Manaus, 28 de maio de 1977
Senhores,
Por estas linhas, que não serão poucas, vou deixar patente a irresponsabilidade para com os jovens e o Instituto, de quase toda a Diretoria atual deste Sodalício, quando da realização do III CURSO DE CONHECIMENTO REGIONAL, 13 a 28 deste mês, com base em Projeto apresentado em Diretoria, entregue a todos os membros para apreciação e devidamente aprovado, mostrando que:
1. As regra aprovadas pela Diretoria não foram, nem por ela, no seu todo, nem pelos sócios escolhidos para as conferencias (parte deles), cumpridas, prova de que deve continuar frutificando a improvisação.
2. Apenas na Sessão de 13 de maio a Diretoria esteve presente.
3. Durante as conferências, poucos diretores estiveram presente, alguns, com justificação para a sua ausência.
4. A Comissão Coordenadora só existiu no Projeto, fruto da indicação do Sr. Presidente, na tentativa de dar maior dinanismo ao Curso. Nunca reuniu, nem realizou trabalho conjunto. Por viagem de um de seus membros, justificada em sessão, por desnecessidade em razão de que tudo, neste tipo de trabalho, tem ficado sempre a meu encargo, sob pena de não ser realizado, na maioria das vezes.
5. Os Conferencistas, alguns deles, constituindo maioria simples, não entregaram nem com antecedência, nem posteriormente seus trabalhos, para a Coordenação.
6. Os Conferencistas, como mandava o Projeto, deveriam ter dado assistência na pesquisa dos estudantes, e não o fizeram, na maioria, não comparecendo nem ao Instituto após a reunião de sua conferência.
7. Tal situação ausência do conferencista, falta da conferencia para nortear a pesquisa, prejudicou os trabalhos apresentados.
8. As resistências da área administrativa do Instituto – principalmente da zeladoria, criando problemas na presença dos pesquisadores, prejudicou os trabalhos das equipes, inclusive, permanecendo com o Instituto fechado durante a tarde de domingos passado, quando vários estudantes vieram pesquisar e não puderam entrar no Instituto, contrariando nossa orientação, como se havia dito em Diretoria.
9. Por falta de condições – pessoal e material – a coordenadoria do Curso suspendeu a distribuição do Relatório da reunião de conferencia e reduziu a distribuição das palestras proferidas apenas ao grupo que iria pesquisar o referido assunto, tendo em vista a falta de apoio dos servidores do Instituto e a falta de recursos para utilização de xerox ou mimeografo, o que foi feito sob nossas expensas.
10. As pastas distribuídas para os cursistas, em número de 100, não atenderam a todos os participantes, e não mais foram distribuídos por falta de recursos financeiros e atuação dos setores competentes.
11. A funcionária da Secretaria do Instituto negou-se a vir participar da Secretaria de Coordenação do Curso, à noite, e durante o dia não realizou os serviços que lhe foram recomendados, a exceção da distribuição do convites, sobre o que, ainda assim, temos dúvida de sua regularidade.
12. Os bibliotecários não atenderam os jovens em horários de pesquisa, o que resultou na desarrumação da biblioteca, fato depois por eles reclamado, mas que não podia ser impedido porque a pesquisa tinha a ser feita e eles, como quase sempre, estavam ausentes do Instituto, apesar da gratificação que recebem. Apenas a Bibliotecária da Casa deu assistência, indicando os livros e ensinando os estudantes a fazerem a bibliografia, tecnicamente.
13. Apenas o Diretor Mateus da Silva, não envolvido na equipe de conferencistas nem na Coordenação, deu assistência às equipes, além deste Coordenador.
14. Na sessão de encerramento, presente todos os cursistas, seus familiares, professores, diretores de colégios, amigos dos cursistas, não compareceu nenhum outro diretor, até às 20:35 hs, sem nenhuma explicação que não a do Presidente que havia viajado, e deu por abertos os trabalhos, justificando que era norma, apenas o Coordenador, presidir estes trabalhos de encerramento do Curso, envergonhado da presença dos diretores de colégios e professores. Sem esperar, em evidente estado de embriagues alcoólico, chegou o Diretor Mateus da Silva, sentando-se no local reservado aos sócios e, em seguida, passando a interromper os trabalhos, prejudicando a ordem. Com a leitura do Relatório feito por este Coordenador, apresentado como sendo dos 3 membros da equipe coordenadora, o Dr. Mateus da Silva não concordou, passando a tecer considerações desagradáveis à organização do Curso, e agradáveis a um trabalho que não foi escolhido como melhor, por não ter atendido aos pressupostos enumerados na Resolução. Insistentemente, prejudicou a ordem, depois contra a situação altruística do Instituto, contra a sua moral de homem de cultura, contra a honra e a dignidade deste Sodalício. Fato lamentável, mas insistentemente repetido pelo sócio e Diretor. Apresentei as justificativas pretendidas pelo Diretor, que não foram aceitas. Para não ter que pedir que ele se retirasse, justifiquei e fiz outras colocações de agradecimentos a todos, até aos que nunca colaboraram, por questão de manter a aparência do Instituto, e dei por encerrados os trabalhos, Graças a Deus. ….
15. Lamento a atuação – ausência por descaso, por doença de uns, porque sempre são ausentes, outros Diretores, dos membros do, Instituto e creio que a mocidade não se desiludiu conosco, apenas passou a conhecer, se presentiu os fatos, algumas figuras “implutas” do nosso Estado, algumas personalidades das letras, alguns diretores, ausentes, talvez porque não concebam as realizações que temos feito, ou tenham raiva de não serem eles a fazer, porque senão nada seria realizado.
16. Lamento a viagem da última hora do Presidente, quem dá a ordem e a disciplina necessárias neste Instituto, a ausência por falta de memória do 1º Vice Presidente, a presença embriagada do 2º Vice Presidente, a ausência por doença do Secretario Geral, a ausência por motivo desconhecido do Secretário, a repartição da ausência do Tesoureiro, a ausência injustificada dos conferencistas.
17. Lamento que a mocidade de hoje esteja entregue a mãos tão irresponsáveis como a maioria dos nossos diretores, tão despreocupados, como eles, tão alheios à vida do Instituto e tão derrotistas, porque buscam sempre, alguns, afastar-se a organização das coisas alegando que eu vou aparecer demais, e chamando para si a realização, não levando a cabo ao final, esses feitos.
18. Lamento o descaso da Revista do Instituto, não mais vinda a público por total despreocupação dos seus principais encarregados.
19. Lamento a ação lévola para com esta Casa, de alguns sócios, e sua não participação na vida do IGHA.
20. Lamento que o passado tenha erguido tão importante patrimônio e hoje ele esteja entregue a alguns fofoqueiros e destruidores – sócios que não comparecem, diretores esquecidos, membros que não tem mais senso do ridículo, e instituição eternamente deficitária financeiramente.
21. Lamento que tenhamos motivado mais de 120 estudantes, professores, e alguns diretores de colégios para um final tão trágico, triste, e inesperado por todos, até por mim, que já tenho assistido outros fatos nesta Casa, por longo tempo.
22. Lamento a ausência, mais agradeço a presença dos estudantes interessados e eles levaram, de nós, dos conferencistas, dos livros que lhes serviram para pesquisa, deste Instituto, algum sentido de amor à História, de sentido da vida do passado, apesar de terem visto encerrar-se seu 15 dias de estudos, com as galhovas de uma bêbado, contra a minha resistência, um tanto infantil, porque deveria tê-lo mandado retirar-se do recinto, ou deixá-lo falando as moscas.
23. Espero que tais circunstâncias sejam esquecidas pelos jovens e não complementem seus conflitos interiores, mesmo porque nem todos são daquela espécie.
24. Desculpo-me com o futuro, porque passarei a ser, no Instituto, omisso a presenciar o seu novo esquecimento na sociedade, como há alguns anos atrás, e como diretor de freqüentar as reuniões, porque para elas fui eleito, e serei a prova testemunhal do novo arquivamento da nossa Revista, da desordem renovada da Biblioteca, do fechamento, mais uma vez, do Museu, do afastamento dos mais jovens desta Casa, do cerramento de suas portas e do florescer de novos mamoeiros, surgimento de caveiras de bichos, do enlamear dos seus salões, com a chuva das goteiras, com o recolhimento de nova parte de seu patrimônio para as bibliotecas particulares de alguns sócios.
25. Não ficarei calado, contudo, gritarei a todos os cantos, por todos os meios, enumerando os novos responsáveis pela nova desgraça que esta pairando sobre este Instituto, serei a testemunha que a história há de encontrar, vivo ou por esta Carta e outras que tenho em meus arquivos particulares, que não foram dada a lume, ou que só servem de anotações pessoais sobre diversos fatos nesta Casa, de muitos anos ou de pouco tempo, e que contarão a real história, não do Instituto, que apesar de tudo, é de glória, a de alguns de seu membros, citados e repetidos como mestres, tidos como responsáveis e importantes, honestos e puros, dedicados professores, mas apenas, ganhadores de dinheiro, enganadores dos leitores despreparados, fantasmas do presente e do passado que fizeram os nossos dias e que por certo, por que são importantes no nome, na fama ou na posição, continuaram como “beldades” nesta terra.
Lamento tudo, e muito mais que alguns anos de minha mocidade tenha dedicado a carregar estantes, limpar livros, arrumar museus, gastar meu dinheiro pessoal, vir ao Instituto, arrumá-lo, abri-lo, motivá-lo, por seus membros para a coletividade, abrir suas portas aos jovens, fazer cursos, seminários, conferencias, trazer pessoas importantes, mestres de museus, conseguir livros, filmes, e no fim, encerrar-me em tamanho desgosto e pressentir seu novo fechamento de portas, e, decididamente, deixá-lo chegar lá, para que o futuro possa fazer justiça, já eu a inveja do presente e as conversas de pé de ouvido dos politiqueiros de todos os recantos, esconde as ações verdadeiras, as verdadeiras obras.
Paciência, futuro, desculpem-me, se ainda deixei o que dizer, para nova oportunidade, inclusive dando nome a todos os envolvidos “a todos os bois” que pastam no campo da cultura amazonense.
Robério dos Santos Pereira Braga.
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