Homenagem a André Araújo
As datas históricas e mestres devem ser festejadas e os heróis sempre lembrados para que o exemplo de honra e amor passe às gerações, dispondo todos ao trabalho pela cultura e pela Pátria.
AUTORIDADES
Esta é uma data histórica para a vida cultural do Amazonas, data de rememorarmos as figuras criadoras do ideal deste Templo, garantidoras do seu engrandecimento, representantes do mais puro e profundo valor intelectual e social de nossa terra.
Não faz muito e, em uma noite como esta, nos meus 21 anos, assumia a Poltrona de nº 40, do General JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES em festa que me tocou sensivelmente, quando ouvi a palavra de recepção, confiança, e fé do então Orador Oficial, Mestre RODOLPHO VALLE, hoje convocado para missão mais administrativa neste Silogeu. Foi no 25 de março de 73, noite em que o Instituto, pela primeira vez prestava de público, homenagem “in memoriam”, a vultos do mundo cultural de Manaus. Todos estávamos sob a veneranda Presidência do Des. JOÃO REBELO CORRÊA, luz dirigente desta Casa.
Não faz muito e tivemos que, por forças dos fatos materiais, prestar homenagem póstuma ao incansável JOÃO CORRÊA, figura ímpar em bondade e dedicação ao Instituto, já então sob a luminar Presidência do Desembargador ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO em cujo dinamismo confiávamos para a maior contribuição do IGHA à juventude amazonense, na sua formação cultural mais plena e pura, pela perfeição da pesquisa histórica.
Não faz muito e, também, como o peito ardendo de saudade, prestávamos, em sessão sóbria, merecida homenagem de 30º dia de desprendimento material, ao incansável Mestre ANDRÉ ARAÚJO que, em sua 2ª gestão, na Presidência desta Casa de Memória, imprimiu novo ritmo, nova mentalidade e, entre os muitos resultados positivos de sua liderança, alcançou a abertura do diálogo com os estudantes através de Cursos e conferências, complementando a ação inovadora do Desembargador-Bondade, que foi JOÃO CORREA.
Não faz muito, com o encaminhamento de Agnello para os paramos celestiais, nos vimos em nova contingência semelhante – Sessão de Saudade para o fundador deste Instituto, o último que em meio de nós até então permanência, contribuindo diuturnamente para a nossa História.
E há coincidências – O Orador Oficial das homenagens a JOÃO CORREA, ANDRÉ e desta noite, fio NEWTON SABBÁ GUIMARÃES, juiz e amigo dos dois Desembargadores. A beleza de Oração pela forma e pelo sentimento nelas expressos, entretanto, não é coincidência, é saber, cultura, muito saber.
Hoje, nesta festa de luzes espirituais as mais fortes, o Instituto outorga o 2º título de Sócio Grande Benemérito e o faz ao Mestre ANDRÉ, “in memoriam” pela matéria, mas o distribui em preces conjuntas, dos nossos mais elevados desejos de fé e progresso espirituais, aquele que, no IGHA, na Academia, na mais Alta Corte de Justiça se impôs pelo saber e bondade e marcou época na vida cabocla.
Outra coincidência é a nossa palavra nesta festa, provocada por aquilo que se poderia chamar de destino. Estamos de pé e nos parece ver frente a nós, elevados em saber, luzes e magnanimidade, os Mestres que daqui se foram, mas que mantêm viva a chama-sustentáculo do Instituto. Todos nos olham e reclamam paciência, trabalho, estudo, confiança, amizade e compreensão. Todos merecem nossos esforços, e principalmente JOÃO CORREA, ANDRÉ e AGNELLO que mesmo não tendo sido os primeiros a se encaminharem para o superior estágio, os primeiros a partirem desta Casa, deixaram em nós, o vácuo da saudade profunda.
Desculpem. Não nos cabia deitar estas palavras, mas a emoção da hora, a grandeza da festa, a beleza daquelas almas puras que nos acompanham, impediram o silêncio que se fazia devido, pois que a oração de aniversário e homenagem aos sócios falecidos foi a do Orador Oficial.
A missão de receber como paraninfo o Professor Doutor JAYME PEREIRA, na inauguração da Poltrona de nº 6, nomeada pelo Desembargador ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO, é a que nos foi confiada pela Presidência de Ildefonso Pinheiro, comandante sábio e atual da nossa instituição.
“Dirão alguns ser fácil falar de um homem de inteligência, outros dirão, que é difícil. No meu entender é muitas vezes perigoso”. (J.A.C.S.)
Entre, sente-se em meio de nós, conviva conosco, reparta o pão da boa fé, da cultura, da beleza espiritual. Renegue as maldades do mundo. Faça-se poeta, historiador, cientista, – esqueça as maldades porque esta é a Casa da Luz, do Amor, da Verdade, do Saber e da Benquerença. Todos aqui já ingressados representam uma faísca de toda a verdade da cultura amazônica e a sua, aumentará a claridade que se há de fazer pelos caminhos dos estudiosos da Geografia e História. O aqui chegar é, antes de tudo, uma vitória sem batalhas, um hastear de bandeiras sem resquícios de luta, sem manchas a recordar. O aqui chegar, ilustre recipiendário, é o florescer de nova idade, é o ressurgir do entusiasmo da mais terna mocidade, é o resplandecer mais completo dos seus estudos de todas as épocas. É o crescer para si, para nós, para a sociedade amazonense. É o estar preparado para distribuir, e distribuir bem, os frutos colhidos no folhear constante das obras rara e no assimilar dos conceitos mais complexos. O aqui chegar, não é, entretanto, o final de tudo, a culminância para o acomodamento. É, em verdade, o iniciar de uma longa jornada de novos estudos, de novos encontros e desencontros, a grande hora de ceder valores par mais valorizar a instituição e seus pares.
Não és Mestre, não somos nós, mas seremos como organismo, a maior força educadora e aprimoradora de intelectos de nosso Estado, porque a rota tomada em 1917 vem sendo perseguida sem grandes distorções. E é para esta caminhada que foste convocado, pelo saber, pela experiência, pelo dinamismo, com que tens atuado na vida pública.
Erguer-te para o meio de nós foi agigantar-nos.
A formação de filosofia clássica, teologia, psicologia, jornalismo, letras jurídicas que carregas, te credencia a ocupar a Poltrona de ANDRÉ ARAÚJO e a peça que hoje inaugurastes neste Instituto rememorado a vida do Desembargador-Patrono, em análise serena e severa, pura e científica, representa a prova provada da Justiça da eleição que te iniciou neste sodalício.
ANDRÉ, misto de homem-santo, puro nos princípios, dedicado nas ações, caridoso na vida toda, bem merecia um estudo desta natureza. Faltava-nos, é bem verdade, um raciocínio mais estudado, uma análise mais pensada da vida e da obra do padrinho das crianças de São Sebastião, do amigo e humilde servo de Deus, um tratamento diferente na forma, dos comumente dedicados aos patronos de poltronas acadêmicas. Não se ouviu uma repetição biográfica, um comentar de obras literárias publicadas, um deitar elogios sem fim, mas, um pronunciamento elevado, uma pesquisa científica encarnada na figura mística do grande ANDRÉ.
Como é costume do paraninfo oferecer palavras de conselho, eu o faço lembrando-te que a cultura humana é uma estrutura maciça que descansa firmemente sobre a base cuja largura lhe dá a variedade do meio ambiente oferecido pelo mundo e cuja longitude é a súmula de toda a difusão através da história da humanidade. A altura a que se eleva é variável e é medida por essa imponderável de inteligência, temperamento e gênio que possui em grau diferente, cada tribo, raça ou nação e cada homem, em si. O Bem e o Belo ilustrado Doutor devem ser suas metas, assim porque, suas tarefas terão sempre base cristã e seus ensinamentos serão eternas poesias, do berço ao túmulo das civilizações.
Lancemos as nossas vistas, agora, ao longo do passado, sobre as vastas regiões do mundo intelectual. Lá veremos os monumentos construídos durante a seqüência dos tempos, pelos trabalhos intelectuais e sucessivas da humanidade; monumento solene no qual cada século, cada idade, cada povo e cada homem colocou uma coluna, desbastou uma pedra; monumento que dá a imaginação pela idéia dos trabalhos realizados a idéia dos trabalhos a vir; monumento fantástico, sempre grandioso, no qual tudo deve ficar na sua essência e forma como nascimento da verdade inalterável e imortal que o homem aspirou, abraçou e realizou, tornando-a acessível a toda a humanidade. Lá veremos a Catedral de Milão, o zimbório de São Pedro, as pirâmides do Egito, perenes e prodigiosos monumentos cujas proteções indicam a surpreendente magnificência, refletindo-a num plano iluminado, todos, erguidos pela fé de seus batalhadores, a mesma que nos guia neste Sodalício, e à qual vens te incorporar, JAYME PEREIRA.
Digo que, como todos aqui, não foste convocado para os ócios olímpios dos eleitos, mas para o esforço de novas semeaduras. Não ingressas hoje em uma sociedade de brilhos sociais e historinhas frívolas com certos ares sentimentais, aqui o culto que professamos é o da virtude fortificada pela inteligência e pelos deveres ditados segundo as experiências dos tempos passados. Podes ter a certeza de que aqui encontrarás trabalho, bravura, persistência, honradez e hospitalidade.
Mas, no banquete cultural desta noite, o grande homenageado é ANDRÉ ARAÚJO e, para ele, repito Coelho Neto – aquele que acendesse uma vela para andar ao sol daria cópia de estulto, senão louco. Não terei sido que o primeiro a incorrer em tal ridículo, inflamando elogios pálidos diante da virtude esplêndida, porque ANDRÉ não foi um homem foi uma idade, uma antecipação do futuro.
Discurso como orador oficial do IGHA, em solenidade de homenagem ao desembargador André Vidal de Araújo.