ROBÉRIO BRAGA
No ___ de 1911/1920 Manaus vivia a expectativa da tendência de baixa crescente no mercado da borracha. Todos os esforços das classes representativas se destinavam a estimular o setor produtivo há hévea, enquanto no setor cultural movimentos diversos provocaram a fundação do Instituto Geográfico e Histórico (1917) e da Academia Amazonense de Letras (1920). Não era previsível, ainda, o esvaziamento da cidade e a quebra geral da economia.
Neste mesmo período a Associação Comercial do Amazonas, região efetivamente representativo da classe empresarial, fundada em 1871, iniciou os estudos de plantio de seringueiras, “em terreno entre o atual Boulevard Amazonas (1971) e a rua de José Cláudio Mesquita, onde corriam trilhos de bondes, com a plantação de mais de cem seringueiras”, sob o comando do Comendador José Cláudio Mesquita, antigo presidente da entidade e um incentivador dos estudos de cultivo e tratamento da espécie. Hoje referencias, não confirmadas documentalmente, de que a área de terras lhe pertencia.
Para maior nimo do empreendimento e com apoio legislativo, foi definido que o dia 24 de junho, seria considerado especialmente com o Dia da Seringueira, e, naquele aprazível recanto, seria feito regularmente o plantio solene da árvore.
Desta forma fio constituído o Campo Experimental do Seringal Miri que permaneceu mesmo após a morte do ilustre comendador português em 6 de novembro de 1923.
A atividade agrícola era pujante. Acreditava-se muito na economia advinda do solo produtivo. De tal sorte que tínhamos a Escola de Agronomia, a nível superior, funcionando regularmente inclusive com edição de sua Revista Agronômica, a Sociedade Amazonense de Agricultura, no Campo Experimental da Cachoeira Grande, e no interior próximo a Manaus, fazendas com produção de gado leiteiro e comercialização na capital através de navios especialmente construídos ou adaptados para tanto.
Em 1937 o Seringal era belíssimo recanto, e todos reclamavam que nenhuma homenagem se havia prestado ao seu criador, como relata o Coronel Joaquim Vidal Pessoa, em artigo especial publicado na Revista Agronômica de dezembro.
“Está ali, num quadrado de alguns metros, todo um programa, toda uma lição que deve ser praticada durante muitos anos…
Procurei com o olhar alguma coisa que dissesse do nosso reconhecimento, nada vi. Mas o que importa? O teu busto de bronze não diz tanto da tua vida, como essas seringueiras que se erguem esbeltas para o azul do firmamento, em procura de tua alma imortal…
Em 1939, nos documentos oficiais de interesse da agronomia amazonense era amplamente discutida a encampaão, pelo governo, com apoio do Ministro da Agricultura, dos campos experimentais do Seringal Miri e da Cachoeira Grande, especialmente destinados preparação de trabalhadores que se acreditava pudessem, efetivamente treinados, dinamizar o processo produtivo da borracha. Informações orais dão conta da transferência para o Estado. E tal fato se confirma com a criação da Escola de Seringueiros José Cláudio Mesquita, instalada em 19 de abril de 1943, reafirmando em 1944 quando já integrava a estrutura administrativa do Estado, então sob a administração do Interventor Álvaro Maia, como parte do Serviço de Fomento Agrícola, dirigido pelo dr. Admar Thuri que “o transformou numa Escola de experiência de 1 tex, sangria e plantações de seringueiras…”, conforme anuncia o interventor federal em seu Relatório publicado pela Imprensa Pública, referente ao período de 1944-1945, fls. 132.
A Escola era dirigida pelo Agrônomo Lourenço Faria de Melo que explicava o seu funcionamento,
“A escola destina-se a ministrar conhecimentos sobre o corte no Oriente, e o preparo da borracha SMOKED SHEETS, comparações para demonstrar a vantagem do corte oriental…” (idem, fls. 132)
Para conhecer o desenvolvimento do projeto escolar 1 esteve a Comissão Brasileiro-Americano de ____ Alimentícios, em inspeção oficial, em 1944, levada pelo chefe de gabinete do governo estadual, dr. Américo Ruivo.
As dificuldades da população cresciam. Os mecanismos públicos de assistência social tiveram que ser ativados de forma domica e figuras de ___ como André Araújo e Helena Cidade de Araújo se expuseram na tarefa de servir, ora na organização de escolas para menores, ora atenção a segmentos da sociedade que enfrentavam muitas adversidades. As viúvas e lavadeiras receberam assim várias atenções especiais do governo, e uma delas foi a constituição da Vila Assistencial da Praça da Liberdade em área ___ ao Seringal, no prolongamento da pista em direção ao chamado Gi___, com casas de madeira entregues as viúvas, quase todas integrantes da comunidade negra do bairro.
Nelas viveram por muitos anos Antônio dos Anjos, Marcelira (Maru), Antônio Manbeca, Eulália, e outras mais, a protegeram como anjos da guarda, o seringal que sempre recebia atenções e cuidados, compunha a paisagem e representava toda a riqueza do lugar.
Ali se concentravam movimentos culturais de relevância. Religiosidade afro, folclore representativo, festejos de Santo Antonio, São Benedito e São João, cong de cultos, terreiro, centros religiosos de todos os matizes da cultura afro-brasileira, inclusive por muitos anos e até hoje o terreiro de Maria Estrela que morava com Antônia Lobão, depois transferido para D. Joana Papagaio, a seguir sob as ordens de mãe Margarida e nos dias atuais com Ribamar. Joana era a mãe Margarida conhecida tacacazeira Vitória. A área do batuque 1 “no tambor” como os filhos do lugar ainda chamam, era pelos fundos do seringal, que parece compunha a magia. Pouco mais adiante estava o campo de futebol do “mestre Duca Brito”, verdadeira escola de craques, como representação da arte do jogo inglês que balanou sobre novo ritmo nos pés brasileiros, especialmente negros.
Durante muitos anos ficou ali, intacto, a servir mais precisamente população do bairro, por onde passaram bondes dos Bilhares, Entroncamento e Flores, mas por onde não deram a graça da presença os primeiros ônibus construídos em Manaus em madeira e flandre, janelas decoradas e largas, bancos altos, tipo Zepelin. Foi ali, na frente da Praça da Liberdade, por longos anos, o curral do boi-bumbá mais temido na Manaus do passado até os anos 70, o Mina de Ouro, antes da taberna do “seu Al___” conhecido comerciante da área, da cada do velho Tude, do sitio de Maria Wanderley, do Hospital de isolamento “Chapost Prevost”, este já pelos fundos da igreja de São Geraldo que quase dá nome ao bairro todo.
O Mina de Ouro era a principal brincadeira da comunidade, saindo pelas ruas com fachos de fogo, danando nas casas, enfrentando os outros bois, era muito bem confeccionado pelo velho Elias e depois pelo conhecido Lelco do Pico das Águas. Seu primeiro “dono” foi o conhecido Cepetiba, que o transferiu ao Cláudio Coelho o técnico de futebol do Rio Negro e finalmente o José Serra, conhecido árbitro de futebol e figura carismática na comunidade negra.
Esta mesma área, em 1979, ao tempo do governo José Lindoso, foi transformada em reserva fundiária estadual pelo Decreto nº 4590, de 18 de junho de 1979, atendendo Exposição de Motivos que apresentei ao Conselho do Patrimônio Histórico, do qual era Secretário, sendo presidente o Vice-Governador Paulo Pinto Nery, como passo inicial para a implantação do Museu do Seringueiro que seria efetivado pela referida Comissão e administrado pela EMAMTUR e Fundação Cultual, cujo projeto, daquele tempo, foi inteiramente desenvolvido.
O levantamento feito em 1980 definiu como área do Seringal, suprimindo as casas edificadas para famílias pobres e antes referidas, ainda existentes, um lote de 3.397, 8 m2, regularizando-se duas vias nas extremidades, segunda delas de 8,30 m de largura. Foram plotadas todas as espécies em condição de serem aproveitadas e as que deveriam ser eliminadas. A área estava livre. Fotos da época do levantamento demonstram o fato, do que são testemunhas pelo trabalho ali realizado, o então vice Governador Paulo Pinto Nery, o autor destas linhas, o senhor Bento Brasil (desenhista do projeto), Edmilson Rosas que representava a EMAMTUR no projeto, Vera Lúcia Ferreira, museologa e autora dos estudos técnicos e o engenheiro da SUPLAN Rubem Carlos do Lago Araújo que fez os orçamentos das obas civis. Não havia invasões no lote do seringal.
Feito o levantamento topográfico e a planta de situação, constante dos estudos técnicos, o projeto fio aprovado pelo Conselho inclusive com alocação de recursos e definição de apoio empresarial da firma COMPENSA LTDA, sendo inclusive concluído o projeto museográfico e levantamento do material referencial a ser usado. O orçamento do barracão (sede do museu) foi efetivado pela SUPLAN, órgão oficial do governo do Estado, em 19 de março de 1980 e somava Cr$ 245.759,53 e o tapiri de defumação custaria Cr$ 8.148,89. Os painéis fotográficos a serem usados no Museu, reproduzidos pelo fotografo Hamilton Salgado, conforme orçamento apresentado, custariam Cr$ 100.000,00 em moldura de duratex e cedro.
Foi deste tempo o asfaltamento das áreas circundantes executado pela Prefeitura de Manaus já como parte do Projeto, definindo e delimitando de vez o lote, após o que impusemos ali uma cerca. Questões políticas não permitiram a efetivação do Museu que cumpria também ______ da Constituição do Estado que mandava ser procedida a edificação de um monumento ao seringueiro.
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