 1917, na sede da Câmara Municipal de Manaus congregou todo o mundo político, cultural e social da sociedade de então, trazia já um significado maior, intrinsicamente definido: a luta pelas liberdades, representado neste gesto de gratidão à Redentora.
Foi desta mesma tribuna que, em sessões anteriores, como esta, os eminentes escritores Pe. Nonato Pinheiro e Rodolpho Guimarães Valle, mestres da palavra e da história, se pronunciaram sobre a vida e a participação do Instituto na história amazonense. Já em outras festas também o fiz, porém, sem o brilho para sucedê-los. Não ouso ainda desta feita, alçar-me a um retrospecto da participação da Casa de Bernardo Ramos, que é esta, no processo de desenvolvimento do Estado. Falei divagações, apenas.
A sua criação foi um gesto de coragem. A busca da consagração para os estudos que a geografia e a história, sempre motivam nos filhos da terra. A sua sustentação na sociedade, marcando um registro sexagenário capaz de não ser esquecido, desconsiderado por qualquer homem ou circunstância, tem sido a obra de gerações seguidas, de dedicados homens e, sobretudo, conseqüência do enorme acervo que se acha nesta Instituição.
Não acredito em Instituição de cultura, em associação literária e principalmente dedicada ao culto da história, quase sempre do passado, que permaneça pelos tempos afora se não conseguir reunir em um só local acervo bibliográfico, etnográfico, bens matérias que imponham aos homens que se sucedem na sua direção, a responsabilidade de preservar o que receberam. Não acredito na sobrevivência secular das obras do homem caso elas não tenham o espiritualismo da verdade. Assim também não creio que as instituições permaneçam secularmente, sem templo próprio para cobrir os homens que a estejam dirigido.
Por isso esta Casa ficou e ficará eternizada. Por isso a recebemos e temos que transferi-la a novas gerações. O seu acervo bibliográfico de cerca de 40 mil volumes, o seu museu etnográfico Crisanto Jobim de peças quase que totalmente recolhidas no começo do século até os anos 20, o seu acervo documental, o seu repositório natural de tudo que aos primeiros olhos parece apenas coisa velha, senão coisa do arco da velha, que tem conseguido fazê-la subsistir às intempéries naturais que afligem qualquer sociedade, mas que os seus vultos eminentes não facilitam para que a destruísse.
Estas divagações feriram, bem sei a forma e o sentido de um discurso para esta sessão. Reconhecido em mim mesmo, o decréscimo de agigantadas afirmações filosóficas, mas buscou ser verdadeiro, para efetivar-se, mais ainda, com a confirmação da necessidade de que a comunidade reconheça esta realidade e imponha ao Instituto não só o respeito que ele merece, mas a sustentação material de que necessita para conservar a história e a tradição, já que o processo tem permitido a usurpação do seu real sentido, e deixado transformar Manaus, principalmente, em uma desfigurada cidade, cuja memória de pouco mais de 300 anos nada representa diante de antigas cidades brasileiras e do estrangeiro, e pouco resta para a confirmação de um passado que, por obras recentes, chega a ser contestado, e argüido a sua validade. Discute-se agora, até mesmo a validade do apogeu da borracha, o valor e a cultura dos vultos do passado. O saber e a coerência de nomes que, para nós, são intocáveis, porém analisáveis por quem realmente tenha condição de fazê-lo. Não se pode compreender o homem fora do espaço social em que vive. Não se pode definir fundo, sem dissecar a sua obra literária. Assim também não se pode medir uma instituição sem percorrer a sua história, ano a ano, momento a momento sem vivenciá-la. Não uma obra “marciana” qualquer.
Compreendo, se creio que compreendo o porquê das criticas que sofreram os homens e as instituições culturais em publicação recente. Não compreendo, e creio que nunca compreenderei porque o espaço cultural literário amazonense ainda comporta estas diferenciações de estágio, saber, de equilíbrio, a não ser que se reafirma a aspiração pelo sentido inverso da aproximação. O namoro que deve ter pelas Academias o escritor, antes de a elas pertencer, e que foi desenvolvido como agressão pelo autor de mal traçadas linhas, agourentas e desafiadoras, que receberam de nós, até aqui, a resposta do silêncio, porque não estão à altura da honra de ouvir de nós, uma resposta concreta. Falo hoje, nesta festa, para mostrar o papel do Instituto, principalmente, e de qualquer instituição cultural que tenha prezado, ao correr dos anos, pela defesa e pelo conhecimento da história, pelo saber e pela pesquisa.
Não o faço pela praxe desta solenidade. Relembro comovidamente, João Rebelo Correa, André Vidal de Araújo, Justino Marcos da Silva, Moacyr de Souza Alves, André de Menezes Jobim, Rodolpho Guimarães Valle, Ildefonso Pinheiro, com alguns dos quais privei intimamente, dentro e fora desta Casa. Alguns puderam dar de si, como realmente desejavam, outra forma atropelados pela agressão da morte, quando ainda o vigor da inteligência e do dinamismo do vigor físico, muito lhes favorecia. De todos sentimos a ausência, como também nos ressentimos da falta de Agnello Bittencourt, Vivaldo Lima, Antonio Bittencourt, Anísio Jobim e tantas que o tempo do passado arrebatou até mesmo sem o contato direto com a nossa geração.
A missão do homem e da instituição, principalmente como esta, é a de preservar a sua memória, ainda que não seja permitido preservar a da sua comunidade, da cidade, do seu povo por inteiro, como está por acontecer conosco. A esta missão o Instituto não abrirá mão. A esta tarefa não nos furtaremos.
Assim, reconhecemos nesta festa luminar, 63 anos depois do 1917, quando Manaus era clama, e praticamente uma só família, a importância da presença do Instituto na sua paisagem social e cultural e cremos mesmo que a trajetória que ele desenvolveu de lá aqui, foi muito mais significativa, porque constituída por obras próprias que permanecem com o apagar das vidas humanas que o fizeram e no ressoar peculiar de sua paredes, onde a tradição, a honra, a sabedoria, a vida eterna tem lugar reservado, poltrona especial, perenidade.
Os ecos desta sabedoria, desta inteligência, desta tradição histórica, por nós e por todos que hão de nos suceder nesta Casa, serão perpetuados como sustentáculo de sua própria existência, em respeito aos sagrados ideais que moveram os criadores deste sodalício.
Bem haja que assim reconheça as verdades da história, e veja nesta Casa a verdadeira consagração do passado e o repositório do presente que há de ser história no futuro.
Bem iluminados os que fizeram e nos ofertaram esta Casa. Benditos e benditos sem todos.
Novos Tempos na Arte
120 anos são passados. Um sonho, lançar a pedra fundamental deste templo, edificá-lo para o povo como símbolo das artes, símbolo das luzes.
Dar consecução ao sonho é fazê-lo como ideal de vida. Eduardo Ribeiro o fez, lançando o teatro Amazonas para o mundo, encravado na selva, recortado de rios, cercado de ilusões e fantasias.
Nos anos que vieram, em muitos deles o silencio, o quase abandono. Os ritmos e a dança, as artes, quedavam ante a pobreza material ou ante a fraqueza dos espíritos.
Novos tempos. Outros sonhos. Fazê-los esperança e delas edificar realizações é o desafio.
Restaurá-lo largo desafio de horas outras, foi vencido.
Dar-lhe vida era o que se impunha. Tratá-lo com amor, cuidar dele. É o que se faz.
Sonhar o novo sonho de agora e fazer dele um ideal e o do ideal um símbolo e do símbolo a luz do construir é o que se dá nesta manhã morena, abençoada, quase santa pela mística que reveste a realização dos grandes ideais.
Fazer desta hora a verdade do sonho, senhor Governador, foi unir, reunir e novamente reunir o sonho, a esperança, o símbolo, o amor, o ideal e a dedicação de pessoas muitas, as quais homenageio com carinho através de Inês Daou, Cleia Ianuzi, Roberto Gomes, que tomaram sobre os ombros a responsabilidade de vencer os obstáculos para que esta hora se fizesse.
O maestro – gênio reconhecido e proclamado que acolheu o convite para dirigir a orquestra, aos músicos, quase duas centenas que vislumbraram na nova missão quem sabe também a realização de um ideal que acalentavam.
De mim, só o coração pode falar… e para não ser traído, deixo no texto escrito, a mensagem que me cumpre, neste momento.
A Vossa Excelência senhor governador, desejo dizer-lhe que o que todos fizemos, foi cuidar do sonho, da esperança e do ideal que nutre a decisão dos tempos de agora: lançar a orquestra Amazonas Filarmônica, que em breve será entregue ao povo como símbolo das artes, símbolo da luzes, uma das grandes razões de ser do seu governo.
A hora que vivemos será história e nos dias que hão de vir ainda soarão os acordes deste instante e o Teatro Amazonas, encravado na selva, recortado de rios pela Orquestra e pelo ideal que hoje se confirma, será de mais luz.
Permita-me um gesto de mais amizade e reconhecimento público em nome dos jovens e do futuro: a batuta que é a sua como símbolo maior deste dia e da concretização do sonho que é seu e de todo o povo amazonense.
Discurso proferido pelo Secretário de Cultura e Estudos Amazônicos Sr. Robério dos Santos Pereira Braga, em 19 de setembro de 1997, no 1º ensaio da Amazonas Filarmônico.