1798. Junho
Nasce em Belém a 23 daquele mês, João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, filho do poeta Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha e D. Rosalina Espinosa Folkman Tenreiro Aranha.
Seu pai nasceu em Barcelos em 4 de setembro de 1769 , sendo filho de Raymundo de Figueiredo Tenreiro Aranha e Thereza Joaquina Aranha, e foi cuidado e educado pelo seu padrinho, o vigário geral João Monteiro Noronha que o fez estudar em Belém no Convento de Santo Antonio e com os padres mercenários. Foi poeta e por serviços prestados foi diretor dos índios Oeiras e a seguir escrivão da alfândega do Pará e escrivão da mesa grande, nomeado pelo governador Martinho de Souza e Albuquerque. Escreveu intensamente como Melizo, 1879; Ode Horaciana; Soneto, 1793; Oração, 1807; Soneto a mameluca Maria Bárbara;Obras Poéticas, publicação póstuma em 1850.
Foi escrivão da Alfândega, vitalício, em Belém, falecendo a 11 de novembro de 181, quando o filho tinha apenas 13 anos de idade. A data é registrada na obra de Agnello Bittencourt, que diverge daquela lançada por Sacramento Blake, no seu dicionário de 1883, que teria sido em 11 de maio do mesmo ano.
Sua mãe era neta do conhecido Bento Maciel Parente, intimamente vinculado a história colonial maranhense e seu avô paterno foi capitão mor de Gurupá e Provedor da Fazenda Real do Pará.
Seus pais moravam no sítio Memória, nas cercanias de Belém, lugar que dava ao menino João Baptista, o apelido pelo qual ficara conhecido no lugar – João da Memória. Aos 14 anos prestou exames de Matemática com pleno sucesso e pouco depois começou a trabalhar como escrivão a bordo de uma escuna, cumprindo sete viagens ao Rio de Janeiro, inclusive, em cuja ocasião apresentou-se ao governo para suceder ao pai no cargo que exercera no Pará, na forma do que indicava a legislação da época.
Sem êxito no intento, passou a exercer o cargo de Amanuense da Fazenda Real, em Belém, a partir de 1815. Em 1818 alistou-se para compor o esquadrão de Cavalaria organizado pelo conde Vila Flor, na condição de Capitão-Mor da Capitania, chegando a sargento e a Alferes, patente que lhe foi confirmada por D João VI. Deixou o Esquadrão pouco depois, entusiasmado com os movimentos libertários de 1817 em Pernambuco e 1821 no Porto, em Portugal. Aceitou então o cargo de Escriturário da Junta da Fazenda.
Escrevendo no Periódico Paraense com idéias a favor do Brasil e contrária aos interesses portugueses, em 1823 escapou de ser preso por interferência de amigos pessoais que interferiram diretamente junto ao governo Villaça, conseguindo fugir para São Luiz do Maranhão, visto que defendia abertamente e com constância o reconhecimento da Independência e a aclamação de D Pedro I, por todo o Pará.
Com o regime implantado no Pará a contar de 15 de agosto de1823 foi chamado a exercer seu antigo lugar de Almoxarife do Hospital e encarregado por abaixo-assinado popular e pelo Senado da Câmara de Belém, para representar aquela Província no Rio de Janeiro e dar a noticia da adesão do Pará à Independência do Brasil, diretamente a D Pedro I.
Em 1824 era a partir de 16 de novembro, Escrivão da Mesa Grande da Alfândega, depois Administrador da Mesa da Estiva, nele permanecendo até 1836, integrando também algumas comissões especiais na área de comércio, indústria e navegação.
Em 1832 teve que se retirar para os Estados Unidos e depois retornando ao Rio de Janeiro, para fugir a ação dos cabanos e ao desmedido papel militar do Comandante das Armas e Presidente, General Francisco Soares de Souza e Andréa, retornando em 1834 quando se posicionou contrário aos responsáveis pelo assassinato do presidente Lobo, por questões de interesse político local, depois tendo que fugir para o Maranhão.
Em março de 1838 foi demitido do cargo de Inspetor da Alfândega por ato do general Andréa e passou a ser perseguido para ser levado a prisão em março de 1838. Posto em liberdade em 19 de maio do mesmo ano, foi mandado para o Rio de Janeiro na charrua “Carioca” em 14 de julho,onde deveria responder a processo que nunca se realizou, sem tomar conhecimento de que ato da Regência o fizera novamente Inspetor da Alfândega do Pará.
Foi deputado provincial no Pará no período de 1840 a 1849, e novamente de 1856 a 1859. De 1848 a 1849 foi deputado a Assembléia Geral como representante do Pará cuidando principalmente de dois assuntos de grande relevância para o desenvolvimento da região: a criação da província do Amazonas e a navegação a vapor pelo rio Amazonas; conseguindo no primeiro projeto a adesão do marquês de Abrantes e no segundo, a simpatia da figura singular do barão de Mauá, que foi o criador e incorporador da Companhia de Navegação do Amazonas
Em 7 de novembro de 1849 fez a indicação parlamentar capaz de criar a província do Amazonas a partir da Comarca do Alto Amazonas É que reunia experiência e conhecimento das questões políticas, de comércio e navegação, quando desde 1828 integrara grupos de estudos destas matérias, como de igual modo o fizera em 1837 ao estudar a organização de empresa de navegação para o rio Amazonas por interesse do governo paraense, ou ainda em 1838 quando estimulou a Corte a examinar o mesmo assunto. Em 1840 insistiu no seu propósito aprovando a lei na Assembléia Provincial do Pará que concedia vantagens a companhia de navegação que explorasse o interior da região e em 1842 quando fez os estatutos de empresa do negociante Joaquim Francisco Danin que se interessava pelo comércio marítimo interior.
Foi professor, especializando-se em Contabilidade e Escrituração Mercantil, lecionando estas matérias no Liceu Paraense nomeado que fora em 11 de fevereiro de 1841, ali permanecendo até 1844. Em 1846, em razão de concurso publico foi nomeado para a cadeira de Geografia do mesmo Liceu. Já publicara Exposição que aos homens justos oferece, etc, no Maranhão em 1838, referindo todas as injustiças que sofrera de parte do presidente Andréa e tempos depois escreveu um livro sobre assunto no qual era especialista: Elementos de Comércio, publicado no Maranhão em 1872.
Criada a província do Amazonas em 5 de setembro de 1850, pela lei nº 528, a 7 de junho de 1851 foi nomeado presidente da província do Amazonas. Saindo de Belém no vapor de guerra Guapiassu chegou a Manaus em 27 de dezembro de 1851 e a 1º de janeiro de 1852, na sede da Câmara Municipal, em sessão solene instalou a Província e assumiu a sua presidência, tomando de logo providências administrativas de organização do governo, de exploração de rios interiores, regulamentação do ensino, fiscalização e arrecadação, catequese dos índios, criação de um núcleo de colonização. Pouco depois deslocou-se para a capital do Império, não só para exercer o mandato de Depoutado Geral como para explicar, de viva voz a situação da nova província brasileira, retornando a Belém e em seguida ao Rio de Janeiro, passando o governo a 27 de junho de 1852 ao vice-presidente Manoel Gomes Correa de Miranda. Sua viagem não logrou êxito, retornando a Belém onde permaneceu em razão de tratamento de saúde, ocasião em que recebeu a comunicação de sua exoneração a 31 de dezembro de 1852.
Candidato ao Senado do Império na vaga criada com a autonomia amazonense, nas eleições de 1853 disputou com Herculano Ferreira Penna e João Antonio de Miranda, ficando em terceiro lugar com 39 votos. Escolhido da lista tríplice pelo Imperador, Ferreira Penna era mesmo o candidato do governo e, ao mesmo tempo, presidente da província do Amazonas. Com o empenho de amigos e correligionários do Partido Conservador Tenreiro Aranha foi convidado a retornar ao cago de Inspetor do Tesouro provincial no Pará, mas pouco depois se demitiu, diante das ameaças de nova demissão de caráter político.
Doente,e afastado das lides políticas, possivelmente descrente e revoltado, enlouqueceu, falecendo em 19 de janeiro de 1861, quando de um incêndio que dominou sua modesta casa nos arredores de Belém.
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