Não o conheci entre tantos com que privei na intimidade, ainda que bem mais velhos, exatamente quando o sol das manhãs parecia mais forte e pronto à minha espera para os folguedos juvenis.
Fui lê-lo entre os achados que fui recolhendo na ânsia quase incontida de compor uma modesta biblioteca de autores amazônicos e temas regionais a que, desde cedo, me dediquei. Depois, vi os seus mais próximos ganharem luz própria, avançarem e romperem o perigoso arco do silêncio.
E fui cascavilhar a sua trajetória. Primeiro, encontrei entre coisas bem guardadas o diploma de Sócio do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, jamais entregue, e depois artigos e escritos, discursos e versos, recolhendo opiniões, idéias e interpretações de seus contemporâneos.
Todos divisavam nele a virtude do culto a moral e a justiça. Poeta, escritor e filólogo, verdadeiro vernaculista e pedagogo, humilde e simples, que esteve de forma permanente atento ao trato do idioma.
O seu livro “Arranhões”, este mesmo que agora, anos depois, ao ensejo desta festa centenária vimos de dar a público em edição fac-símile, foi um revide de garras que provou aptidões, mas rechaçou maltratos à língua portuguesa, e, ainda mais, valendo-se de expressões castiças, quando de concurso para o magistério.
Filho das terras maranhenses que nos doou Maranhão Sobrinho, foi militar rigoroso, deputado estadual ao lado de Leopoldo Péres, Aristides Rocha, Severiano Nunes, Antóvila Mourão Vieira e Vivaldo Lima, diretor da Fazenda Pública do Estado, presidente da Sociedade Amazonense de Professores, professor do Instituto Benjamin Constant, Colégio Dom Bosco, Escola Técnica Solon de Lucena, onde conquistou a cátedra em conhecida disputa com o professor Martins Santana. Foi ainda serventuário da Justiça na 3a.vara cível e de comércio da comarca de Manaus.
Sua obra poética, reuniu em “Desengonço”, que reclama edição, para que possam ser do amplo conhecimento verdadeiras jóias poéticas como “O enlace de gênios”, “Saudação à Cruz” , “Advertência”, “Deusa Imortal”.
Na Academia Amazonense de Letras, onde chegou silencioso e firme, ocupou a cadeira de Machado de Assis, premiou a sua Revista com poesia, artigo literário e estudos do idioma. Límpido. Em solenidade, recebeu a Moacir Rosas para a posse na cadeira de Adolfo Caminha, chamando a atenção para as virtudes de escritor e destemperanças da vida, que o patrono representava.
Vinha insistindo, de há algum tempo, junto aos seus que me são próximos, que deveríamos oferecer, aos passageiros dos tempos de agora, não só esta edição nova de sua obra publicada, mas também a edição prima de suas poesias reunidas, como a de seus artigos esparsos.
E a festa de seu centenário veio apanhar-me em condições de realizar a empreitada. E o faço conhecendo as razões que excedem do fato social e histórico. A obra literária merece ser lida e, assim, ensinar. É como se o mestre permanecesse na sala de aula, com leveza e simplicidade.
Há aqui missão de governo que revoluciona na vida cultural, gesto de respeito à memória do autor e a obra literária, e carinho para com os seus. Acima de tudo, há justiça com o escritor.
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