O país inteiro deve reverenciar no dia de hoje, a figura de Getúlio Dornelles Vargas, questionada por tantos, levada aos mais profundos debates político-sociais, por si e por sua obra política, mas acima de tudo, comprometido com a história deste país que, de qualquer forma, nenhum extremista poderá deixar de atribuir ao homem e ao Presidente, méritos de reformas sociais que foram, à sua época, da maior importância, e que ainda hoje repercutem na vida do trabalhador brasileiro. O silêncio de Vargas 30 anos depois de provocado por cisão política em seu próprio governo deve servir para uma reflexão de todo o país, exatamente no momento em que grandes transformações podem acontecer na vida da nação geradas pelo quando sucessório e seus desdobramentos naturais, para o qual deve prevalecer, sem dúvida e para a felicidade de todos, os real interesse da Pátria.
Rememorar Vargas neste 24 de agosto é também rever o trabalhismo no Amazonas, pelo menos em uma das suas feições, aquela que originou todo o movimento a prol, do trabalhador, como certa feita declarou-me meu venerando pai, Lourenço da Silva Braga fundador e Tesoureiro do Partido Trabalhista do Amazonense – PTA – “criamos um partido para ser a voz do trabalhador de todas as classes, para exigir justiça social e interferir na gestão dos poderosos”.
O Partido Trabalhista Amazonense, que reuniu antes outros líderes de classe, o Comandante Luis Tirelli, Armando Faria da Cunha, Oscar Costa Rayol, Antonio Vasconcellos, Vivaldo Palma Lima, Francisco Cantano de Andrade, Lourenço da Silva Braga, David Benayo, Antonio Djard de Mendonça, Francisco Salles, José S. Cavalcanti, Jonas _____, Aristides Brasil.
Candidatos eleitos pelos trabalhistas – trabalhadores em 1934 foram Luis Tirelli e Alexandre Carvalho Leal – Deputados Federais.
Na verdade o gesto (ativo) do Presidente, ou mesmo debaixo da versão de assassinato (o ato) imposto à Nação brasileira naquele sombrio ano de 1954, levou a um estrarrecimento, uma estupefação das maiores já vistas neste país. De repente a pressão dos algozes sobre a figura presidencial, os ditamos partidários contrários ao trabalhismo de Vargas, sentiram – e devem ter sentido muito mais – anos depois, que passando por sobre o cadáver de Getúlio não fariam, como não fizeram, uma hegemonia diferente no governo nacional, porque lhes faltava até liderança e capacidade de serem amados pelo povo, coragem e decisão cívicas para empreender campanhas favoráveis, de verdade, aos trabalhadores. Nem por sobre o seu cadáver mudaram o Brasil como ele mudou a partir de 1930. Ao contrário, a consternação dos brasileiros de todos os quadrantes foi tão grande que, na maioria dos casos, restou-lhes o silêncio, senão o soluço de suas consciências, porque o destemido gaúcho fez herói do seu povo até mesmo enfrentando os mistérios da morte. Agigantou-se o homem, eternizou-se o espírito, fortificou-se a obra, engrandeceu-se diante da Pátria (diante dos conceitos que pregou por toda a vida).
Ao recorremos à imprensa diária de Manaus, editada nos anos 50, verificamos a opinião do líder trabalhista ainda hoje resistente a todas as intempéries da carreira impôs, que é Plínio Ramos Coelho, à época jovem militante do trabalhismo, defensor de idéias e ideais que rompiam a política tradicional, disse ao Diário da Tarde (Mão, 24.08.1954, ano XVII, nº 5701), “A morte física de Vargas é, pelas suas causas, a ressurreição do povo (…) Vargas em espírito, em todo o território nacional, estará comandante”. De outro lado, a observação do então Secretario de Estado do Interior e Justiça, Dr. Armando Andrade de Menezes, no mesmo jornal, demonstra que as oposições de então, reconheciam a surpresa, o impacto do fato, e não podiam deixar de proclamar méritos do Presidente. Disse, o secretário “Todos esperávamos dos acontecimentos desenrolados na capital federal, qualquer outro resultado que não esse. Porque, esse, realmente, confrange o coração, não seriamos nós, nesta oportunidade, ainda que considerá-lo um grande estadista”.
O país parou e chorou. E depois deste silêncio de 30 anos, onde a história ocupou lugar diferente na vida nacional, com rumos, sucessos e insucessos na marcha do tempo, inexorável marcha para o indefinido, incerto, impossível às vezes, o que deu a Nação e o que ganhamos todos, com Vargas e sem ele. Quais as lições da sua vida e da sua morte? O que restou do trabalhismo que pregava e das mensagens do operariado que partiam de todo o Brasil e que ele incorporou aos seus discursos.
Discutir Vargas é preciso, porque é também discutir o Brasil do passado de agora e do futuro.
Robério Braga
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